quinta-feira, 13 de abril de 2017

Versailles



Na carruagem de metro um indigente vai assediando os passageiros: “meus senhores e minhas senhoras eu sei que é desagradável, mas se me permitem a vossa compreensão e ajuda…”. Os passageiros mantem-se reservados, ignorando-o. Estou de costas, ouço-o apenas e torço para que não me venha chatear.  
Num sítio mais escondido, debaixo das escadas de acesso à linha, um colchão coberto por mantas andrajosas. Numa outra estação, um fulano miserável de pés descalços e encardidos agacha-se debaixo do ar condicionado.
Nos Campos Elísios casais de pedintes e filhos sentados no passeio tapam as pernas com cobertores, dando a sensação que dormem e fazem casa na rua, enquanto na Louis Vuitton estão dois Lamborghinis estacionados à porta e faz-se fila para entrar na loja: 14 000 € euros o preço de umas botas na montra.
Mudança de linha: um cigano romeno com acordeão ao pescoço indica-nos a plataforma para Versailles, sem perguntarmos nada. Depois diz que a pista está “too short”, para avançarmos mais para a frente, uma série de pessoas seguem-no. O comboio chega, passa por nós e para mais à frente, temos que correr para o apanhar. O homem tinha razão.  Toca acordeão e pede esmola nas carruagens. O turista à minha frente faz-lhe um sorriso amarelo e não dá esmola, eu também não.
Buffet a 37€ por pessoa, sem bebida. Gelados a 4€. Entrada de adulto na Disney a 90 €. Exército na rua e nos monumentos. Sacos e bagagens revistados várias vezes. Máquinas de raio-x. Vigilância apertada por motivos de segurança. Muita atenção aos sacos e malas: denunciar qualquer objeto abandonado e nunca nos esquecermos dos nossos.  
Recorda-se a guerra Franco-Prussiana de 1870-71 numa exposição em Les Invalides. Um cartaz com uma fotografia da época: o arco do triunfo e a alameda com casas arruinadas e bombardeadas. Junto ao Hôtel de ville uma lápide relembra os 20 a 30 000 fuzilados na semana sangrenta. A comuna de Paris e a Guerra Franco-Prussiana. O Sacre Coeur foi construído em 1873, a exposição universal de Paris e a construção da torre Eiffell em 1877. Não encontro qualquer explicação nos guias turísticos sobre alguma  possível relação entre estes eventos.
Rimbaud descalço dirige-se para a linha da frente no Marne. Ouço Debussy: Clair de Lune. Faltam as Gimnopedies de Satie.
Mas Paris é deslumbrante, sem exagero. Grandioso. Opulento. Monumental. As filas imensas de turistas saturam, demasiados em todo o lado. Filas intermináveis no Louvre e na Torre Eiffell.
Versailles: Cidade aristocrática, ordenada e limpa. Vejo chefes de estado e generais franceses de caqui e bigodes compridos a assinar tratados em fotografias e filmes mudos a preto e branco, no fim da 1º guerra mundial. Num quadro famoso da época o  Kaiser Guilherme I é entronizado imperador alemão, com Bismarck, paternalista, a assistir. Os Franceses não podiam ter escolhido local mais adequado para humilhar a Alemanha,  quarenta e oito anos depois da derrota na guerra Franco-Prussiana.
Mais uma fila interminável para entrar no palácio. É mais interessante caminhar pelos jardins, não se paga e não se perde tempo.  Bicicletas e carrinhos de duas pessoas para alugar, seria uma boa ideia não fosse tão exorbitante o preço.
Barcos a remos com casalinhos e famílias deambulam no canal. Picnics nas margens ensombradas por bétulas, onde me sento e descanso, como na canção.

Petit e Grand Trianom: Vale a pena, sem as filas do palácio de Versailles, onde Maria Antonieta se refugiava do fausto e cansaço da corte. Os jardins são belíssimos, bucólicos, sossegados, por momentos sem turistas, como se estivesse num bosque bem cuidado. Local que pretendia ser paradisíaco e deve ter sido. A rainha teve um fim nada condizente, violento e tremendo, como se sabe.
Petit Trianom

Grand Trianom


Na RTP2 passa a série Versailles, má, a não ser pelos figurinos e pela bolinha vermelha no canto superior direito. Luís XIV e as suas amantes, as intrigas da corte, os soldados que regressam da guerra na Flandres contra os Espanhóis para a construção do palácio e se revoltam com as condições miseráveis de trabalho, ao que o Rei responde com Les Invalides para lhes dar assistência. Os bosques infestados de salteadores, reforçados com a presença da tropa real, a nobreza mais tradicional que se opões às reformas reais. 
Templo do Amor

A Quinta




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