sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Fiasco de Copenhaga

“Eu finjo que tu estás a fazer alguma coisa contra as alterações climáticas, se tu fingires que eu também faço. Concordas? Concordo.”



Um jornalista da Antena 1 dizia que era o Momento da Verdade para o Presidente Barack Obama. O mundo iria saber de que lado estava: se do lado do ambiente, se do negócio.
O Presidente chegou a Copenhaga com uma modestíssima proposta de redução das emissões dos gases com efeito de estufa de apenas 4 %. Ficou claro sobre quem manda na economia mundial e de que lado está o presidente. Não foi capaz de resistir às pressões das grandes corporações económicas, incapazes de alterar o seu modo de produção e de reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa.

De acordo com Naomi Klein, nenhum outro presidente Norte-Americano teve as mesmas oportunidades que este para converter a economia Americana em algo não destrutivo e ameaçador da vida na Terra. Barack Obama tomou todas as medidas necessárias que perpetuarão o estilo de vida ambientalmente catastrófico da economia mundial.

Lançou um Pacote de Estímulo à economia Americana. Em vez de um esforço para redesenhar a economia, de acordo com padrões mais “Verdes” com construção de sistemas mais eficaz de transportes públicos e de distribuição de energia.

Os grandes fabricantes de automóveis Norte Americanos foram apoiados financeiramente nesses pacotes, deixando o seu modo de produção intacto. Perdeu-se assim uma oportunidade de redesenhar a indústria automóvel Norte Americana, em decadência com a crise económica, baseada em métodos menos destrutivos.

As auto-estradas que perpetuam a cultura do carro venceram.

Finalmente, uma parte desse estímulo deveria ser concedida em empréstimos bancários a “Projectos Verdes”. O presidente não se intrometeu no modo como os bancos gerem os seus negócios. Em vez disso, financiou-os sem qualquer contrapartida ambiental.

É mais difícil do que nunca obter um empréstimo de um banco para “Projectos verdes”.

As emissões de gases com efeito de estufa deveriam ser reduzidas para 45% com base nos níveis de 1990, para que a sustentabilidade da vida no planeta não seja colocada em causa. Pelo contrário, os presidentes dos países mais poluidores do mundo foram incapazes de chegar a um acordo nesses termos.

O presidente da Comissão Europeia reconheceu que o “acordo” ficou aquém do esperado. A comunicação social noticiou a conclusão da cimeira como um acordo modesto, abaixo das expectativas e objectivos necessários.

Não houve acordo nenhum, um grupo de 77 países não assinaram os termos propostos pelos países mais ricos, num processo pouco democrático e transparente que pôs completamente de lado as Nações Unidas e a opinião dos mais pobres.

Foi nestes termos que Naomi Klein colocou o pdeudo-acordo de Copenhaga:

“Eu finjo que tu estás a fazer alguma coisa contra as alterações climáticas, se tu fingires que eu também faço. Concordas? Concordo.”

O presidente Obama e algumas nações com mais responsabilidades nas emissões de gases com efeito de estufa como a China, Índia, Brasil, Comissão Europeia, Canadá, Austrália e Japão fizeram um “acordo” de interesses, não vinculativo que reconhece a necessidade de limitar o aquecimento global a “apenas” 2ºC.

Contudo, os actuais compromissos, se respeitados, implicarão um aumento da temperatura de 3.9ºC até 2100.

Um aumento de dois graus condenará a continente Africano à morte, como reconheceu o representante dos setenta e sete países.

O presidente das Maldivas, disse que 3ºC destruirão o seu país e as vidas de mil milhões de pessoas em zonas ao nível do mar.

Três graus significarão o colapso da Floresta Amazónica, secas na América do Sul e Austrália e a destruição dos habitats oceânicos.

Neste momento estamos a caminho das 770 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono na atmosfera no final deste século, quando o número razoável teria de ser de 350 ppm para evitar a irreversibilidade das alterações climáticas.

Estamos dentro duma panela de pressão a assistir à destruição sem precedentes do Planeta, incapazes de alterar esta economia destrutiva. Estamos todos dependentes dela, atingimos um bem estar material sem precedentes. Viajamos, temos ar condicionado, deslocamo-nos rapidamente entre locais como nunca aconteceu antes, observamos o que se passa noutros pontos do planeta em tempo real através instrumentos moderníssimos de comunicação. Estamos confortavelmente instalados a assistir a tudo isto.

Os lideres políticos mundiais são incapazes modificar as politicas económicas porque são os líderes das corporações que financiam as suas campanhas e dão emprego a milhões de pessoas. Talvez seja muita ingenuidade acreditar que por livre vontade alterarão o rumo das políticas e reconverterão a economia numa menos destrutiva.

A autora Rebecca Solnit faz uma analogia com o filme Exterminador 2. Um robô chega do futuro para proteger aquele que liderará a resistência Humana contra as máquinas, John Connor, de uma outra máquina vinda do futuro que o quer assassinar e, dessa forma, destruir qualquer hipótese de resistência contra elas. Na economia actual existem muitos “predadores” e a destruição já está a acontecer, mas infelizmente ninguém veio para nos salvar. Não há um Super-herói, uma máquina que nos protegerá dos exterminadores implacáveis. Terá de ser a sociedade civil o Super-herói, todos nós teremos de ser um pouco super-heróis.

