segunda-feira, 23 de maio de 2011

Entre Templos e Eremitérios Budistas



Namsan é uma montanha na região de Gyongju. Trata-se de um parque natural, protegido por lei. No  solo existem inúmeras ruínas do período em que Gyongju foi capital do reino Silla, há cerca de 1200 anos. Nas encostas verdejantes construiram-se templos budistas - locais ideais de silêncio e beleza natural para os monges meditarem - grutas para orar e outros pequenos locais de culto, junto das nascentes de água, em recantos silenciosos, protegidos pela floresta e pelas rochas. 
O parque natural tem vários trilhos, sinalizados em Coreano e Inglês. A prosperidade Coreana e o zelo na conservação destes espaços denota-se nos passadiços de madeira e nas cordas  que os delimitam, colocados ao longo da floresta para que os visitantes não danifiquem o solo original. 

Para aceder à Montanha deve-se apanhar o autocarro no centro da Gyongju. A viagem demora aproximadamente 30 minutos. Os transportes públicos são regulares, eficientes, pontuais e baratos. 

Por vezes temos que estar atentos às diferenças culturais, uma situação curiosa aconteceu  dentro do autocarro. Entrei e sentei-me num dos lugares da frente, o autocarro ia quase vazio. Numa das paragens entrou uma senhora idosa que não se quis sentar nos lugares vagos mais atrás, ficou de pé ao meu lado, sem dizer palavra, sem olhar para mim. Tive um pressentimento, levantei-me e fui sentar-me no fundo do autocarro. A senhora ocupou imediatamente  o lugar, sem agradecer. 
Na Coreia há uma reverência muito grande  para com os mais velhos. Têm a prioridade em tudo. Felizmente informei-me sobre estes hábitos culturais e não me enganei. A senhora podia ter ido para um banco mais recuado, mas julgou que não tinha que caminhar mais, havia ali um junto da  entrada, ocupado por uma pessoa mais nova, encostou-se e usufruiu de um direito que a sua cultura lhe confere. 
Os idosos são bastante mais venerados e respeitados do que no ocidente. Vi várias vezes pessoal mais novo a baixar a cabeça em sinal de respeito com os mais velhos. Em qualquer refeição são  os primeiros a ser servidos e os últimos a terminar. 


Nas caminhadas vê-se muito pessoal vestido a rigor, usando vestuário impermeável, chapéu, bastões, óculos com lentes anti ultravioleta, todo High tech. Grupos de amigos, famílias, excursões. Apanhei um grupo numeroso logo no inicio da subida e, para os evitar, fiz um desvio até um templo Budista.   Não avancei mais, fiquei ao longe a observar, no meio do silêncio e dos pássaros apenas. As sandálias dos monges encontravam-se pousadas na  entrada. Senti que avançando  mais estaria a profanar algo. Há uma barreira cultural muito forte, a minha inibição não me deixou  espreitar o interior do templo. Fiquei ao longe a gozar apenas o silêncio e a tranquilidade que se pode sentir num sitio assim. Não sou daqui, este não é o meu mundo, iria interferir com a harmonia do local.  
Continuei a subida, passando por muitos  Coreanos que ficavam surpreendidos por se depararem com um Ocidental. A maior parte faz de conta que não vê, uma minoria sorri e diz annyeong  haseyo, Olá. 
Os pedestrianistas ocupam os locais com as melhores panorâmicas para descansar e comer. Muitas vezes quis parar num desses locais para tirar fotografias, descansar, desfrutar a paisagem, mas iria intrometer-me no meio dessas pessoas. As vistas são magníficas.
Caminho aproximadamente 3 Km até ao pico Tohamsan e a chuva vai aumentado. Vim preparado,  tenho o impermeável comigo, visto-o. Fico bastante confortável, apesar de começar a ficar com os calções molhados. Deparo-me cada vez menos com outros caminhantes, sinto-me cada vez mais sozinho no meio destes montes. Passo num eremitério apenas com um senhor idoso a dormitar debaixo do alpendre. Não se podem tirar fotografias ao interior dos templos. Não há ninguém e o  senhor  está  a uma certa distância, discretamente preparo a máquina fotográfica e tiro algumas fotografias. Uma vela de incenso arde no altar, o cheiro espalha-se pela montanha debaixo da chuva. Um aroma agradável paira na humidade da tarde. Tudo muito propício à serenidade e à contemplação. 
O som de uma flauta soa na montanha, alguém toca numa colina próxima.
Continuo a caminhar por trilhos que não sei onde me levam, resolvo regressar ao início. Acho que nunca na minha vida estive tão distante e  isolado como hoje. 
Espero pelo autocarro que me levará de volta ao centro da cidade. Como alguns bagos de uva que levo no tupperware, estou feliz e tranquilo. Dentro do autocarro ouço uma música na rádio, mesmo a condizer com o momento: Morning has Broken, do Cat Stevens, que me põe ainda mais bem disposto e relaxado. Há quanto tempo não ouvia esta música...





Encontro em Gyongju uma das passageiras que veio de Seoul. Cumprimenta-me e  pergunto:
- Where are you from?
- Malaysia.
 Conversamos sobre o que  fizemos em Gyeongju desde a chegada.  
Deambulo depois  pelo centro da cidade, declarada património da Humanidade pela UNESCO.  Foi capital de Reino silla durante aproximadamente 1000 anos,  um dos três reinos históricos da Coreia.  Os outros dois foram: Joseon, o último dos três, que transferiu a  capital para  Seoul e o outro, o primeiro, Goreyo, que deu o nome ao país. 
O que mais distingue a cidade  atualmente são os inúmeros túmulos reais, feitos de colinas cobertas de erva.  Existe a tradição, ainda hoje comum,  de sepultar os mortos debaixo destes montículos. Vi vários  ao longo da auto estrada Seoul - Gyeongju, sempre com um lápide  a assinalar o nome do morto. Apesar da religião oficial do reino Silla  ter sido  o Budismo, os montículos não são exclusivos da religião. É uma tradição muito antiga, praticada também por outros credos do país.  Os  reis  tinham que ter uma sepultura bastante maior do que as dos  súbditos, naturalmente.  A cidade possui ainda um dos mais antigos observatórios astronómicos do mundo, datado do século sétimo depois de Cristo, hoje em ruínas.
Na minha deambulação por Gyeongju encontro o senhor Kim, proprietário de um hostel no centro da cidade. Em Portugal tentei fazer uma reserva on-line, à qual me respondeu muito simpaticamente, agradecendo o interesse, mas informando que estava lotado. Encontrei-o por caso, na entrada do hostel.
 Disse-lhe quem era e agradeci a resposta enviada para mim.




Grupo de alunos a posar junto de um túmulo

Mulher vestida com um traje tradicional


Parque em Gyongju. O pavilhão é um cenário conhecido de uma novela sul coreana. As novelas sul coreanas dão cartas na Àsia


Mapa de relíquias do Monte Namsan

Trilho pelo interior da montanha. Repare-se no empedrado e  nas cordas a delimitar o caminho 

Uma estatueta de Buda,esculpida na rocha entre muitas que fui encontrando

Um local cénico namontanha

Grupo escolar em visita às relíquias de Gyongju

Pormenor de alguns túmulos enquadrados na paisagem de Gyongju

O que resta do observatório astronómico mais antigo da Ásia, século VII


Refeição tipicamente Coreana: Kimchi, arroz, sopa de ovo, feijão e outros acompanhamentos 

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