domingo, 22 de maio de 2011

Um Extra - Terrestre na Coreia














Enquanto espero pela partida do autocarro especial Seoul - Gyeongju, um Americano vem ter comigo e pergunta o habitual Where are you from. Só mesmo os Americanos para ter este à vontade todo e meter conversa com os outros. Vai com a familia no Autocarro especial  para Busan. O filho dá aulas de Inglês na Coreia há alguns meses e veio  visitá-lo.
- Como é viver na Coreia? - Pergunto ao filho, mais novo do que eu.
- É agradável, as pessoas são simpáticas.
 - Quase ninguém sabe falar Inglês.
- Não é bem assim, as pessoas é que são muito tímidas e não gostam nem  arriscam  falar Inglês.
É a primeira vez que visita Busan.
-Tem o maior centro comercial do mundo.
O meu autocarro sai as 8.00 em ponto. Os Coreanos são pontuais e têm um sistema de transportes muito alargado e eficaz. É fácil e barato viajar dentro da Coreia. Os autocarros e o metro de Seoul são uma pechincha. Por 1200 Wons ( 80 cêntimos!!!)  faz-se uma viagem de 10 Km em boas condições e  saídas regulares de 10 em 10 minutos.  A dificuldade maior é perceber o  albabeto e as pessoas, contude  existe habitualmente informação bilingue nos transportes e nas placas  que facilita bastante o entendimento. 
No autocarro viajam poucas pessoas. É destinado apenas a estrangeiros, além de mim e  de um casal ocidental, os restantes passageiros são Asiáticos. Numa das estações de servico  (continuo com muitas dificuldades em identificar os alimentos)  peço  castanhas recheadas com chocolate. A rapariga olha para mim muito surpreendida, não está habituada a ver Ocidentais. Os adultos tambem não, mas disfarçam melhor.
Gosto de ver a paisagem. Durante a viagem vou observando os contornos e as cores do país, há muitas montanhas (não muito altas) quase sempre cobertas de árvores. As cidades e algumas culturas de arroz distribuem-se pelos vales encaixados. O perfil das cidades é feio, muitos arranha-céus cinzentos no meio.  Seoul está rodeada de montanhas verdejantes, olha-se em volta, e quando não há arranha-céus a escondê-las é o que se vê.
Em Gyeongju ouço falar Português, é o casal Ocidental. São Brasileiros em viagem  pela Ásia e  chegaram da China há dois dias. Perguntam  se também ando em viagem pela Ásia.
- Não,  só vim mesmo à Coreia do Sul. 
 O fulano do Bangladesh julgou que eu  devia ser muito viajado.
Vir  à Coreia do Sul não faz de mim uma  pessoa viajada. É natural que quem me encontra aqui julgue que sim.  Para  visitar  este pais tão afastado e com vizinhos bastante mais atrativos, como a China e o Japão, é porque já  deve ter visitado muitos outros antes.  
As razões que me trouxeram  foram a segurança; ser um país pequeno (ligeiramente maior do que Portugal e por este motivo mais fácil de conhecer); a cultura muito antiga,   um carácter forte com  história rica e tradições culturais;   a possibilidade de fazer caminhadas e, o mais importante, encontrar a minha irma  daqui a alguns dias.  
Em Gyeongju faco o check-in no Hotel e apanho logo um autocarro para o templo de Bulguksa, o mais importante da Coreia do Sul. Há muitos autocarros estacionados à entrada do recinto, excursões, familias, turistas Coreanos. Os Ocidentais continuam a ser raros. Na subida até ao templo vendem-se nas barraquinhas tradicionais   artigos esotéricos, budas em miniatura, intrumentos musicais , sombrinhas coloridas, balões e comidas.
Vejo um  tacho ao lume, pergunto à vendedora:
- Beondegui?
- Beondegui - confirma a senhora  que insite em  mo  vender.
- Não, de maneira nenhuma - dou a entender por gestos e sons. Só quero confirmar se é o que eu julgo, um dos petiscos mais apreciados  no pais,  larvas de bichos-da-seda cozidas.
Aqui não se passa fome, vendem-se batatas panadas para serem temperadas com sal ou açúcar, espetadas de animais desconhecidos,  temperos  muito fortes, doces de arroz. 
 Nas estações de servico vendem-se outras iguarias variadas e desconhecidas  a preços acessiveis. Quem não é  esquisito pode comer muito e barato.
Os visitantes rumam ao templo com fé, bebem água das fontes existentes ao longo da subida por  colheres de plástico ali penduradas, dão badaladas num sino gigante debaixo de um pagode, descalçam - se e rezam no interior dos recintos, prendem papelinhos no tecto dos templos.  
Tal como os Portugueses  quando visitam os locais de culto, aqui  só varia a forma e o destinatário dessa devoção. Em portugal são os Santos ou Jesus Cristo, aqui  Buda e as suas reencarnações.
Continuo a  visita e subo mais um pouco até à  gruta de Seokguram que tem um Buda gigantesco escavado no interior. É a principal estátua de Buda  no país, construida em granito há mais de mil anos, na época de um glorioso reino Coreano, Silla, com capital em Gyeongju.  A região tem muitas reliquias desse passado e obras de arte das mais importantes da Coreia. Este Buda tem um estilo arquitectonico representativo desse periodo e  um simbolismo muito forte,  está virado para o Japão, pais que invadiu a Coreia varias vezes e com o qual há muitos ressentimentos históricos.
Subo    até ao cume da montanha e fico deslumbrado com a paisagem. Sucessivos rebordos montanhosos, todos eles cobertos de verde. Uma mulher nova em fato de treino chega depois de mim,  olha para o horizonte, levanta os braços e cruza as mãos. Assim fica em posição de contemplação e oração perante tamanha  beleza natural.
No regresso ao Hotel passo por  um supermercado,  a senhora  da caixa é muito sorridente e diz Thank You. É uma vergonha ainda nao saber dizer Obrigado em Coreano. Pergunto como se diz Obrigado.
 - Gamsa namida.
- Gamsa namida. - respondo.  A senhora sorri mais ainda.
De  noite vejo um grande espectáculo de Folclore.   Muitissimo bom. Com percussão  de tambores em  madeira, flautas de bambu, instrumentos de corda  e artistas vestidos de forma tradicional. Tocam e cantam muito bem. Por fim, há um espectáculo de dança acrobática acompanhada pela percussão dos tambores e das flautas. Forte e mágico, o som parece desencantado das florestas primitivas. Os bailarinos fazem acrobacias até ao cansaço total, os percussionistas e flautistas sincronizados num ritmo  acelerado, o público a bater palmas. Chama-se Arirang esta dança tradicional, vi de noite mais um pouco num canal Coreano. Os artistas são seleccionados quando crianças e aprendem durante muitos anos a ser bailarinos e musicos de Arirang. 























Beondegui












Gruta de Seokguram

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