Tudo ficou adiado por mais um ano até ao mais que provável fiasco do México, se a sociedade civil não se mexer.

O médico Sul-africano Colin Soskolne comprova através de estudos científicos que a qualidade da Saúde Pública está intimamente relacionada com a qualidade do meio ambiente circundante. Ambas estão interligadas, parece óbvio. Contudo, ele demonstra estatisticamente que a esperança média de vida diminuiu em alguns estados Canadianos, enquanto que o crescimento económico cresceu. Até uma determinada época houve um crescimento de ambos os indicadores, depois começaram a divergir.

Eu acredito que já atingimos o ponto máximo e que entramos num processo descendente, que a nossa qualidade de vida não será idêntica à dos nossos pais e que a longevidade das próximas gerações não será tão longa como a nossa, apesar de todos os progressos científicos e propaganda institucional que nos faz acreditar que vivemos num tempo maravilhoso e que somos uns sortudos pelos bens materiais adquiridos.

Outro artigo de referência:
Bond, Patrick, Curing Post-Copenhagen Hangover

domingo, 20 de dezembro de 2009

Gerês
















Vim para esta caminhada cheio de expectativas. Com tanto mau tempo que tem feito por essa Europa fora, pensava que ia apanhar um grande nevão aqui no Gerês. Tem estado muito frio, temperaturas negativas no interior norte e previsões de chuva para hoje, pelo menos foi o que me pareceu quando consultei o sítio do Instituto de Meteorologia. Por isso, vim bem agasalhado, preparado para a neve e feliz pelas companhias. Não podia ser melhor para terminar o ano.

Enganei-me. Apesar do frio, não houve nenhum nevão. Esteve sol e os únicos resquícios de neve que vi foram uns farrapitos brancos de gelo em alguns sítios, que restavam ainda dos nevões de há uns dias atrás.

A caminhada começou em Fafião e fomos por trilhos não sinalizados, confiando cegamente no nosso GPS. Sem ele seriamos incapazes de nos orientarmos nestas serranias. Ao fim de alguns meses voltamos a reencontrar a confiança e a tranquilidade para caminharmos despreocupadamente. Estamos muitíssimo bem entregues.

Trilhos centenários calcorreados outrora por pastores, servem agora de referência a gente urbana, nostálgica da natureza e dos ares da serra. Os pastores são raros, ainda vimos um ao longe com um grupo de cabras enquanto fomos seguindo as mariolas.

O GPS indica-nos sempre o trilho correcto quando surge uma bifurcação ou não vemos a mariola seguinte, escondida por uma árvore que caiu, ou disfarçada por um efeito de mimetismo no cimo de uma rocha. Nunca avaria!

O Tempo esteve para a loucura de dar um mergulho nas águas gélidas de um ribeiro. Eu, que já tenho as minhas chatices, para quê meter-me numa tortura destas? Houve quem se tivesse aventurado, eu fiquei todo arrepiado só de ver. De qualquer forma, apreciei bastante a ousadia.

UM FELIZ NATAL  E BOM ANO NOVO A TODOS


Garranos

domingo, 13 de dezembro de 2009

Viagem à Pré-História (Arouca PR15)


Este percurso é dos mais interessantes de Arouca e um dos meus favoritos. Não foi a primeira vez que o fiz, nem será a última. Gosto dele por causa da variedade de enquadramentos que se atravessam, diferentes, rústicos, selvagens, telúricos. E tem uma grande vantagem em relação a muitos outros pela sua proximidade com o litoral, de São João da Madeira ao parque de campismo do Merujal (fechado nesta época do ano), onde iniciamos o percurso, demoram-se 30 minutos aproximadamente.

É um desfilar de lugares, todos merecedores de fotografias e olhares atentos e contemplativos: a Frecha da Mizarela, uma cascata com mais de sessenta metros de altura, nesta época com uma força de água impressionante. O Rio Caima, enfiado entre as rochas, com choupos e bétulas nas margens, a dar um aspecto bucólico ao trajecto. As árvores despidas, isoladas nas encostas da serra da Freita. As turfeiras húmidas com os riachos que as atravessam. Os campos em socalco ao redor da aldeia de Castanheira e, depois, a parte humana e cultural.

Na aldeola de Cabaços ainda se sente o cheiro da urina e do estrume das vacas que andam livremente pelas ruas a fazer companhia às galinhas. Em Castanheira, um casal de velhos retira palha seca de uma choupana. A mulher, com lenço preto na cabeça, o homem, muito mal-humorado, despacha-me com um “Toca a andar, toca a andar” quando lhes peço para tirar uma fotografia. Em Albergaria-da-Serra duas vacas Arouquesas mastigam pachorrentamente no meio da rua uns fardos de erva colocados na berma. Pujantes, com os cornos longos e lombos largos, dóceis e inofensivas, destinadas aos restaurantes da região.

