domingo, 23 de fevereiro de 2020

Um dia em Miranda do Douro



Sou recebido no Centro para a Valorização do Burro de Miranda, em  Atenor, pela Cláudia, com uns fabulosos olhos azuis, que me indica o caminho até ao curral dos burros, onde nos espera o Emanuel, o nosso guia na  visita e no passeio de burro pelas redondezas. 
Mostra-nos a Quimera, uma burrinha que nasceu há pouco mais de uma semana, sempre em volta da mãe a tentar mamar. Outras burras comem fardos de palha de aveia. Passam 60% do tempo a comer. 
Num curral isolado está o único burro cobridor do centro, um "burro inteiro", os outros, castrados, estão separados em dois currais. Vamos buscar o Atenor, o primeiro a nascer na AEPGA, Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, em 2005. Ficou com o nome da aldeia onde foi criada a Associação. 
Mostra-se muito teimoso. O Emanuel coloca-lhe  a Albarda e a sela no dorso, puxa o focinho com a corda e nada. Não há maneira de o demover. Arranca um ramo de carrasco e vai buscar uma ração especial para burros, dá-os a cheirar. O burro mastiga as folhas, move-se uns metros e volta a parar. Quer  mais comida. No entanto chega a Cláudia que o enxota por trás, mas o burro continua teimoso. 
Após alguma insistência,  entra finalmente em modo de passeio e realizamos o circuito de uma hora  pelas redondezas da aldeia. O Emanuel dá-nos muitas informações sobre os hábitos e a fisiologia dos animais, dá para perceber que gosta muito deles. Quer ir de burro até aos Picos de Europa. Trata-os com muito carinho. Cada um tem o seu feitio e o Atenor é um burro muito especial, dócil e comilão.
Regressamos ao centro e os restantes burros aproximam-se da cerca a observar-nos. O Atenor entra no seu curral, já sem a Albarda e a sela, e é imediatamente rodeado pelos restantes companheiros, como que a dar-lhe as boas vindas e a quererem receber notícias do passeio.
Ficamos enternecidos a observar  a cena na outra extremidade. Os burros dispersam-se e o Atenor  vem até nós, fica a olhar-nos alguns segundos, talvez a dizer Adeus. 
Por recomendação do Emanuel almoçamos em Sendim, na taberna da Moagem. O dono diz-nos que nos primeiros  Festivais Intercélticos serviam quatro mil pessoas. Hoje há menos gente devido à quantidade de festivais de Verão, que no entanto surgiram. 
Passamos pela Bemposta e dirigimo-nos para Lamoso, onde fizemos uma parte do  Percurso Pedestres PR MD6, até à Cascata da Faia da Água Alta. Um estreito caminho de  terra batida, com 1.4 km de comprimento, que nos conduziu entre carrascos e oliveiras ao longo de um pequeno riacho, afluente do rio Douro, até à queda de água. O percurso contorna a cascata por duas pontes de madeira e trilhos bem delimitados por vedações de madeira. Local muito aprazível e quase sem ninguém. O regresso, sempre a subir, foi bastante mais cansativo. 
Entrada do Centro de Valorização do Burro de Miranda

A Quimera


Igreja de Sendim


 Cascata da Faia da Água Alta 




Carrascos

Pombal característico da região 
A dona Sara é da Paradela, o ponto  mais oriental de Portugal continental. Quando visita a aldeia faz questão de falar exclusivamente em Mirandês, junto da lareira, contando histórias… 

Igreja da Misericórdia, Miranda do Douro

O rio Douro em Freixiosa