sábado, 1 de julho de 2023

São Pedro da Afurada



O acesso à Afurada é mais curto do que julgava. Descemos pela rua do Monte da Luz, de paralelos, invisível a quem passa pela via de acesso à  autoestrada e ao Arrábida Shopping.  A quantidade de carros estacionados nos parques das superfícies retalhistas e as centenas de pessoas que se deslocavam para a festa fazia prever demasiada gente. Assim foi. Via-se uma enorme multidão compacta pelas ruas principais e ruelas do centro da vila. Filas para entrar na casa de banho, nos restaurantes e tasquinhas. Talvez fosse mais fácil nos restaurantes habituais. Não aceitavam mais clientes. No Madureira´s uma senhora marcou lugar às 18h00 para jantar às 21h30.

Não comemos a sardinhada que almejávamos. Iludimos o desconsolo com os biscoitos de amendoim comprados numa barraquinha de doces tradicionais, das poucas que não tinha fila.

As pessoas são gregárias, estão com saudades das festas populares. É uma loucura a quantidade de gente sequiosa de diversão. A pandemia despoletou essa vontade latente.

Não é por acaso que as principais festas populares se comemoram próximas umas das outras e encostadas ao solstício de verão. A celebração do dia mais longo do ano é pagã. Era impossível impedir as comunidades primitivas de celebrar o sol e a noite, rituais animistas entranhados nos ciclos da terra e do homem, em comunhão entre si. A igreja substituiu os velhos ritos de acordo com os seus dogmas.  Foi ardilosa: em vez de os reprimir deu-lhes um novo revestimento, associou-lhes personalidades e eventos da nova religião, emergente na europa.

O Natal celebra-se próximo do solstício de Inverno, a Páscoa do equinócio da primavera e o Dia de Todos os Santos do equinócio do outono. Celebrações cristãs que adquiriram e adotaram rituais que se praticavam anteriormente. Existem estudos sobre o tema, seguramente. Não tenho mais elementos do que estes. Mas faz todo o sentido que assim seja. 

Gosto de pensar nas festividades como um ritual que vem de uma tradição mais antiga e primitiva, mais próxima da loucura e do irracional. De algo que ainda não estava dominado pelos cânones cristãos, que não tinha de ser sancionado por entidades político-religiosas, formatadoras da moralidade e dos costumes.  










Sem comentários: