terça-feira, 17 de junho de 2014

Holanda, ponto final

Li algures que  antes da 2º guerra mundial a sociedade Holandesa estava dividida em 4 pilares: marxista, liberal, católico e protestante, sendo os 4 totalmente independentes. Todas as instituições estavam organizadas dentro destes pilares.
Cito novamente J. Rentes de Carvalho, no livro Com os Holandeses:
Zuil, significa coluna, pilar e segundo um dicionário de Neerlandês: “cada um dos grupos em que o povo holandês se divide a si próprio, segundo as diferenças de religião ou as maneiras de encarar a vida.”. Cada Zuil possui associações específicas para quase todos os ramos de atividade, desde o ensino à televisão, desde o desporto às viagens organizadas.
Os “pilares” são preponderantes na sociedade holandesa.
O que observo é uma sociedade multicultural. Como se integrarão estes holandeses de outras origens nesta sociedade tão compartimentada?
Conheci um casal de holandeses, “típicos”: reformados, na casa dos 70, simpáticos, bons conversadores. Vinham de férias a Portugal. Vivem perto de Haia.
“- Devia ter ido a Haia. É mais “Holandesa”. Amesterdão tem muitos estrangeiros, não é a verdadeira Holanda” - Disseram-me eles.
“ - Isso é bom ou é mau, ter muitos estrangeiros?” -Perguntei eu.
“- Depende. Se vierem para trabalhar não há problema. Mas há muitos que recebem subsídios e não fazem nada”. Depois usaram metáforas. “- Na Holanda também têm que comer batatas como os holandeses, não podem comer só arroz. E o problema é que só comem arroz.”
Qualquer miúdo numa caixa de supermercado falava Inglês com naturalidade quando se apercebia que eu não era holandês, muçulmanos com lenço na cabeça, negros, todos “novos” holandeses.
Como é que este país consegue gerir esta multiculturalidade? Há integração ou não?
Os holandeses têm um contacto mais permanente com outras culturas o que para mim é enriquecedor. Poderão ser ou não um povo “fechado”, mas são mais cosmopolitas se quiserem, não só porque têm uma maior diversidade cultural dentro do país, como também viajam bastante mais do que nós. Também têm mais dinheiro para isso.












terça-feira, 10 de junho de 2014

Últimos Cartuchos em Amesterdão

Comprei o passe de 24 horas dos transportes públicos de Amesterdão, 8€, e passei uma parte do dia a entrar e a sair de elétricos, viajando ao calhas pela cidade, até onde o elétrico me levasse, fotografando paragens e pessoas.
Finalmente fui ao Albert Cuypmarkt. Antes de chegar a Amesterdão julguei que passaria muito tempo neste mercado por ser próximo do hotel. Só hoje o conheci, na véspera de ir embora. Está aberto todos os dias, excepto ao Domingo, entre as 10 da manhã e as 5 da tarde. Teria sido uma boa alternativa para petiscar nas barraquinhas comida mais tradicional.

Visitei o Rijksmuseum, o mais famoso museu da Holanda. Concentra obras de arte dos principais mestres holandeses e peças oriundas de várias partes do mundo. Muitas foram sendo oferecidas à familia real e a mercadores holandeses. Sou um bocado céptico em relação aos grandes museus, carradas de obras de arte de diferentes períodos e regiões do planeta dispersas por salões e corredores infindáveis, quase não dão tempo para observar com calma as obras de arte em apenas um dia. O museu apesar de tudo não é excessivo e um dia é suficiente para ver com alguma calma todas as secções.
Albert Cuypmarket, banca da queijos

Albert Cuypmarket. Uma das especialidades holandesas é o Haring, arenque cru com pickles e cebola crua.  Pode ser comido em barraquinhas como esta. O melhor mês para provar é Junho.

Estas bicicletas estavam a 190 € e os cadeados mais caros a 30€. São muito comuns estas bicicletas clássicas, sem mudanças. 

Restaurante Português de Amesterdão. Zeedijk, 39.


Rijksmuseum

Rijksmuseum. A Ronda da Noite, de Rembrandt. Um dos mais famosos quadros holandeses.

Riksmuseum. A leiteira, de Vermeer

Mais Vermeer

A rainha Beatriz da Holanda, por Andy Warhol


Algures em Amesterdão

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Roteiro Judaico de Amesterdão


Que eu saiba não existe um roteiro que tenha  este nome em Amesterdão. Visitei alguns lugares e  assim criei o meu próprio  roteiro pessoal,  contendo  alguma história e personagens Judaicas da cidade.
A casa de Anne Frank não foi a sua verdadeira residência em Amesterdão. Foi o local onde ela, a família e outros 4 judeus se esconderam durante dois anos. Era um armazém de produtos alimentares que antes pertenceu ao pai e que, devido às perseguições nazis, passou para um sócio Holandês. Nas traseiras do armazém fizeram a sua vida, não podiam abrir as janelas, o autoclismo não podia ser despejado, tinham de fazer o máximo de silêncio. Os empregados não faziam ideia que haviam judeus escondidos em divisões secretas do armazém. Foram denunciados não se sabe por quem. Todos morreram em campos de concentração, excepto o pai. Anne Frank morreu um mês antes da libertação do campo onde estava internada.
As filas são demoradas para entrar na casa. Atrás de mim estava um casal Português que vive nos Açores. Como o mundo é pequeno! Palavra puxa palavra e acabamos por descobrir muitos pequenos lugares e pessoas que conhecemos em comum. Passei uma hora na fila de espera a matar saudades dos Açores.
A visita pode ser uma experiência forte e transtornar os mais susceptíveis. Contem testemunhos audiovisuais de pessoas que conheceram pessoalmente Anne Frank, sendo para mim os testemunhos mais emotivos o do próprio pai, Otto, que só conheceu o diário da filha após a morte desta, e de uma amiga que reencontrou Anne no campo de concentração de Bergen Belsen, que descreve a última vez que a viu, poucas horas (?)/dias(?) antes de morrer.
Dirigi-me depois em bicicleta à sinagoga Portuguesa. Foi construída no século XVII pela comunidade de judeus portugueses que fugiram da inquisição. No outro lado da rua fica o museu histórico judaico que conta a história dos judeus na Holanda. Algumas famílias de origem portuguesa tornaram-se economicamente muito influentes, devido às redes e conhecimentos comerciais  que possuíam.  Ficaram famosas as famílias Lopes Suasso, de Pinto, Teixeira de Mattos e Henriques de Castro.
Apesar da tolerância que os judeus e cristãos novos Portugueses encontraram na Holanda, a  comunidade judaica deu muitas vezes provas de grande intolerância com os seus próprios elementos, fazendo também as suas vítimas. Dois casos conhecidos  foram os de Baruch (ou Bento) Espinosa e Uriel (ou Gabriel) da Costa.
O primeiro é um dos mais influentes filósofos europeus. Filho de judeus portugueses, nasceu em Amesterdão no início do século XVII.O segundo nasceu na cidade do Porto em 1585 e morreu em Amesterdão em 1640. Ambos tinham  pontos de vista e ideias consideradas heréticas  em relação ao Judaísmo, obviamente mal  aceites pelos rabis, sendo  rejeitados e desprezados pela comunidade religiosa, inclusivamente pela própria  família.
Uriel da Costa suicidou-se depois de ter sido vergastado publicamente, obrigado a deitar-se no chão da sinagoga e de ser pisado por toda a congregação.
No museu histórico não há qualquer referência a Gabriel da Costa. Bento Espinosa, pelo contrário, talvez por ser considerado um dos grandes filósofos do ocidente, não é esquecido. Foi expulso da comunidade pelo rabi Isaac da Fonseca (nascido em Lisboa), o grande impulsionador da construção do templo de Amesterdão.
Em contrapartida, o município de Amsterdão não esqueceu o Cristão novo Portuense, perseguido em Portugal e na Holanda, atribuindo o seu nome a uma das praças da cidade, a DA COSTA PLEIN.
Muito próximo destes locais, numa época em que em Amesterdão viveriam milhares de Judeus, viveu e trabalhou Rembrandt. A casa está hoje transformada num museu, o Het RembrandtHuis.

