quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nocturno Coreano














Empato o tempo caminhando junto ao    lago Bomhun antes de  apanhar o Shuttle Bus para Seoul. Entro na marina e um sujeito com fato de cozinheiro chama por mim. Quer conhecer-me: Chama-se lee Yu e tem uma vontade tremenda de aprender Inglês. Pergunta se não me importo de falar com ele e convida-me a sentar numa mesa da esplanada. Começa a escrever frases em Inglês num caderno antigo, soletrando as letras. Torna-se um pouco cómico ver este Coreano a soletrar o alfabeto Latino:

- A E I O U. It,s Very difficult! I work very hard. I want to learn English so much.

Aproveito a oportunidade de estar a falar com um cozinheiro e peço para escrever pratos Vegerarianos Coreanos. Lee Yu escreve-os, numa coluna ao lado faz a tradução em Inglês e dá-me sugestões de confecção. Fico com um cardápio de receitas e ideias para experimentar nos dias que me restam na Coreia e cozinhar quando chegar a Portugal.

Para quem estiver interessado, aqui vão os nomes de dois pratos:

Bi Bim Bap – Arroz misturado com vários vegetais numa caçarola

Ten Jang Chegae - Rebentos de feijão cozidos.

Oferece-me um café saboroso, Kopitee, que bebo num copo de plástico.

Não pára de falar, tenho o autocarro as 16.00 e olho discretamente para o relógio, até que digo que tenho que ir embora. Despede-se de mim com uma oração e no fim percebo: Amen.

- Are You Christian? – pergunto.

- Yes. Are you Christian too?

- Yes – faz um sorriso efusivo, abraça-me contente. Chama por uma miúda novita para nos tirar uma fotografia, ela aproxima-se timidamente e ri.

Pergunto porque  existem tantos Cristãos na Coreia. Reparei ao longo da auto estrada nas muitas igrejas em todas as povoações. Numa outra entrada explicarei o motivo.

Em Seoul apanho o metro para o Hotel onde está alojada a minha irmã. A recepção é uma discoteca: de um lado, o balcão de atendimento, do outro um balcão comprido com uma parede cheia de bebidas espirituosas iluminadas com muitas cores. Sofás e mesas com velas, estrangeiros e Coreanos em convivio alegre a beber shots. Musica Lounge com um ritmo agradável e cool, ecrãs nas paredes, imagens de bonecos robotizados a dançar ao ritmo da música. O pessoal da recepção é novo, bonito, bem vestido e simpático.

- Do you have a reservation, sir?

- No. I am waiting for my sister.

Uma das paredes é espelhada. Vêem-se os arranha-céus do outro lado do rio Han iluminados com  várias cores, design moderno, neons cintilantes. Lembro-me do filme Lost in Translation da Sofia Coppola e daquele ambiente feérico nocturno de Tóquio.

De noite passeamos em Seoul por vielas iluminadas com reclames de cores berrantes, as ruas estão apinhadas de gente nos bares, sentadas em degraus, esplanadas, bancos de jardim. As barraquinhas nos passeios vendem cervejas, licores, tripas de porco do intestino grosso e delgado espetadas em palitos prontas a fritar no local pelos clientes, crustáceos estranhos, bichos marinhos retirados na hora dos aquários e prontos a comer quase vivos, Sushi, bolinhas de arroz frito. Mulheres jovens elegantes e bonitas, tipo executiva, passeiam-se nas ruas.
Discuto com a minha irmã o conceito de beleza. Ela acha as mulheres Coreanas em geral pindéricas e mal vestidas: vestidos de folhos, camisas foleiras que em Portugal se compram nas feiras. A mim não me parecem tao pindéricas assim, talvez em Portugal porque não é comum vestir desta forma, aqui parece-me perfeitamente normal e mais feminino. É mais comum ver  mulheres de saia, tacão alto e carteira a tira-colo.
- Sim ...mas fica mal tacão alto com calções de ganga por exemplo, e vês muito isso. As cores também são berrantes, vês vestidos às pintinhas e mal combinados com o resto. Em Portugal isso é super-piroso - insiste a minha irmã.
Passamos no CheongChong Stream, no centro da cidade. Um ribeiro recuperado com cascatas iluminadas artificialmente e espectáculos nocturnos  de raios laser na parede, acompanhados com música de Mozart, onde os Seulitas descansam os pés rodeados de arranha-céus, sedes de bancos e empresas.
Subimos a um restaurante no 33 andar de uma das torres de  design mais vanguardista de Seoul.   O mais alto onde estive até hoje. Novamente as luzes feéricas da cidade, os reclames, os farois dos automóveis que circulam cento e cinquenta metros abaixo de nós. A vista é um cenário  futurista de ficção científica. Sente-se a torre  a tremer, a libertar a energia acumulada na arquitectura anti-sísmica.
Ao fim de uma   avenida passamos num local mais escuro a tresandar a álcool, um casal de velhos bêbados está deitado a namoricar, outros vagabundos encostados nas esquinas,  o ambiente não parece o melhor e voltámos para trás.


















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