quinta-feira, 29 de março de 2012

Caminho Português de Santiago: 1ª Etapa: Porto – Vilarinho ( 25 Km)


No posto de turismo a funcionária atende turistas Franceses. Vai explicando tudo num Francês fluente enquanto espero caladinho atrás da fila para ser atendido. Não digo uma única palavra. A senhora vai respondendo às questões dos turistas, sempre em Francês. À minha volta só se ouve Francês. São todos Franceses, excepto a funcionária e eu. Quando são atendidos os últimos turistas à minha frente, a funcionária olha para mim e pergunta em Português, sem hesitar:

- E o senhor, o que pretende?

- Comprar a credencial do peregrino.

- Não é aqui, é dentro da sé.

- Obrigado.

A minha nacionalidade está-me estampada na cara, não há nada a fazer.

Compro a credencial e começo a peregrinação. São onze da manhã.

Passo a zona histórica do Porto. Na Rua das Flores, após o instituto da juventude, as setas amarelas indicam dois caminhos de Santiago: o de Braga e o de Barcelos. Sigo pelo de Barcelos. É este trajeto que aparece descrito nos sítios que pesquisei na internet e o que tem o albergue mais próximo do Porto: São Pedro de Rates, a 38 Km.





A informação que encontrei na internet sobre os caminhos portugueses resumia-se a dois ou três sítios interessantes: o dos amigos do caminho Português de Santiago e de outros sucedâneos deste, basicamente com a mesma informação, o mesmo lay-out e desatualizados.

Um blog que encontrei pareceu-me bastante interessante, dobrarfronteiras, que me ajudou. Tudo o resto eram textos copiados uns dos outros e com pouca informação prática, que era o que mais me interessava.



No largo do Araújo virei à direita. Podia ter seguido em frente, pois aqui o caminho bifurca, voltando a juntar-se alguns quilómetros mais adiante. A opção que tomei é a pior porque atravessa a zona industrial da Maia e um cruzamento muito perigoso na EN 13, depois da ponte medieval, com a passagem forçada por cima do rail que separa as duas faixas de rodagem, entre  camiões e carros a passar de um lado e do outro. Muito perigoso e desconfortável.



Entre Vilar do Pinheiro e Vilarinho o percurso segue quase sempre pela EN306. Novamente com o perigo a espreitar devido à falta de passeios para os peões. Vai-se em cima da estrada com os carros a encostarem os peões às paredes.





Quanto mais nos afastamos do Porto mais a paisagem vai mudando e o meio urbano transforma-se gradualmente num meio cada vez mais rural. Até que por fim se passa ao longo de muros de quintas, terrenos agrícolas e pequenos matos.



Em Vilarinho não existe albergue. Há um abrigo do peregrino, com apenas três colchões em dois beliches, sujo e maltratado.

Algumas casas particulares alugam quartos. Podem ser pedidos os contactos desses locais na farmácia local e no restaurante O Castelo.



Ao dirigir-me para o abrigo aproxima-se de mim uma peregrina que me pergunta em Inglês se vou ficar no abrigo.

- Sim.

- Já lá está um casal e só há mais um colchão.

- Então não há lugar para mim, chegaste primeiro ficas tu com o colchão.

- Sim…mas acho que há outros sítios.

Dentro do abrigo está um casal de Brasileiros. Dizem-me para ir à farmácia, que lá posso obter mais contactos. O abrigo tem mau aspeto. Percebo pela cara da peregrina que não quer ficar ali. Ela olha para nós sem perceber o que dizemos. Traduzo:

- Não fico cá, vou à farmácia pedir mais contactos.

- Importas-te que vá contigo?

- Não.

A peregrina chama-se Ana e é da Hungria.

Na farmácia ligo para uma senhora que tem um quarto livre e que nos vai buscar num instante. Somos levados para uma casa bonita com vista para a torre de Vilarinho. O quarto fica numa arrecadação independente da casa principal, tem um beliche e uma cama, mais uma casa de banho e salinha de estar. O aspeto é impecável. Tudo novo, limpo e sossegado. Ana não se importa de ficar e partilhar o quarto comigo, eu também não me importo.



- Na Hungria sou massagista – diz – posso fazer uma massagem aos teus pés, se quiseres.

-Ok, depois do duche.

Ana veio em autocarro de Madrid para Fátima. Não gostou de Fátima e seguiu para o Porto, onde começou o caminho. Quer ir até Muxia. Já fez o caminho Francês desde Saint Jean Pied de Port.

Pelourinho da Sé, Porto

Rua das Flores, bifurcação. Caminho de Braga ou Barcelos

Araújo

O desvio que segui em Araújo, a pior opção

O tal cruzamento perigosíssimo, EN 13 depois de Araújo


Maia

Padrão de Moreira





1 comentário:

Eva Pires disse...

E se não encontrasse vaga alguma, tinha lugar para dormir com barracas?{