Antes da 2º guerra mundial viviam em Amesterdão 80 000 judeus. Três quartos terão morrido nos campos de concentração.  
Fila para a casa de Anne Frank

Igreja de westerkerk. Fica muito próxima da casa de Anne Frank. No  diário refere que ouve os sinos da igreja. Ouvir os sinos das diferentes igrejas de Amesterdão é comum nos dias dias de hoje. 
Sinagoga Portuguesa. As placas estão escritas em Português, assim como os nomes dos benfeitores. .

Casa de Rembrandt, oficina de gravação. Um dos atrativos do museu é a possibilidade de participar em oficinas artísticas. 

Exterior da Casa de Rembrandt

domingo, 8 de junho de 2014

Vondelpark


Terminei o dia no Vondelpark, o principal e o maior jardim de Amesterdão, quase tão grande como o nosso parque da cidade. É uma homenagem ao poeta dos séculos XVI e XVII Joost Van der Vondel, o “Camões Holandês”. Possui relvados com chafarizes, lagoas, recantos bucólicos, coretos, pontes e trilhos entre a vegetação. Hoje, Domingo, dia de muito sol, vieram milhares de holandeses passear no parque, fazer pic-nics, descansar, praticar desporto.

De Bicicleta por Amesterdão

Finalmente alugo uma bicicleta. No Domingo há menos trânsito, para quem não tem experiência de andar a pedalar dentro de cidades, talvez seja este o melhor dia de todos para experimentar. Rapidamente ganhei confiança e passei a sentir-me um verdadeiro Holandês. Surpreendeu-me a sensação de liberdade, julguei que por ter de andar com mais este objeto atrelado a mim teria menos autonomia de movimentos. Pelo contrário, a bicicleta deu-me a possibilidade de ir a locais mais distantes e o prazer de pedalar sem destino. Com as bicicletas vem incluído um cadeado e duas chaves, uma para fechar o cadeado e outra para prender a roda. Quando quis, prendi a bicicleta a um poste e deambulei a pé. Amesterdão conhece-se facilmente a pé, de bicicleta então transforma-se numa aldeia.
Na Dam cruzo-me com um grupo de chineses das Falun Gong. Lembro-me das notícias há uns anos atrás quando o grupo foi perseguido e proibido na China. Em Amesterdão recolhem assinaturas contra o governo chinês e divulgam a sua filosofia.
Para mais informações sobre o movimento: www.fofg.org e www.faluninfo.net.
Próximo da Dam fica o Begijnhof, um recanto muito tranquilo no coração da cidade e o Museu Histórico de Amesterdão que conta a história da cidade desde a sua fundação,  no início do século XIII, até hoje. Vários aspetos da história da cidade são apresentados. Embora não seja um dos ex-libris de Amesterdão, vale muito a pena ser visitado.
A Sinagoga Portuguesa, dois quilómetros para oriente na zona do Plantage, já estava encerrada. Fiquei cá fora a descansar um pouco e ao meu lado sentam-se três fulanas que acabam de sair da sinagoga. São Portuguesas. Conversamos. Depois outras três fulanas passam à nossa frente com um mapa de amesterdão na mão e pedem uma informação. Também são Portuguesas. De repente juntam-se 7 turistas portugueses em frente da sinagoga construída por portugueses. O grupo muito rapidamente se desfez, bastou uma delas dizer: “Temos que ir”, para os outros de repente também ficarem com coisas para fazer e se dispersarem.
Depois, sigo muito calmamente a pedalar feliz da vida, sentindo-me um autêntico amestardãosense, quando vejo uns tipos com uma câmara de filmar e outros, que eu julgava pertencerem ao mesmo grupo, que me pedem para parar. Um deles faz-me muito delicadamente a seguinte pergunta, em Inglês:
“- Estamos a fazer umas filmagens e precisamos de uma bicicleta como a sua. Será que nos pode emprestar a bicicleta, só por 5 minutos?”. E eu, anjinho, e com um sorriso nos lábios por poder ser útil, disse:
“-Claro que sim, empresto.”
Os tipos até tinham bom aspeto, bem falantes, vinte e tal anos. Eu ainda sem perceber nada, a ficar cada vez mais cercado pelo grupo, um deles a por as mãos na bicicleta, a começar a acaricia-la.
Eu a desculpar-me ainda por cima:
“- Aluguei a bicicleta, ela tem a placa com o nome do hotel, não sei se isso faz alguma diferença ...”.
Foi então que reparei no outro grupo, não tinha nada a ver com este. Estava ali por acaso com uma Câmara de filmar, alheado do que se estava a passar. Subitamente percebi tudo, saí de repente do meio deles e pedalei para longe dali. Estive em vias de ser assaltado e ficar sem a bicicleta.
A minha bicicleta

Begijnhof. Foi uma espécie de convento, habitado do por mulheres que não que queriam ser freiras mas que viviam como elas (voluntariamente). Hoje as casas são alugadas apenas a mulheres. Um local muito tranquilo no centro da cidade. 

No Begijnhof fica a casa mais antiga de Amesterdão. Esta. Ano 1465.
Museu Histórico de Amesterdão

Estacionamento junto da estação central. Onde está a minha bicicleta?

Ainda bem que a deixei noutro sítio.



sábado, 7 de junho de 2014

Amesterdão: Red Light District


Amesterdão foi inicialmente um dique (DAM) construído sobre o rio Amstel (AMSTELDAM), para evitar o avanço do mar.
A praça Dam é o ponto mais central da cidade, está ligada à estação central pela Damrak. Uma artéria muito movimentada, com circulação constante de milhares de peões, ciclistas e elétricos sempre a chegar e a partir.
No início da Damrak fica o museu do sexo. Possui várias representações de imagens pornográficas ao longo dos tempos e das culturas, estátuas, bronzes, as primeiras fotografias de sexo explícito que surgiram na Europa.
O museu diverte mais do que choca.
Em redor da Dam ficam alguns dos monumentos mais importantes de Amesterdão: o Palácio Real, a NIEWKERK (Igreja nova) e a OUDEKERK (igreja velha), por ser a mais antiga da cidade. Foi construída mesmo no coração da cidade medieval, quando Amesterdão era pouco mais que um porto de pescadores e começava a dar os primeiros passos como entreposto comercial, no início do século XIV. Inicialmente foi uma igreja católica e depois tornou-se protestante, quando a Holanda se tornou independente da Espanha. A igreja fica situada no coração do bairro vermelho, DE WALLEN, como é conhecido na Holanda.
Pode parecer estranho que um dos monumentos religiosos mais importantes e o mais antigo de amesterdão esteja rodeado pelas praticantes da mais velha profissão do mundo, mas há uma razão muito natural para isso. Era aqui que os marinheiros vinham rezar quando chegavam ou embarcavam para outros cantos do mundo. Como ficavam muitas semanas sem mulher foi com naturalidade que a prostituição começou a florescer na zona.
Saio do silêncio da igreja para o bulício das ruas, uma prostituta chama por mim, entreabrindo a porta:” Do you wanna comme in?”. O contraste não podia ser maior, um local de culto religioso rodeado de prostitutas, sexshops, casas de espetáculo com peepshows e sexo ao vivo, coffeeshops a tresandar a erva.
É possível que exista alguma marginalidade associada ao bairro vermelho, devido ao consumo de droga e à prostituição. O proxenetismo é ilegal e o consumo de drogas leves só é permitido nos coffeeshops, até uma determinada quantidade (5g). Está tudo muito bem controlado pelas autoridades.
O Red Light District é muito aprazível e charmoso, talvez o local mais fascinante de Amesterdão. As crianças caminham de mãos dadas com os pais, brincam e saltam felizes à corda nas ruas adjacentes. As mamãs transportam o carrinho de bebé. Mulheres muçulmanas com a cabeça tapada passam com o marido em frente das montras onde se exibem as prostitutas. Milhares de turistas, homens e mulheres, novos e velhos, circulam diariamente nestas ruas. Há pequenas mercearias, escritórios, hóteis.
Contudo, o que mais me surpreendeu foram os urinóis públicos. Ao contrário dos nossos, estes são ao ar livre. Junto dos canais, ao lado dos cafés e lojas repletas de turistas. Eu não queria acreditar que eram urinóis até ter visto um fulano a urinar entre os turistas que passavam e ter sentido o cheiro intenso da urina.Nunca pensei que esta prática, geralmente tão recatada e íntima, pudesse estar assim tão exposta numa cidade do norte da europa.
Quando eu era miúdo era comum ver os homens a urinar contra os muros, mas mesmo nas aldeias este hábito passou a ser bastante mais discreto.

