O local de início deste percurso é a Gruta do Natal. Quando cheguei vi alguns carros estacionados mas encontrava-se ainda fechada às visitas. Abre às 14.00 no verão. Segui as instruções do percurso e cinco minutos depois do início encontro uma cancela fechada, com fio metálico à volta de uma corda. Vedação electrificada. Lá dentro uma manada de vacas e um touro para reprodução. Estou sozinho, o tempo está sombrio e fico indeciso em continuar.
Uma vedação electrificada em que é preciso rastejar por baixo para entrar num pasto com um touro. Decido voltar para trás até à Gruta do Natal, esperar pela abertura e perguntar se realmente é seguro este percurso pedestre. Três Franceses chegam no entanto e perguntam-me se fiz o percurso.
- Não. Encontrei uma vedação electrificada e um touro lá dentro. Estou indeciso – Os Franceses seguem o percurso e decido ir atrás deles. Atravessam a vedação, passam por cima do fio electrificado com o touro e as vacas mesmo ao pé deles. Nada acontece, seguem tranquilos e serenos pelo pasto. As vacas e o touro continuam a mastigar a erva.
- Este Touro parecia-me muito gentil – diz a Francesa mais nova.
De facto, agora, parece-me um touro mais simpático. Não tem cornos, é novo e de uma raça diferente dos de corrida. Mas no início, comigo sozinho, parecia bastante mais assustador. Tenho uma imaginação muito fértil e comecei a fazer filmes : perseguido por um touro enraivecido ao tentar atravessar o pasto onde se encontrava com as vacas do seu harém.
Os Franceses estiveram um mês nas Flores. Conhecem quase todas as ilhas, excepto Graciosa e Corvo.
- Qual a vossa favorita?
- As Flores. Tem muita natureza e tranquilidade, não há quase ninguém. É um sossego.
No fim da caminhada digo-lhes que fiquei muito contente por encontrá-los. Se não fossem eles não teria atravessado aquele pasto inicial, o touro assustou-me. Eles riem-se, afinal não custou nada.
O trajecto é lindíssimo, está cheio de musgos, vegetação e sombra. Caminho debaixo de arbustos, apoio-me nas raízes e em troncos revestidos de líquenes. A terra está enlameada e coberta de turfa. Em algumas partes parece que piso alcatifa. A temperatura é agradabilíssima, do chão exala um calor ameno e suave. Cheira a terra e a musgos húmidos. Tem tudo um aspecto tão idílico. Atravesso uma das poucas zonas onde ainda existe alguma da floresta original de laurissilva dos Açores.
O percurso tem este nome devido a uma erupção vulcânica no século XVIII que originou estes montículos de lava, os Mistérios Negros. A rocha vulcânica continua porosa e instável. É necessário algum cuidado, o caminho é muito irregular e indefinido entre as rochas e os tufos de vegetação que no entanto foram crescendo.
Nos pontos mais altos e abertos tem-se uma vista muita ampla do interior da ilha, cheia de prados verdes separados por densos bosques de criptomérias e alguns cumes de origem vulcânica, cercados pelo mar. Uma maravilha de paisagem.
O Percurso está muitíssimo bem sinalizado. A questão dos touros não se coloca (fui um medricas, era apenas um tourito manso). A ilha Terceira tem neste momento apenas cinco percursos pedestres sinalizados (um deles encontra-se temporariamente indisponível), precisamente porque foram os que se puderam sinalizar em locais onde não existem touros bravos. A ilha tem uma tradição muito forte nas touradas à corda, existem várias ganadarias e há manadas de touros bravos em vários locais do interior.
A Gruta do Natal foi inaugurada ao público em 1969. Observam-se galerias vulcânicas, vários tipos de lava e de estratos solidificados. A visita dura 20 minutos e um bilhete de 6,5 € dá direito a visitar também outro dos ex-líbris vulcânicos dos açores, que fica a poucos quilómetros daqui, o Algar do Carvão (um dos cinco candidatos Açorianos às novas 7 Maravilhas da Natureza de Portugal).
Já referi neste blog que o sítio trails-azores tem informação pormenorizada sobre os trilhos pedestres do arquipélago. Mapas, GPS, informação climatérica, demográfica, ambiental. Muito bom, prático, funcional.
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| Floresta de Laurissilva |
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