domingo, 20 de janeiro de 2019

Lisboa



Os Távoras e o duque de Aveiro foram implicados no atentado ao rei D. José I. Toda a família Távora foi massacrada por ordem do impiedoso e crudelíssimo Marquês de Pombal – com a matriarca a ser supliciada em último lugar,  forçada a assistir previamente à morte dos queridos filhos.  O Duque de Aveiro exilou-se algures, escapando ao terrível destino.  Todos os  bens e terrenos foram confiscados pela coroa real com o juramento de neles “nunca mais crescer uma única planta”, sendo cobertos com sal. O episódio trágico ficou registado no nome do beco, “Chão Salgado”, em Belém, assinalado com uma discreta coluna de pedra.

Um fontanário protegido por grades de ferro num beco quadrado, ao fim de uma travessa recôndita, junto ao Cais do Sodré, fornecia água do aqueduto - não sei se ainda - aos habitantes dessa ruela de casas decrépitas, com a roupa a secar na cordas e varandas. Um sítio muito silencioso, pelo menos à noite.
A escadaria da rua da Emenda: lembrei-me do ditado “Pior o Soneto do que a Emenda”, que não tem nada a ver com o nome da rua, a caminho da travessa das Chagas e da rua de Santa Catarina. Subimos com toda a pedalada: o segredo está na forma como respiramos para não cansar tanto. 

O Chiado cheio de gente que começa a sair dos restaurantes para os bares do Bairro Alto, muitos turistas e polícia no largo de Camões.

A manhã de Domingo está com um sol magnífico, como tem que ser em Lisboa. Na Mouraria um Graffiti da Severa em pose e roupa de puta. As casas de fado que estão a ser encerradas por ordem dos novos residentes Franceses que apreciam o silêncio. Na Costa do Castelo um trocadilho na parede: “Gosta deste Castelo?”. Não sei, não o visitei. Uma questão que os habitantes locais saberão responder muito melhor do que eu, eles que assistiram a muitas transformações nos últimos anos.

O Botequim da Natália Correia -  julgo que ela era a proprietária -   local de tantas histórias e confidências,  relatadas por uma testemunha privilegiada, o Fernando Dacosta, no livro “O Botequim da Liberdade”. Retrato delicioso de Portugal e de Lisboa das últimas décadas do século XX, de  muitas personagens da política e da cultura Portuguesa contemporânea que o frequentaram, e da vida desta Açoriana excêntrica, sem papas na língua. Mulher apaixonada e apaixonante.

A missa está a acabar na igreja da Graça e sentamo-nos na esplanada junto ao busto da Sophia Andresen que vivia a poucos metros daqui, para quem a escrita restituía mundos e mitos perdidos. 

A judiaria de Alfama onde um museu da cultura Judaica está prestes a ser construído no largo de São Miguel. Pequenos arcos em ruelas estreitas que sustentavam as paredes das casas, laranjeiras carregadas de laranjas azedas, velhotas a vender ginjas, o cheiro das bifanas assadas na rua.
A nova praça das Cebolas e o estacionamento subterrâneo de luxo, o passeio ao longo do rio até ao cais do Sodré. A avenida interrompida ao trânsito por ser Domingo. Muitos turistas, músicos e artistas de rua Brasileiros, acabadinhos de chegar a Portugal.  O som da Bossa Nova nesta Lisboa com um cheirinho exótico e tropical.    
Memorial à infâmia sobre os Távoras e o Duque de Aveiro no Beco do Chão Salgado

Botequim da Natália Correia
                                       
                             "O Elevador da Glória,
                                  O elevador da Glória...", 
                               Rádio Macau, anos 80
                                        
                               Palácio de Queluz. Século XVIII