Amesterdão é inclassificável.
Museu do sexo

Oudekerk


A Dam, com o Palácio Real em evidência. do lado direito, a Niewkerk

Urinol. De Wallen

Museu da Prostituição

Coffeeshop

Oudezijds Achterburgwal

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Chegada a Amesterdão


Leio no avião J. Rentes de Carvalho. Surpreende-me a violência com que descreve os Holandeses. Cito:
Não Presta”. É a sua exclamação perante o que vem de fora. Mas o resto? Uma bosta. Pretalhada, gentalhada, “pardos, homenzitos”são palavras que no original holandês designam tanto uma diferença de cor como de nacionalidade ou origem, e da boca de muitos saem lambuzadas de desdém e superioridade mal contida.
Nos anos 60 os manuais de geografia das escolas ainda se referiam aos habitantes da orla do Mediterrâneo, incluindo Portugal, como pertencendo à vuil witte ras (raça branca suja), e esse pequenino detalhe de identidade poderia ser ponto de partida para um volume de comentários.
Os espíritos liberais não precisam de se doer e explicar-me que há outros holandeses, diferentes, abertos, ecuménicos, capazes de comungar com o mundo inteiro sem distinção de cor de pele, tipo, língua ou religião. Pois há. Mas não são a maioria.
Ao meu lado viaja um casal Holandês de meia idade. Será que são racistas? Quando termina a viagem, despedem-se de mim: “Bye, bye”. Contudo, não trocamos uma única palavra no avião.
Estas impressões de Rentes de Carvalho foram escritas há mais de 50 anos. Muito deve ter mudado desde então, julgo eu.
Amesterdão é uma cidade multicultural, pluriétnica e dinâmica. Um estrangeiro acabado de chegar vê pessoas de diferentes origens culturais a falar Neerlandês, a viver e a trabalhar na Holanda.
Há medida que o autocarro se aproxima do centro, começam a aparecer cada vez mais ciclistas. É uma imagem de marca de Amesterdão. Raparigas bonitas a pedalar, bem vestidas e elegantes. Outras mais informais. Pessoal com headphones a fumar, a falar ao telemóvel, com a garrafa de cerveja numa mão, a transportar mercadoria que mal cabe na bicicleta. Os Holandeses usam a bicicleta descomplexadamente. Esta é mais do que um meio de transporte, é também um objeto estético que reflete a personalidade do proprietário.
Um país que possibilita aos seus cidadãos o uso da bicicleta nas atividades quotidianas é muito mais sustentável, tem habitantes mais saudáveis e autónomos. Lamento que em Portugal a economia não tenha sido projetada da forma a viabilizar o uso mais frequente da bicicleta e dos transportes públicos. Dizer que a Holanda é um país plano e mais fácil de pedalar não basta, existem razões mais complexas do que esta.
No hotel tive um exemplo da obsessão que os holandeses têm em cumprir a lei. A minha reserva já estava paga através do sistema de Mbnet, por este motivo o número no cartão de crédito não coincidia com o que usei para efetuar o pagamento. Cancelaram a reserva.

