domingo, 17 de dezembro de 2023

Pé do Cabril

 


Estacionamos os carros na portela do Leonte e seguimos pela estrada alcatroada, atravessando a mata da Albergaria, até ao início do trilho que nos iria levar aos Prados da Messe. Chegamos ao fim de vinte minutos de caminhada em bom ritmo, cerca de três quilómetros. Passamos ao lado de ribeiros de correntes caudalosas e nascentes a jorrar água profusamente, evidências dos dias chuvosos das últimas semanas. O frio apertava. Fomos caminhando e conversando. Não me encontrava com a malta há alguns anos. O Álvaro lembrou-se de organizar a caminhada de Natal, criou o grupo no WhatsApp. Encontrámo-nos  no Monte dos Burgos para partilhar boleias.

Vimos no carreiro de terra, no início da subida pela encosta da serra,  a placa a indicar que a partir dali entraríamos numa Zona de Proteção Total (ZPT). Conferenciamos se valeria a pena arriscar a multa de 250€ por pessoa, caso fossemos apanhados sem autorização do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). A Teresa contou que há uns meses  pagou multa porque o seu grupo de onze pessoas foi apanhado sem autorização numa ZPT. Os fiscais arrecadaram 2250 euros. Foram implacáveis, inflexíveis e desagradáveis. Estavam no fim do trilho propositadamente  para  cobrar a multa, em vez de estarem no início e avisá-los para não o percorrerem.  A Manuela disse que as pessoas locais não gostam deles. Imagino guardas florestais  contratados a uma empresa privada para fazer a vigilância,  com uma breve formação dada pelo ICNF e pouco mais. Sem sensibilidade, ou formação ambiental adequada. Cobradores de multas, apenas. Pouco mais do que fiscais de estacionamento.

Pode-se entrar na ZPT com autorização passada pelo ICNF, por intermédio de pedido através do email. Toda a  informação disponível neste documento.

Pouco depois ouvimos o ecoar de motores na serra, eram motas que vinham de Campo por um estradão de terra no meio da serra até à Estrada Nacional. O ruído incomoda muito mais do que uns meros caminhantes que não vão recolher plantas nem animais ou deixar lixo, pelo contrario,  no verão até podem ser úteis na prevenção dos incêndios. Quem se aventura na serra tem  espírito ambientalista, está  interessado em manter a natureza intacta para voltar a reencontrá-la da mesma forma.

Vários carros passaram por nós no regresso ao Leonte.

A interdição da circulação de veículos motorizados em determinadas áreas, nomeadamente na mata da Albergaria, seria uma medida com resultados mais eficazes na proteção ambiental.

Decidimos fazer a subida  ao Pé do Cabril. Partimos das traseiras da casa abandonada do guarda florestal, subimos pelo trilho bem delimitado. Viramos à esquerda na seta branca, seguimos as mariolas até ao sopé do rochedo. Almoçamos sentados sobre a superfície polida da rocha, despimos os casacos e camisolas de inverno, ficamos de manga curta usufruindo o sol e o calor tépido. O Álvaro levou uma garrafa de vinho verde branco de castas Alvarinho e Trajadura. Brindamos. Partilhamos comida. Estávamos bem dispostos. Humorizamos com o “restaurante”,  pelas vistas magníficas, únicas, pela comida e bebida que adquiria  um sabor especial na companhia de bons amigos, ao ar livre. Um restaurante digno de estrelas  Michelin. Víamos  a imponente fraga do Pé do Cabril,  paredes maciças próximas de nós. A Lurdes telefonou ao marido, disse-lhe como estava alegre, descreveu o tempo, o local, a pena de ele não ter ido.   

Percorremos as últimas centenas de metros  junto ao sopé do rochedo. Optamos por não subir mais, nem o contornar. Lembro-me bem do medo e das vertigens que senti quando tive de saltar de uma fraga à outra, sobre a fenda que as separa. O episódio ocorrido há alguns anos foi relembrado algumas vezes por nós. Está aqui nesta página do Blog. Desta vez, felizmente,  não apanhei sustos. A Teresa também não estava nas melhores condições de saúde para prolongar mais a caminhada, apesar disso aguentou-se muito bem. Ninguém diria que estava com os problemas que nos descreveu.

Um grupo numeroso de caminhantes descia pelas encostas do rochedo. Entabulamos conversa e,  no meio da serra, no meio do nada, a Lurdes reencontra dois companheiros. Ficaram a palrar alguns minutos, relembrando outras caminhadas. Víamos ao longe os rebordos montanhosos de cordilheiras envoltas em neblina azul e nuvens brancas, o imenso céu  cobrindo as encostas verdejantes do Gerês.

Eu e a Manuela fizemos um invertida.

Regressamos ao Leonte, paramos para lanchar no parque de merendas antes das Caldas do Gerês, bebemos mais uma garrafinha de vinho verde branco, comemos bolo rei e tangerinas sumarentas do quintal.

Dali foi um tirinho até ao Porto, hora e meia sem parar. Chegamos a casa com o desejo de regressar mais vezes ao Gerês.



















Outras fotografias da malta:
















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