domingo, 31 de julho de 2016

Amsterdão



Na Dam uma mulher quase nua está a ser pintada por outra, mais velha. Cobra 1 € por uma fotografia com ela.
De um lado da praça, bandeiras palestinianas, do outro bandeiras israelitas. Duas manifestações pró e a favor. A polícia a cavalo mantem-se na expetativa. Nas traseiras do palácio real estão estacionados vários carros da polícia de intervenção. Nada acontece, tudo se mantem calmo e pacífico. Estátuas humanas, dart vader, fantoches, centenas de pessoas. Famílias e amigos em bicicleta.
 O European Pride decorre em Amsterdão. A cidade está cheia de cartazes alusivos ao festival. Nos hotéis, varandas e lojas da cidade há bandeiras arco-íris. Decorrem vários eventos ao longo destes dias: concertos, debates, espetáculos de rua, desfiles.
Uma mulher grávida atravessa a rua de mão dada com outra mulher, que no semáforo acaricia-lhe o rabo. Um cinquentão que veste apenas uns calções curtos, muito coloridos e berrantes, passa de bicicleta a toda a velocidade.
Em Amsterdão fuma-se marijuana nos coffee-shops. Há cerca de 90 na cidade. Cada qual pode vender apenas meio quilo de marijuana por dia, o que dá 450 quilos diários em toda a cidade. O único país do mundo onde é legal a produção de marijuana é o Uruguai. Então, onde de onde vêm os 450 kg diários de marijuana consumidos na cidade? Ninguém sabe.
A legalização do consumo nos anos 70 fez cair o número de dependentes em heroína, que passaram a consumir marijuana.
A Holanda é um dos países do mundo com menor consumo de marijuana. A maioria dos frequentadores dos coffee-shops são não holandeses.
 Na receção tenho que ler e assinar um documento que me dá conhecimento da proibição de fumar no interior do hotel. Estranho tanto rigor, nunca assinei nada do género. Mais tarde percebi a razão. Um sujeito quase adolescente, de barbicha, gorro e calças rasta entra no elevador, traz o cheiro da marijuana colado na roupa e um charro por acender na mão. Vai fumar lá para fora.
Percebi então a razão do rigor. Sem essa proibição haveria muita malta a fumar charros dentro do hotel, haveria um cheiro inconfundível nos corredores e quartos. Daria mau aspeto.
Há urinóis masculinos gratuitos em alguns pontos da cidade, todos eles com pouco resguardo. De vez em quando lá se vê um homem de costas, tapado apenas pelas ripas metálicas entre os joelhos e os ombros, e o chão molhado à volta.
A câmara municipal estava muito preocupada com a quantidade de homens que caiam nos canais quando queriam urinar. Decidiu, por isso, colocar pontos mais seguros para libertarem os seus líquidos: os urinóis.
As mulheres também acharam que tinham direito a urinóis públicos gratuitos e há boa maneira dos anos 70 em Amsterdão, um grupo de 50 mulheres urinou na via pública, como forma de protesto. A câmara introduziu os urinóis femininos.
Infelizmente, começaram a ser usados para chutar heroína. Foram retirados. Hoje, o único urinol público feminino fica na praça Dam, escondido debaixo de chão, numa plataforma que sobe para a superfície e fica disponível a partir das 6 da tarde.
O movimento dos PROVOS exigiu a legalização do consumo de drogas, a ocupação das casas devolutas e a criação de vias exclusivas para as bicicletas. As primeiras vias foram desenhadas a tinta no chão, sem o consentimento do governo, contra o domínio do automóvel. Muitas ciclovias atuais correspondem aos desenhos feitos nessa altura.
As exigências foram conseguidas.
O povo Holandês é o que trabalha menos na Europa, em muitos casos 4 dias por semana. O sistema de ensino permite que as crianças estejam apenas 3 horas por dia na escola e não tenham trabalho de casa. A holanda é um país próspero e as crianças aprendem.
É um país extremamente seguro. As prisões começaram a ficar vazias. Foi estabelecido um protocolo com a Noruega para importar prisioneiros.
A principal discoteca de Amsterdão, Paradise, era uma igreja.
Os urinóis femininos foram convertidos em outdoors publicitários.
Tudo se converte e recicla para dar lucro.
A holanda é o principal exportador mundial de flores, contudo poucas são produzidas no país. Diariamente chegam a Amsterdão milhões de flores de outras partes do mundo, que depois são reenviadas a preços mais elevados.
 No ensino holandês é de leitura obrigatória o romance Max Havelaar, escrito por um natural de Amsterdão, com o pseudónimo de Multatuli. O autor denúncia o abuso dos colonos holandeses sobre os indonésios, a exploração a as injustiças de que estes são permanentemente vítimas. No romance surge pela primeira vez o conceito de comércio custo. A principal entidade mundial dinamizadora do comércio justo é holandesa e tem nome do romance.
As crianças holandesas têm como leitura obrigatória um romance que expõe um lado sombrio da história do país e que apela aos valores sociais. Não sei se há algum livro de leitura obrigatória em Portugal que exponha os episódios mais sinistros da nossa história. 
O ponto mais alto da cidade, na ponte onde fica situada a estátua de Multatuli: 4 metros acima do nível da água do mar!
Este edifício tradicional, tal como muitos outros, está inclinado. Isso deve-se ao facto da  ter sido construído sobre estacas que ficam pousadas em areia. As estacas vão cedendo e eles inclinam. São visíveis na montra queijos tradicionais.
A fachada foi propositadamente  inclinada para a frente aquando da construção. Todos os objetos pesados e grandes são içados pelas paredes, a partir do varão que se observa no topo. Desta forma não embatem na parede. Os edifícios tradicionais não têm elevador.