quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Marinas de Sal da Ria de Aveiro


Já existiam marinas de sal em Ovar, quando Portugal se tornou um reino independente. Ovar era então um próspero porto com ligação direta ao mar.
As correntes marítimas dominantes e os detritos trazidos pelos rios que desaguavam  entre ovar e mira, foram assoreando a costa. O cordão dunar, que se começou a formar em espinho, foi aumentando para sul, isolando cada vez mais a ria. A navegabilidade e o acesso ao mar tornaram-se mais difíceis. Ovar perdeu importância económica, sendo substituído por  Aveiro. 
Os problemas que levaram ao declínio de Ovar também levaram, uns séculos mais tarde, ao declínio de Aveiro.
Em 1757 a ria ficou isolada, devido ao fechamento total da barra. A estagnação das águas e o assoreamento contínuo, provocado pelos detritos dos rios, aumentou a probabilidade de ocorrência de cheias e a insalubridade da região, havendo a proliferação de doenças e o aumento da taxa de mortalidade.
Fizeram-se diversas tentativas para reabrir a barra, com insucesso. As correntes marítimas voltavam a arrastar as areias da costa norte e a fechar o cordão dunar.
Em 1805 os engenheiros Oudinot e Luís Gomes de Carvalho lançaram um projeto para reabertura da barra, que foi concluído com sucesso em 1808, devolvendo o  acesso direto ao mar e uma maior prosperidade em  atividades económicas como a pesca, a agricultura e a produção de sal.
Em 1970 existiam 400 marinas de sal na ria. Hoje existem 8. Um dos fatores a que se deveu o declínio foi o desenvolvimento tecnológico, o sal começou a ser substituído pelos frigoríficos na conservação das carnes. Ainda me lembro de ver em miúdo um baú cheio de sal, na loja da minha avó, com bocados de carne em salmoura.
Como se obtém o sal?
As diversas marinas têm diferentes funções: o “viveiro”, uma grande lagoa em contacto direto com a ria, de onde se extrai a água necessária para alimentar as restantes marinas de sal;  as “cabeceiras”, que vão conduzir a água aos “alimentadores” e, por fim, os “cristalizadores”,  onde se obtém o sal.
O marnoto, ou salineiro, abre e fecha os canais que conduzem a água entre as marinas, de forma a que a salinidade da água vá aumentando desde o “viveiro” até ao “cristalizador”. Na última etapa, a água tem que estar suficientemente salgada para que ocorra a cristalização do sal.  
Só a partir da primavera se pode trabalhar nas marinas: o sol é a energia que movimenta o ciclo ao permitir a evaporação da água.  Também a  gravidade  faz com que a água se desloque sucessivamente do viveiro até ao cristalizador.
Num dia de muito calor podem ser extraídos 200 kg de um único cristalizador. Uma marina produz centenas de toneladas de sal, por ano. 
Para acelerar o processo acrescenta-se sal à água, que os marnotos retiram dos montículos por eles construídos em redor das marinas. O cristalizador deve ter uma salinidade entre 25 e 28 graus, para se formar sal com melhor qualidade.
Salicórnia. Planta comestível com sabor a sal que cresce nas margens das marinas.


Marina do cais da Troncalheira, Aveiro. Onde é possível misturar banhos de argila com banhos de sal. Deve ter muitas propriedades medicinais. 

Marina Grã-caravela. Cada marina tem o seu nome, esta é uma das 8 ainda em atividade.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Navio Santo André


Foi construído em 1948/49 na Holanda para a Empresa de Pescas de Aveiro, como navio de arrasto lateral na pesca do bacalhau.
Esteve em atividade até 1989, quando foi abatido à frota e passou a navegar com a bandeira do Panamá.

Em 2000/1 foi reconvertido em navio-museu. Encontra-se junto ao parque Oudinot, na Gafanha da Nazaré, fazendo parte do núcleo museológico do Museu Marítimo de Ílhavo.


Pormenor da proa de um moliceiro - Museu Marítimo de Ílhavo

Pormenor da proa (lado oposto) do mesmo moliceiro - Museu Marítimo de Ílhavo

Pinturas de João Carlos Celestino Gomes (1899-1960): "Presépio"( 1930) MMI

"Varina" (1941).  MMI


domingo, 31 de julho de 2016

Amsterdão



Na Dam uma mulher quase nua está a ser pintada por outra, mais velha. Cobra 1 € por uma fotografia com ela.
De um lado da praça, bandeiras palestinianas, do outro bandeiras israelitas. Duas manifestações pró e a favor. A polícia a cavalo mantem-se na expetativa. Nas traseiras do palácio real estão estacionados vários carros da polícia de intervenção. Nada acontece, tudo se mantem calmo e pacífico. Estátuas humanas, dart vader, fantoches, centenas de pessoas. Famílias e amigos em bicicleta.
 O European Pride decorre em Amsterdão. A cidade está cheia de cartazes alusivos ao festival. Nos hotéis, varandas e lojas da cidade há bandeiras arco-íris. Decorrem vários eventos ao longo destes dias: concertos, debates, espetáculos de rua, desfiles.
Uma mulher grávida atravessa a rua de mão dada com outra mulher, que no semáforo acaricia-lhe o rabo. Um cinquentão que veste apenas uns calções curtos, muito coloridos e berrantes, passa de bicicleta a toda a velocidade.
Em Amsterdão fuma-se marijuana nos coffee-shops. Há cerca de 90 na cidade. Cada qual pode vender apenas meio quilo de marijuana por dia, o que dá 450 quilos diários em toda a cidade. O único país do mundo onde é legal a produção de marijuana é o Uruguai. Então, onde de onde vêm os 450 kg diários de marijuana consumidos na cidade? Ninguém sabe.
A legalização do consumo nos anos 70 fez cair o número de dependentes em heroína, que passaram a consumir marijuana.
A Holanda é um dos países do mundo com menor consumo de marijuana. A maioria dos frequentadores dos coffee-shops são não holandeses.
 Na receção tenho que ler e assinar um documento que me dá conhecimento da proibição de fumar no interior do hotel. Estranho tanto rigor, nunca assinei nada do género. Mais tarde percebi a razão. Um sujeito quase adolescente, de barbicha, gorro e calças rasta entra no elevador, traz o cheiro da marijuana colado na roupa e um charro por acender na mão. Vai fumar lá para fora.
Percebi então a razão do rigor. Sem essa proibição haveria muita malta a fumar charros dentro do hotel, haveria um cheiro inconfundível nos corredores e quartos. Daria mau aspeto.
Há urinóis masculinos gratuitos em alguns pontos da cidade, todos eles com pouco resguardo. De vez em quando lá se vê um homem de costas, tapado apenas pelas ripas metálicas entre os joelhos e os ombros, e o chão molhado à volta.
A câmara municipal estava muito preocupada com a quantidade de homens que caiam nos canais quando queriam urinar. Decidiu, por isso, colocar pontos mais seguros para libertarem os seus líquidos: os urinóis.
As mulheres também acharam que tinham direito a urinóis públicos gratuitos e há boa maneira dos anos 70 em Amsterdão, um grupo de 50 mulheres urinou na via pública, como forma de protesto. A câmara introduziu os urinóis femininos.
Infelizmente, começaram a ser usados para chutar heroína. Foram retirados. Hoje, o único urinol público feminino fica na praça Dam, escondido debaixo de chão, numa plataforma que sobe para a superfície e fica disponível a partir das 6 da tarde.
O movimento dos PROVOS exigiu a legalização do consumo de drogas, a ocupação das casas devolutas e a criação de vias exclusivas para as bicicletas. As primeiras vias foram desenhadas a tinta no chão, sem o consentimento do governo, contra o domínio do automóvel. Muitas ciclovias atuais correspondem aos desenhos feitos nessa altura.
As exigências foram conseguidas.
O povo Holandês é o que trabalha menos na Europa, em muitos casos 4 dias por semana. O sistema de ensino permite que as crianças estejam apenas 3 horas por dia na escola e não tenham trabalho de casa. A holanda é um país próspero e as crianças aprendem.
É um país extremamente seguro. As prisões começaram a ficar vazias. Foi estabelecido um protocolo com a Noruega para importar prisioneiros.
A principal discoteca de Amsterdão, Paradise, era uma igreja.
Os urinóis femininos foram convertidos em outdoors publicitários.
Tudo se converte e recicla para dar lucro.
A holanda é o principal exportador mundial de flores, contudo poucas são produzidas no país. Diariamente chegam a Amsterdão milhões de flores de outras partes do mundo, que depois são reenviadas a preços mais elevados.
 No ensino holandês é de leitura obrigatória o romance Max Havelaar, escrito por um natural de Amsterdão, com o pseudónimo de Multatuli. O autor denúncia o abuso dos colonos holandeses sobre os indonésios, a exploração a as injustiças de que estes são permanentemente vítimas. No romance surge pela primeira vez o conceito de comércio custo. A principal entidade mundial dinamizadora do comércio justo é holandesa e tem nome do romance.
As crianças holandesas têm como leitura obrigatória um romance que expõe um lado sombrio da história do país e que apela aos valores sociais. Não sei se há algum livro de leitura obrigatória em Portugal que exponha os episódios mais sinistros da nossa história. 
O ponto mais alto da cidade, na ponte onde fica situada a estátua de Multatuli: 4 metros acima do nível da água do mar!
Este edifício tradicional, tal como muitos outros, está inclinado. Isso deve-se ao facto da  ter sido construído sobre estacas que ficam pousadas em areia. As estacas vão cedendo e eles inclinam. São visíveis na montra queijos tradicionais.
A fachada foi propositadamente  inclinada para a frente aquando da construção. Todos os objetos pesados e grandes são içados pelas paredes, a partir do varão que se observa no topo. Desta forma não embatem na parede. Os edifícios tradicionais não têm elevador. 