Os vestígios históricos e geológicos não são menos importantes. A Mamoa do Monte Calvo e a Portela da Anta são dois recintos funerários pré-históricos, a provar que esta serra é habitada há milhares de anos e a razão de ser do nome deste percurso. E as não menos famosas Pedras Parideiras, um fenómeno geológico raro no planeta. Através de interacções físicas e químicas, pequenas pedras foram-se desprendendo da rocha-mãe, originando concavidades enegrecidas e pequenas pedrinhas de forma oval, facilmente identificáveis e apanhadas nas proximidades de Castanheira.

Por fim, a zona de lazer de Albergaria-da-Serra, onde no verão se pode tomar um banho nas águas límpidas e transparentes do rio Caima.

Esteve um frio e vento de rachar. O céu límpido permitiu avistar a ria de Aveiro e toda a linha de costa até Espinho, a zona urbana de Santa Maria da Feira, o castelo, e áreas dos concelhos de Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis.

O percurso tem 17 Km, é circular e de dificuldade média/alta. Está bem sinalizado e é um encanto.


  



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Na Demanda de Copenhaga




A luta contra o aquecimento global não está focada no interesse das pessoas mas sim no interesse do Negócio.

Todos falam em soluções para o aquecimento global, contudo todas elas estão enquadradas na filosofia do mercado e do lucro.

Em vez de preservar e expandir as florestas naturais que poderão mitigar o aquecimento global, há mais incentivos para o desenvolvimento de árvores geneticamente modificadas que absorverão maiores quantidades de Dióxido de Carbono, mas que simultaneamente reduzirão a biodiversidade.

A energia nuclear é vista por muitos como uma alternativa “verde”. Contudo, todo o processo desde as minas de urânio até à produção de energia é causador de danos. A contaminação por radiações de urânio origina doenças, principalmente cancro, um fardo que afecta muitas gerações.

Quando se propõem combustíveis alternativos, uma das opções são os Biocombustíveis obtidos a partir do óleo de palma. As florestas húmidas da Indonésia e Malásia estão a ser dizimadas com plantações de árvores para a extracção deste óleo.

Os “sumidouros” de carbono e o comércio das emissões de Dióxido de Carbono não solucionam o problema. Plantam-se árvores para poder continuar a poluir e os países pobres recebem dinheiro das grandes corporações em troca dos seus direitos de emissões de gases com efeito de estufa para que estas continuem a poluir.

Neste momento vive-se na ilusão de se criar uma economia verde, mas ao jogar de acordo com o mercado, estamos a permitir que estas corporações continuem as emissões poluentes.

A solução passa pela valorização do local, produzindo alimentos e energia localmente, tornando-nos menos dependentes das corporações.

A cimeira de Copenhaga, agendada pelas Nações Unidas para renegociar os Protocolos de Kyoto de 1997, nos quais se exigiam aos países ricos uma diminuição até 2012 das emissões de dióxido de carbono para níveis seis a oito por cento mais baixos que os de 1990, é encarada com um misto de cepticismo e de esperança.

Hoje, é evidente que os objectivos de Kyoto redundaram num fracasso. Compreender as razões que conduziram a esse falhanço é questionar os fundamentos do próprio sistema económico em que vivemos.

Não se pode resolver uma crise ambiental com as soluções propostas anteriormente.

Será a cimeira de Copenhaga mais um momento de boas intenções políticas e de discursos dos burocratas e políticos ligados a grandes interesses económicos?

A redução das emissões de dióxido de carbono significará uma contracção na acumulação do lucro e o fim do actual sistema económico tal como o conhecemos.

Os encontros de Copenhaga são considerados por muitos como um momento extremamente decisivo, a partir do qual se seguirá em direcção à catástrofe ambiental ou não.

Há três grandes desafios a ultrapassar em Copenhaga:

Redução das emissões de dióxido de carbono em 45 % até 2020, tendo por base os níveis de 1991.

O fim dos Mercados de Carbono.

O pagamento de indemnizações às vitimas climáticas.

Realisticamente, não sairão soluções milagrosas da conferência, contudo os movimentos globais poderão ter uma grande influência e pressão na tomada de decisões correctas e ambientalmente aceitáveis.

Dados científicos indicam que o prazo para evitar as alterações climáticas irreversíveis está-se a esgotar. Por exemplo, o metano existente debaixo da camada de gelo da tundra está a ser libertado para a atmosfera devido ao degelo e o efeito de Albedo está a diminuir devido ao desaparecimento gradual dos mantos brancos das calotes polares.

De acordo com esses dados, 350 É o nível de partes por milhão (ppm) de toneladas de dióxido de carbono existente na atmosfera acima do qual se correrão sérios riscos de irreversibilidade nas alterações.

Actualmente o número de ppm de CO2 é de 390, a subir a uma média de 2 ppm por ano.

Vamos exigir que em Copenhaga surjam compromissos sérios na demanda da redução das emissões globais de CO2 e se chegue às 350 ppm.

Documentos de referência: