sábado, 29 de agosto de 2009

Rota do Senhor dos Mártires


O PR1 de Alcácer do Sal, A Rota do Senhor dos Mártires, está bem sinalizado do princípio ao fim, é considerado fácil, tem 13 Km de extensão em circulo e está bem descrito, com a indicação dos pontos mais importantes do trajecto, no folheto de divulgação do percurso. Facilmente adquirido em qualquer hotel, posto de turismo ou museu de Alcácer.

A cidade tem uma história que remonta a 5000 anos atrás, até à Idade do Ferro. Foi um importante centro Romano de nome Salatia com cunhagem de moeda, povoado Visigótico, cidade Muçulmana e importante centro medieval. Aqui nasceu Pedro Nunes, um dos mais importantes Matemáticos Portugueses, inventor do Nónio e casou D. Manuel I com a rainha D. Maria de Castela.
É possível, na cripta arqueológica do castelo, observar toda a estratificação histórica desde a Idade do Ferro até ao século XIX nos diferentes tipos de construções que se foram sobrepondo, desde os locais de culto mais primitivos, até aos balneários, muros e cisternas árabes e nos diferentes objectos desenterrados: porcelanas, estatuetas de guerreiros em ferro, bustos e aras romanas, lucernas árabes, crucifixos e relicários medievais. Todos contam um pouco da história riquíssima desta cidade.

A visita é gratuita e culturalmente muito enriquecedora.

Não vou descrever o percurso pedestre. Como disse, ele está bem descrito no folheto e quem estiver interessado também é possível via internet aceder ao mesmo em

http://www.cm-alcacerdosal.pt/PT/Visitar/percursospedestres/Paginas/RotadoSenhordosMartires.aspx

Vou apenas referir e reflectir sobre duas situações que podem acontecer a quem caminha por determinadas zonas.

Primeiro: Cães.

Pode surgir um mais agressivo e pregar-nos um susto.

Junto da Igreja do Senhor dos Mártires, um cão aproximou-se de mim e seguiu-me alguns metros. Era de compleição média e já impunha algum respeito, comecei a ficar nervoso. Não eram festinhas que ele queria. Sei distinguir um cão mais dócil e quando quer brincadeira. Este não ladrava mas também não abanava o rabo nem as orelhas, estava fixo farejando-me a uma certa distância, intrigado.
Não havia mais nada nas redondezas a não ser a Igreja. Se por algum motivo ele decidisse morder-me, apanhar-me-ia completamente desprevenido. Quis enxotá-lo mas puderia ser interpretado como uma atitude agressiva, o que seria pior naquele momento. Por isso, fui andando e ele sem me largar. Olhava para trás, o que está errado porque denuncia nervosismo, e ele cada vez mais desconfiado, pressentindo o meu medo.

Não aconteceu nada, o bicho acabou por retroceder e eu segui o caminho. Contudo, fiquei nervoso e apreensivo e não voltei a usufruir do prazer de caminhar porque ia com estes pensamentos e por causa do que veio a acontecer mais adiante, mas lá chegarei.

Outros cães apareceram a ladrar-me, mas felizmente estavam dentro de casa e os que não estavam eram pequenos e não assustavam, só arreliavam.

Estava sozinho e pode haver situações em que subitamente se fica muito vulnerável. Foi um pouco isso que senti. Não tinha sequer um bastão que poderia servir de dissuasor ou como defesa, numa situação mais extrema. Ouvi falar nuns apitos que têm uma frequência só detectada pelos canídeos e que os deixa meios atrofiados quando os ouvem. Um instrumento destes também pode dar jeito.
Resumindo, não tinha nada útil para defesa contra ataques de cães.

Segundo: Caça.

Pelo que sei os dias oficiais para caça são as Quintas-Feiras e os Domingos, por isso é muito aconselhável evitar estes dias para a realização de percursos pedestres em épocas de caça e que atravessem as zonas estabelecidas para o efeito.

Realizei o percurso numa Segunda-Feira, por isso digo:

Das duas uma: Ou a informação que tenho sobre os dias de caça não está totalmente correcta ou então alguém andava a caçar ilegalmente.

Comecei a ouvir tiros esporádicos ao longe. Quando caminhava entre os arrozais ouço um disparo muito próximo. Assusto-me, claro! E dou um berro para me fazer ouvir e para que se saiba que alguém caminha ali perto. Não ouço nem vejo ninguém.

Alguém anda escondido entre os arrozais e os canaviais a atirar aos patos.

Estou num estradão de terra, devo estar fora do trajecto dos disparos. Imagino que o caçador só disparará para onde os patos se escondem, nos arrozais e juncos.
E se uma bala cruza o caminho onde me encontro na direcção do arrozal do outro lado?

Mais um tiro muito próximo. Dou um berro ainda maior e desta vez tenho que falar: - Hee, anda aqui gente a caminhar… – Não me ocorreu mais nada. Fica-se meio apalermado sem saber o que dizer.

Não há resposta, novamente o silêncio total. Naturalmente devo estar a ser observado pelo caçador que não se quer denunciar ou espantar a caça.
Sinto-me muito desconfortável naquele momento, com tiros muito próximos de mim.

Apetece-me dizer muito alto para acabar com os tiros enquanto eu ali estiver e explicar que estou a fazer uma simples caminhada, que não tenho nada a ver com aquilo, para parar de me assustar.

Ajo com prudência. O melhor é ficar calado para não enervar o indivíduo que deve precisar de concentração para acertar nos animais, ou ainda acerta em mim por desleixo ou intencionalmente porque fiz muito barulho e espantei a caça.
Resigno-me e vou caminhando calado, não tenho outra alternativa. Tento manter um ar calmo e natural mas faço um passo mais ligeiro.

E se me confunde com um pato?

Tenho uma boina axadrezada, t-shirt e calças claras.

E se afinal não for um caçador mas um psicopata que se quer divertir à minha custa?

Tento não ter um ar aflitivo, caso esteja a ser observado.

Vejo uma tabuleta vermelha e branca que diz Zona Municipal de Caça. É Segunda-Feira, não deveria haver caça, julgo eu.

Finalmente começam a aparecer algumas herdades e casas. Não pode haver caça próximo das habitações. Começo a descomprimir.

Estou agora mais determinado e, em certo ponto, furioso. Pode aparecer um cão a mostrar-me os dentes e a rosnar que sou capaz de lhe atirar uma pedra ao focinho.

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