domingo, 12 de junho de 2016

Drave, a aldeia mágica



Foi bom regressar aos caminhos pedestres. Já conhecia este percurso, mas vale sempre a pena revisitá-lo.
As coisas continuam na mesma, nada mudou em Regoufe ou em Drave, excepto as ventoinhas de vento, não me lembro de ver tantas a última vez que aqui estive, e talvez haja menos vegetação, devido aos incêndios.
Em Regoufe, continua o mesmo cheiro característico a dejetos de animais e a verem-se animais a deambular livremente pelas ruelas. É uma viagem ao passado.
 No início da subida para Drave, por ser muito ingreme e em pedra solta, convém parar, ao ritmo de cada um, as vezes que forem necessárias. Abrigar na  sombra de um imponente carvalho,  ver Regoufe na encosta da serra, ouvir os chocalhos, as galinhas, o balir das ovelhas e o sino da aldeia a tocar as 2 horas, e depois continuar a subida mais um pouco.
No caminho empedrado ainda se notam os sulcos das rodas dos carros de bois. Devia ser muito perigoso o trajeto entre as aldeias. É ingreme, estreito e com algumas curvas apertadas, onde facilmente se poderia cair pela encosta abaixo.
Não vive ninguém em Drave. Os escuteiros de Arouca exploram alguns edifícios e autorizam que outros agrupamentos os utilizem. Foi uma forma inteligente da Câmara de Arouca dinamizar uma aldeia desabitada. Vêem-se vários escuteiros neste percurso e outros caminhantes. Regoufe, pelo contrário, já é habitado e à sua volta os campos estão arados, há vacas arouquesas a pastar. Um restaurante, o “Mineiro”, e um café.

O percurso é seguro, bonito e fácil. Está bem sinalizado. Ver o folheto aqui.
Ver o link desta caminhada em 2011, aqui.
mais um retrato de família, ver o link