“-Mas já paguei, o dinheiro já me foi levantado da conta. Porquê esta complicação agora?
- O número não coincide com este cartão. Tenho que cumprir o regulamento.”
Foi inútil insistir. Fizeram-me a devolução do dinheiro e voltei a pagar o mesmo valor, desta vez com o número real do cartão.
Do aeroporto à Museumplein são 35 minutos, no autocarro nº 197 (connexxion). Preço 5
€. Saí da gare 12 junto à saída principal do aeroporto.





quinta-feira, 5 de junho de 2014

Holanda


Véspera de partir para Amesterdão. Nos últimos dias tenho lido muito sobre a Holanda e Amesterdão em particular. Pesquisei curiosidades na net, encomendei o Lonely Planet Amsterdam, arranjei folhetos e guias de amigos que já lá estiveram e mos emprestaram.
A Holanda fascina-me, como muitos outros países do mundo. A História de um pequeno território pantanoso que se tornou numa grande potência mercantil e económica no século XVII, conquistando ao mar pequenas parcelas que se transformaram em pólderes, com a ajuda dos moinhos e diques que foram sendo construídos. Depois também há todo o folclore associado ao pais, que é o que provavelmente as pessoas conhecem melhor, de tanto ouvir falar: as tulipas, os queijos e as tamancas.
Foi o país de acolhimento de Judeus sefarditas que fugiram da inquisição na península Ibérica. É com algum lamento que muitos portugueses associam o início da nossa decadência com este período de intolerância religiosa que se instalou e com ele a fuga de pessoas cultas e de capitais. Para a Holanda, pelo contrário, foi o início do seu período mais glorioso. A tolerância religiosa que se vivia no país permitiu o acolhimento de uma grande diversidade de indivíduos, muitos com ligações bancárias e conhecimentos internacionais que contribuíram para a prosperidade económica da nova nação.

A Holanda tornou-se um modelo para muitos outros países e país de exílio de muitas figuras europeias. O Czar Russo, Pedro, o Grande, viveu na Holanda para aprender as mais modernas tecnologias da época e aplicá-las na modernização do seu país. Foi com muitos destes conhecimentos que fundou a cidade de São Petersburgo.

Portugal, pelo contrário, devido ao clima de intolerância tornou-se um feudo de pequenos poderes cada vez mais poderosos que aniquilaram a liberdade e a prosperidade da nação. A Igreja, a grande nobreza. A Holanda prosperou com a contribuição dos mercadores, cidadãos comuns que pelo seu empreendedorismo enriqueceram a si e o seu país.

A Holanda teve de aprender a ser um país tolerante e aceitar a convivência de católicos e protestantes. Enquanto a Europa guerreava por motivos religiosos, este pequeno país concluiu que não valia a pena tanta destruição. Era melhor aceitar as diferenças que existiam dentro do seu território.

Comprei o livro “Com os Holandeses” de José Rentes de Carvalho, um meu conterrâneo que por motivos políticos (tal como muitos outros portugueses fizeram 400 anos antes) saiu de Portugal. Foi parar a Amsterdão depois de ter vivido noutros países. O livro é o resultado de 50 anos de convivência com o povo Holandês. Vai ser a minha leitura nos próximos dias.