domingo, 14 de março de 2010

Salvar o Tâmega














O Plano Hidroeléctrico Nacional prevê a construção de dez novas barragens, cinco das quais no Rio Tâmega. Com a construção destas novas barragens a produção de energia eléctrica em Portugal aumentará 3% e implicará a redução de 0,25% na importação de petróleo. Estes números têm servido de argumento para justificar a construção destas barragens, a par dos já comuns, repetitivos e pouco originais chavões de “Criar mais emprego” e “Modernizar o país”.

Os habitantes da bacia do Tâmega estão indignados com a adjudicação destas barragens e manifestaram-se hoje em Amarante contra a sua construção. Não foram considerados os prejuízos ambientais e económicos para a região devido à destruição de terrenos agrícolas, à submersão de praias fluviais e de locais com interesse histórico e à transformação do rio Tâmega numa “cascata” com cinco patamares de água represada, alterando os ecossistemas fluviais e diminuindo a qualidade da água. Os manifestantes consideram inadmissível a apropriação do rio para fins meramente mercantilistas, retirando aos habitantes locais mais uma hipótese de ter um desenvolvimento sustentável, baseado na preservação do património ambiental.

Uma das consequências da construção deste projecto será o Transvase de águas do rio Olo para alimentar o caudal na futura Barragem de Gouvães, no Alto Tâmega, implicando alterações profundas numa das zonas naturais mais espectaculares de Portugal, «As Fisgas do Ermelo», e a degradação de um dos poucos habitats que ainda restam ao Lobo Ibérico na Serra do Alvão.

Como as catástrofes naturais têm sido muito comuns nas notícias, refiro também a notícia do quinzenário regional “repórter do Marão” que diz que nenhuma outra cidade de Portugal ficará tão próxima da bacia de uma barragem como Amarante, apenas 8 Km a montante (em Fridão). A cota da nova barragem ficará muitos metros acima da zona histórica da cidade, o que em caso de ruptura súbita do dique (devido a um sismo ou tornado, embora pouco prováveis), “poderia causar uma espécie de tsunami …com uma onde de quase trinta metros de altura e uma velocidade estimada em 40 Km/h que chegaria à cidade em apenas treze minutos, tempo escasso para lançar qualquer plano de evacuação…

Esta decisão foi tomada em Lisboa à revelia dos locais para criar uma Mais Valia Financeira aos grupos EDP e IBERDROLA, que lhes garantirá mais uns milhares de Euros de lucro mas com implicações desastrosas e repercussões ambientais muito superiores ao insignificante benefício de se produzir apenas mais três porcento de electricidade. Quanto à justificação de se criar mais emprego, as actuais hidroeléctricas empregam pouquíssima gente, sendo apontado o caso da Barragem do Torrão que tem apenas um empregado, o Segurança. Haveria um aumento do emprego durante a construção, mas depois disso não seria possível manter esse emprego. Se tal fosse verdade, hoje seriamos um país com muito mais emprego com tantas obras públicas que se fizeram nos últimos vinte anos, desde as auto-estradas, até aos estádios de futebol e Alqueva.

Bastaria reduzir o consumo energético e aumentar a eficiência para superar este valor de três porcento, nada mais. O paradigma económico actual é baseado na destruição de recursos, não há crescimento económico sem consumo. Estamos numa espiral de destruição e seguindo esta lógica a depleção dos recursos nunca mais terá fim. Estas manifestações têm o mérito de alertar para a necessidade de pensar noutras alternativas e de repensar os actuais modelos económicos. Não interessa apenas a questão ambiental e a destruição de mais um rio, é todo o paradigma económico e de consumo que deve ser questionado.

Estiveram aproximadamente trezentas pessoas na manifestação representando associais ambientalistas (Quercus, Geota, LPN, CAmpoAberto, Gaia) e Plataformas de Cidadãos de Defesa dos Rios Tâmega, Tua e Paiva (SOS PAIVA, Movimento Contra a Construção da Linha do Tua, Associação das Águas Bravas).

Para mais informações sobre este assunto consultar:

Para subscrever a petição, clique Aqui











Sem comentários: