domingo, 27 de novembro de 2011

A Aldeia Mágica










O percurso está em obras entre Regoufe e Drave. Alguns trabalhadores da Junta de Freguesia de Regoufe andam com martelo pneumático e camião “Lagarta” a alargar (para mim, a destruir) o velho carreiro que une estas duas localidades. Dentro de semanas o percurso ficará a ser um estradão largo de terra batida entre as duas aldeias. O piso irregular, estreito, antigo, ladeado de muros de xisto com velhos sobreiros encostados é, para mim, um dos grandes atrativos do percurso. Infelizmente, talvez tenha sido a última vez que o vi assim. Isto é ” Se não acabar o dinheiro”, conforme me disseram os trabalhadores.

Ainda são visíveis em alguns troços as lages de xisto sulcadas pelas rodas dos carros de bois. Todas estas marcas desaparecerão e com elas mais alguns vestígios de atividades passadas que duraram centenas de anos. O percurso passará a ser mais um estradão de terra igual a tantos outros, depois virão as carrinhas, as motoquatros e outros veículos motorizados perturbar a paz do local. Perder-se-á o silêncio e a fruição de caminhar em vias estreitas e irregulares, o gozo que é ver Drave (a aldeia mágica) ao contornar uma curvinha, a aproximação entre os murinhos, sobreiros e pequenos regatos que escorrem para a Ribeira de Palhais. Alguns dos ribeiros serão provavelmente entubados ou simplesmente desviados.

Existe atualmente uma estrada alcatroada pela encumeada da serra que liga todas estas aldeolas de Arouca, não era necessário mais este acesso. Mas eu não sou de cá, talvez quem aqui viva esteja muito contente com as obras. No entanto, acho incrível a facilidade com que se decidem estas coisas e não se pensam em alternativas mais originais e surpreendentes do que construir mais estradas.

A aldeia está desabitada, o último casal que a habitou abandonou-a há cerca de 10 anos. Uma das casas foi doada aos escuteiros de Arouca que vêm para cá aos fins-de-semana.

A capela da aldeia tem uma placa que nos informa da realização de uma missa para 600 pessoas em 1946 mandada celebrar pela família Martins. No solar desta família foi realizado um banquete para todas essas pessoas nessa mesma data. Outra placa nos diz que o telefone e a Energia Solar foram inaugurados em 1993 por iniciativa de mais uns Martins de Drave.

A eira comunitária, os espigueiros, as casas fechadas, as portadas, as pontes em madeira construídas para passar para o outro lado do ribeiro, os prados, a profusão de água e pequenas cascatas, os sobreiros e pilriteiros em fruto nas margens, a total ausência de pessoas. Mágico, bucólico e paradisíaco.

No regresso ouviu-se novamente o barulho do martelo pneumático a quebrar o xisto e o camião a aplainar e deslocar terra.

Em Regoufe os animais domésticos deambulam pelas ruas. Dos currais chega o balir de ovelhas, as vacas Arouquesas cruzam-se com as pessoas sem se importunarem minimamente com a sua presença, cabras equilibradas nas encostas rochosas, galinhas nos degraus de um quintal, mais um rebanho de ovelhas que vem na mesma rua e volta para trás assustado com os estranhos que se lhes deparam no caminho.
Minas desativadas de Volfrâmio, Regoufe

Regoufe

Retrato de família, Regoufe


Regoufe


Ribeira de Palhais


O que está a ser feito ao velho caminho



O que resta ainda do velho caminho


Ribeira de Palhais

Quase em Drave

Drave
Drave




Drave

Drave



Regoufe
















domingo, 20 de novembro de 2011

Viagem à Pré - História













O parque de campismo do Merujal encontra-se fechado nesta época do ano. Quem quiser tomar um café antes de iniciar uma das caminhadas num dos percursos sinalizados que podem ser começados aqui, deve caminhar mais um pouco até Albergaria da Serra e ali tem uma tasquinha.

