domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Ignorância do Consumo


 
Somos uns ignorantes. A maior parte das vezes não questionámos a origem dos produtos que consumimos.  Vamos a um supermercado e compramos o que está mais à mão, o que é mais barato, o que nos é sugestionado  pela publicidade.  Não questionámos a origem nem a forma como chegaram até nós esses produtos. Somos  ignorantes que destroem o planeta, sem o mínimo espírito crítico.


 
Compro um iogurte e não sei como foi  fabricado, nunca produzi um. Compro fruta que não sei de onde vem. Sou incapaz de identificar a árvore ou o arbusto que a dá, o cheiro, o terreno, o clima ideal.  Desconheço a relação dos frutos com a terra, a época em que são colhidos. Aparecem  como por magia nas prateleiras, brilhantes e coloridos, prontos para serem comidos pelos olhos, mesmo que estejam estragados por dentro. 
Há produtos que chegam de outros continentes, mais baratos do que os mesmos  produzidos no próprio país. É irracional. Os gastos de transporte e de acondicionamento são enormes, há um grande consumo de energia.
Creio que o termo   técnico deste fenómeno é  dumping.  Os governos dão   incentivos monetários ao  agricultores, sendo possível produzir e colocar produtos nos mercados a preços mais baixos do que os  custos de produção. Este sistema perverte completamente a agricultura.
Devia existir uma taxa ecológica sobre cada produto, proporcional há distância que tem de percorrer para chegar ao destino. Quanto mais longe, maior a taxa.

A agricultura e  a pecuária são subvencionadas nos países ricos. Os produtores locais recebem subsídios e dessa forma conseguem exportar a preços muito baixos, destruindo  os  agricultores doutros países que não recebem subsídios. Habituados a uma agricultura de auto-subsistência, a vender os  bens nos mercados locais para ter algum dinheiro.  Surgem os prejuízos sociais e económicos, para não falar dos ambientais.

Perde o Homem, perde o ambiente. Perde-se a relação com a terra, com o conhecimento que é verdadeiramente importante e útil para a sobrevivência humana. Perdem-se valores, culturas e tradições enraizadas na terra, nos ciclos das plantas e nas estações do ano. Perde-se o cuidado com a manutenção dos sistemas ecológicos, que garantem a continuação da sobrevivência alimentar e energética.

Sem conhecerem os termos Ecologia, Preservação, Sustentabilidade e  não sabendo ler, muitos dos velhos agricultores tradicionais sabiam o que fazer para dar continuidade à fertilidade da terra, sabiam quando parar, a época ideal para fazer a sementeira, alternar as culturas, como fertilizá-las. A  sobrevivência de todos   dependia de como se usava  a terra e do conhecimento dela.


 
A instrução escolar e o currículo académico de cada pessoa de nada valerão se não existir uma perspectiva crítica sobre eles. Uma vida bem sucedida não deverá estar baseada apenas no tempo que se passa numa escola, a aprender e a memorizar  muitas vezes conceitos e assuntos completamente desconectados da realidade, da escolha dos cursos com mais "saídas" ou melhor remuneradas.

Uma vida melhor começa pelo conhecimento que temos das coisas que nos rodeiam, do modo como nos relacionamos com o mundo e intervimos nele. O enriquecimento humano, pessoal e íntimo constrói-se em acção com os outros Seres Vivos que partilham o planeta. Não podemos ser apenas um receptáculo de “Cultura” e consumo. É necessário agir sem destruir, questionar e aprender constantemente.

 
Os supermercados e outros centros  contribuem para a  ignorância porque  habituam os indivíduos   a obter facilmente o que pretendem, tornando-os dependentes do consumo.
 É um ciclo vicioso: transformam-se os indivíduos em seres dependentes, estimula-se a vontade pela publicidade e vende-se  o que for possível. Quanto mais, melhor. Quanto mais se tem, mais se gasta.  Não há espiritualidade, nem conhecimento vital. Há uma destruição invisível, para a qual se contribui inconscientemente, ou não, com este ciclo.
Num momento de conjugação de factores como a escassez de dinheiro, o preço dos combustíveis a subir quase todas as semanas, a mobilidade dentro do país cada vez mais limitada (portagens pagas, estradas secundárias  em pior estado, ausência de alternativas em transportes públicos), não estaremos preparados para sobreviver  como sociedade.   Faltará a  independência energética e económica. Os  cidadãos estarão dependentes de fatores externos, assim como o país e cada uma das suas regiões.
A maior parte da sociedade nos países industrializados perdeu o conhecimento vital e os seus habitantes a capacidade de serem  autónomos sem danificar o planeta. Em tempos de crise, serão cada vez mais os encalhados nas filas do pão e da sopa, à mercê da misericórdia e da piedade de uns poucos.  Desaparecem os Direitos, o Homem torna-se mais vulneráveis e dependente. Não interage construtivamente com o mundo,  torna-se um  ignorante mesmo sabendo ler e tendo uma escolaridade avançada.

A luta destrutiva pela sobrevivência aumenta e diminuem as hipóteses de cooperação, solidariedade e de uma economia sustentável.

Sem comentários: