sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sétima Etapa: Arzúa - Monte do Gozo

Distância: 34.6 Km

Ontem lavei as polainas e deixei-as penduradas na corda do terraço. Esta noite choveu e de manhã, quando fui buscá-las, não estavam lá. Pensei que as tinham roubado. Procurei melhor e vi-as num estendal debaixo de um abrigo, protegidas da chuva. Alguém teve o cuidado de as mudar de lugar para não se molharem.

O caminho ia-me pregando uma partida: Todas as etapas passam no meio das cidades e aldeias. Contava parar em Pedrouzo Arca para me reabastecer de géneros e descansar um pouco. Não sei por que razão o caminho não passa no centro da cidade, faz um desvio e continua pelo meio do bosque. Quando me apercebi disso já estava bastante afastado para voltar atrás e continuei em frente sem água e com sede. Para piorar a situação, o sol, que se havia mantido encoberto até ali, começou a abrir. Andei alguns quilómetros com a sensação aflitiva de sede e não ter água potável para beber, transpirando bastante e sentindo a garganta seca. Subitamente vejo ao longe, no meio do nada, uma carrinha de bebidas. Não foi uma alucinação, foi mesmo uma carrinha de bebidas. Bebo meio litro de água com alguma sofreguidão e compro mais meio litro para me precaver.


Há muitas máquinas de bebidas ao longo do caminho Francês, afastadas das aldeias. Num desses locais, havia inclusivamente uma caixa em que se podiam comprar bonés, t-shirts e outras com sobremesas de fruta, gelatinas e iogurtes. É admirável e muito útil encontrar estes pontos de reabastecimento nos desterros.

Este ano celebra-se o Xacobeu. Significa que o dia 25 de Julho, dia de São Tiago, calha a um Domingo. Espera-se uma afluência de milhares de peregrinos a Santiago de Compustela e que o caminho Francês, o ex-libris dos caminhos, tenha uma saturação enorme de peregrinos. A Páscoa é uma época alta, as temperaturas são mais amenas do que no Verão e muita gente aproveita os feriados da Semana Santa para meter mais uns dias de férias e fazer os caminhos nesta altura.
Entro na camarata do albergue e um rapaz novo ouve música celta de um rádio. Ele desliga-o e respondo-lhe em Castelhano, que não é necessário desligar o rádio, que pode continuar com a música.

- No me molesta

Depois entra uma senhora mais velha e diz-lhe qualquer coisa em Português. Respondo aos dois subitamente:

- Vocês são os primeiros peregrinos Portugueses que encontro - e eles muito admirados a olhar para mim.

- Nós também.

São mãe e filho, do Porto. Estão a fazer o Caminho Primitivo. Começaram perto de Lugo e, até Arzúa, onde o caminho Francês e o primitivo começam a coincidir, quase não viram nenhum peregrino. Andaram isolados por aldeias muito pequenas e pobres, sem nada.

- O Caminho Francês parece uma romaria - respondo-lhes.

- Ouvimos dizer que apanharam neve.

- Sim é verdade. - e mostro-lhes na máquina digital as fotografias que tirei com neve. Eles olham-nas maravilhados, a mãe suspira.







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