sexta-feira, 9 de abril de 2010

Oitava Etapa: Monte do Gozo - Santiago de Compostela

Distância: 4,5 Km



“O Caminho faz-se caminhando”, António Machado.


Tenho as pernas doridas, uma ferida no calcanhar esquerdo que me faz mancar pela manhã, enquanto não me habituo a caminhar, e, de vez em quando, sinto uns esticões no cóccix que me fazem parar subitamente por causa da dor.

Quero chegar cedo a Santiago. Ontem aparei a barba, recolhi os bastões e guardei toda a roupa por lavar num saco de plástico, bem no fundo da mochila, e puxei o lustro às sapatilhas com folhas de jornal para lhes retirar restos de lama e pó. Levo a minha roupa mais limpa e mais bem cheirosa. Quero entrar em Santiago de cara lavada e com bom aspecto. A cidade é muito monumental e estará repleta de turistas e de peregrinos. Quero fluir discretamente e sentir-me bem no meio de toda essa massa humana.



Levanto a credencial na Oficina do Peregrino e deixo a mochila numa consigna ao lado. Assim deambularei mais facilmente e discretamente.


Desejo cumprir todos os rituais de uma peregrinação “a Sério”. Entro na catedral e visito o túmulo do apóstolo Tiago. Sinto alguma comoção neste momento. Não consigo ser indiferente à História de milhões de peregrinos que aqui vieram ao longo de mais de mil anos, de todos os pontos da Cristandade, para estarem mais próximos dos restos mortais do apóstolo. Acreditando que esta proximidade faria um milagre nas suas vidas e que dali para a frente tudo seria melhor. Muitos deles atingindo certamente uma espécie de delírio ou êxtase místico, aqui neste sítio onde estou.


Mais tarde assisto à missa e o Bispo enumera todos os grupos de peregrinos que ali se encontram e o local de partida.

- …de ponferrada, quatro da Alemanha e um de Portugal…


Nunca gostei muito de chegar a Santiago. A cidade embora muito bonita e monumental tem demasiados turistas e o Kitsch do turismo de massas. Muita confusão nas ruas, vendedores ambulantes, comércio de produtos típicos e exploração de preços.


O mais interessante do caminho não é chegar, é fazê-lo. Cada dia é uma nova descoberta de pessoas e lugares diferentes. O que poderá ser interiormente enriquecedor são as surpresas que ele nos reserva.


Vejo aos longe dois peregrinos com que me cruzei em Palas de Rei, partilhei a mesma camarata com eles. Despedem-se emocionados um do outro. Passo por um deles, vem a tentar conter as lágrimas nos olhos.

Albergue do Monte do Go
Os Carimbos do caminho




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