Já perdi a conta ao número de vezes que realizei o Percurso Viagem à Pré-História, PR 15 de Arouca. Continuo a achá-lo muito bonito e com a vantagem de estar próximo do Porto. Demoro 50 minutos de minha casa ao Merujal. O que é excelente, encontrar um ambiente tão diferente dos arredores do Porto.

Há três anos atrás, num fim-de-semana muito frio em que nevou bastante nos pontos mais altos, vim aqui ver a neve, fiquei com o carro retido, tive de sair com a ajuda dos bombeiros e só dois dias depois é que o fui buscar. É fantástico ter estas diferenças paisagísticas e climatéricas relativamente próximo de casa.

O percurso está bem sinalizado, discorre ao longo do Rio Caima, das suas pequenas cascatas e azenhas abandonadas junto a Albergaria da Serra. Depois entra-se numa zona mais planáltica e despida onde se encontram com frequência manadas de raça Arouquesa a pastar pachorrentamente nestes prados. Uma raça robusta, de cornos compridos e encurvados, mas que não assusta ninguém.

Nesta zona há umas bétulas solitárias que dão um aspecto nostálgico à serra.

A Portela da Anta e a Mamoa do Monte Calvo são dois monumentos funerários da idade do Bronze, II milénio antes de Cristo. Esta é uma região habitada desde a antiguidade e os seus vestígios, que fazem parte do percurso, são a razão de se chamar Viagem à Pré-História.

Na aproximação à aldeia da Castanheira começam a ser visíveis as famosas “Pedras Parideiras”, fenómeno geológico raro no planeta, na Europa só existe em Portugal (aqui) e na Ucrânia. O nome deve-se ao facto de pequenos nódulos de granito se soltaram da pedra mãe devido à erosão.

A pedreira principal encontra-se vedada por arame. Junto a esta aldeia é possível, no entanto, apanhar muitas pedras “paridas”.

Entre Castaheira e Cabaços a subida é íngreme, uma parte do percurso um pouco desgastante atendendo a que para trás já havíamos realizado aproximadamente 12 Km de caminhada. Lá no alto via-se a ria de Aveiro e o mar, as encostas montanhosas do vale do Caima a estenderem-se até às principais localidades, todas elas bem visíveis: São João da Madeira, Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis, Carregosa. Apesar das nuvens cinzentas a visibilidade era espantosa. Mais à frente avistou-se a Frecha da Mizarela – A cascata mais alta de Portugal e raios de sol a furar as nuvens.

Em certo passeio escolar à aldeia de Cabaços, alguns alunos rebaptizaram-na  com o nome de “Sheetcity”. As ruas estão pejadas de caganitas e bosta dos mais variados animais, o cheiro a estrume é constante. Os currais estão sempre abertos para os animais passearem à vontade pelas ruas estreitas da aldeia e regressarem quando bem entenderem. Em determinado cruzamento é já uma vista clássica ver os galos e os garnizés à solta.

Subitamente junto de uma velha casa uma aparição: uma senhora idosa encostada ao muro olha-nos lá do alto da rua. As suas vestes pretas, o céu cinzento por trás dela, as encostas montanhosas ao longe…parece algo sobrenatural.

Em Cabaços tomamos o PR 7, passamos junto à parede de escalada e seguimos pela encosta Nascente da Frecha, ao longe o mar e a ria. Este troço está cada vez mais despido, ainda há uns meses atrás haviam aqui bastantes pinheiros, agora estão quase todos cortados e esta parte está hoje mais agreste e tristonha.

Chegados à estrada regional seguimos ao longo do rio Caima. Ainda tivemos tempo para beber uma cervejola no Restaurante Snack-Bar Ponto Alto, seguir depois até ao miradouro da Frecha, retomar novamente o PR 7, ver uns cavalitos a pastar no parque de merendas do Merujal, antes de chegar às nossas viaturas estacionadas junto ao Parque de Campismo.

Rio Caima na aldeia de Albergaria da Serra

Albergaria da Serra

Rio Caima

Rio Caima

Rio Caima, planalto da Freita









Aldeia de Castanheira

Pedra Parideira

Castanheira

A ria e o mar ao longe















sábado, 5 de novembro de 2011

Caminhos do Sol Nascente (PR3 de Arouca)














Realizei o PR 3 de Arouca no sentido Moldes, Friães, Fuste, Bustelo. Já tinha realizado este percurso há quatro anos atrás no sentido inverso. As marcações estão em óptimo estado e a ponte que posteriormente ruiu,  junto de Vila Cova, já está recuperada, sendo possível atravessar o ribeiro.

Na aldeia de Fuste, o PR3 de Arouca cruza-se com o início do PR8, Na Rota do Ouro Negro, percurso linear que segue até Rio de Frades. Para algum pedestrianista mais ousado que um dia queira juntar uma parte deste PR3 com o PR8, fica aqui a sugestão de que é possível fazê-lo a partir de Fuste.

A única situação que gerou algum desnorte foi após a aldeia de Espinheiro, junto a um ribeiro com umas “alminhas” na margem, antes de Adaúfe. Não havia sinal com indicações por onde seguir. Instintivamente segui em frente até Adaúfe, voltei atrás à procura da sinalização, segui novamente até Adaúfe sem encontrar sinal. Uma senhora da aldeia informou-me que junto das “Alminhas” deveria ter virado à direita e caminhado ao longo do ribeiro até Bustelo. Regressei novamente para trás, segui as indicações da senhora e, de facto, nesse caminho, os sinais voltaram a aparecer.

Quem fizer este trajecto no mesmo sentido (Moldes, Friães, Fuste, Bustelo), deverá ter em atenção este DETALHE MUITO IMPORTANTE:  depois de passar na aldeia de Espinheiro na direcção de Bustelo, uns 2 Km mais adiante, deve virar à direita após  o ribeiro com umas “Alminhas”, mesmo antes de Adaúfe.  
Foi um trajecto bonito, com muita sombra (embora nesta altura do ano não faça diferença este aspecto), água, ribeiros, pequenas cascatas, moinhos abandonados. Muitos castanheiros com fruto. Em certos troços a terra estava pejada de ouriços,  sendo possível recolher muitas castanhas.

Nos pontos mais altos do percurso observei os contrafortes da Serra de Montemuro, banhados em tons de cinzento pelas nuvens escuras que ameaçavam chuva e por fimbrias de sol. Uma beleza austera e imponente. Gritei para ouvir o meu eco.
Espinheiro é uma aldeia com casas tradicionais recuperadas e um Restaurante Típico, Casa no Campo, com uma vista soberba para o Vale de Moldes e a Serra de Montemuro. A ideia de parar aqui, almoçar e seguir a caminhada é muito apetecível.

Quando passo no centro de Arouca (fica a caminho de Moldes, para quem vem do litoral), compro o Tradicional Pão de Ló. É mais barato comprá-lo aqui do que no El Corte Inglês de Gaia. Paro no café Arouquense, mesmo ao lado do Mosteiro, compro o pão e fruo um pouco do ambiente deste café tradicional.

A população de Arouca anda em pé de guerra com a Câmara Municipal devido ao plano de rebaixamento da Praça Brandão Vasconcelos e deslocamento do chafariz tradicional para um dos cantos da nova praça, em forma de anfiteatro. A configuração da actual praça tem mais de 100 anos.

Por que motivo o presidente da Câmara quer modificar algo que foi construído pelos antepassados Arouquenses e faz parte da imagem de marca do centro da Vila?

O povo indignou-se e com razão. Estas decisões súbitas de fazer alterações em centros históricos com uma beleza e identidade arquitectónicas fortes, sem consultar as respectivas populações, são irresponsáveis.

Fico contente que em Arouca as pessoas protestem contra esta decisão e torço para que vençam.



Quantas histórias terá para contar uma casa como esta?


Casa Assombrada?

Açafrão, Sim ou Não?


Ramadas

Igreja de Santa catarina, Fuste




Local onde se vira à direita, 2 Km após Espinheiro,  em direcção a Bustelo. Não vi sinalização neste ponto a indicar o desvio, contudo é isso que deve ser feito. Segue-se com o ribeiro à nossa direita e uns 150 metros mais à frente volta a aparecer a sinalização.




Igreja de Moldes