domingo, 11 de março de 2012

Fafião


Os fojos eram armadilhas para caçar lobos. Dois muros de pedra que se vão afunilando, aproximam-se um do outro, obrigando os lobos a correr até um buraco escavado no solo, disfarçado com madeiras e palha.

O Fojo do Lobo aparece assinalado nas placas de estrada como local de interesse cultural. Hoje restam os muros e o buraco. Vestígios dos tempos em que  numerosas alcateias vagueavam pelas serranias do Gerês, atacando rebanhos e destruindo os poucos haveres dos pastores. O lobo ibérico é  uma espécie em vias de extinção, protegida por lei, fugidia e quase impossível de observar no estado selvagem.

O Percurso pedestre começou em Fafião, aldeia do concelho de Montalegre, nas faldas do Gerês. Existem indicações de trilho pedestre de acordo com as normas da Federação Portuguesa de Montanhismo, no entanto creio que não fizemos esse trilho. Confiamos nas indicações do nosso GPS, melhor conhecedor do Gerês. Embrenhamo-nos pela serra dentro em direção a um riacho quase seco, mas ainda com água suficiente em alguns locais para dar o primeiro mergulho do dia. Água gelada que rachava os pés. Só alguns corajosos e suficientemente malucos conseguiram mergulhar e permanecer dentro de água mais de cinco segundos.

Eu tive coragem para molhar os calcanhares  e aguentá-los   dentro de água   três segundos.

 
Depois de uma bela estirada ao sol, e de quase adormecer numa sestazinha reconfortante, reiniciamos o caminho por uma subida íngreme e inverter o sentido da marcha para regressar a Fafião. Cruzando outro riacho com um aspeto mais deslumbrante do que o anterior:
água translúcida a brilhar nas  lajes de granito batidas pelo sol.

 Eram três da tarde, estávamos suados, com a digestão feita e nada como tentar o segundo mergulho da caminhada.
A água continuava gelada, mas o calor era suficientemente apelativo para mais um banho.
Desta vez fui um pouco mais corajoso e consegui mergulhar até aos joelhos.

Depois, num gesto de grande ousadia, intrepidez e rara coragem, fechei os olhos, tapei o nariz e inclinei-me meio metro para molhar a cabeça.
Ao fim de umas longuíssimas centésimas de segundo fugi a todo o gás da água. Já não aguentava mais semelhante tortura.

Para tamanho sofrimento ouve a recompensa devida com um banho de sol, estendido nas lajes macias e polidas do granito. Conversando e observando o sardão que nos veio fazer companhia.

Uma estranha conversa surgiu então em plena serra do Gerês sobre a Teoria da relatividade, Einstein, a energia cósmica, o Binómio de não sei quem, mais a cartografia de Pedro Nunes. Quando fomos embora o sardão também saiu da sua laje e regressou ao local de onde veio.

Em Fafião os velhotes conversam à esquina da rua, as vacas barrosãs passeiam-se pela aldeia, um pastor com o cajado vem aos esses atrás de um vitelo. A idosa vestida de preto pendura roupa no arame. Os homens enchem a única tasca aberta. Nós fazemos o  lanche na esquina da rua, os cãezitos brincam e cheiram a nossa comida.

Fojo do Lobo



 
 
 
 
 
 






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