quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Serpins


Os incêndios de 2017 queimaram muito mato. Os eucaliptos crescem descontrolados desde então, entre eles, os medronheiros, resistem e medram viçosos. Restam dispersos velhos carvalhos, sobreiros e oliveiras.
O azeite era fabricado no lagar de Santo António, na margem do rio Ceira, hoje abandonado. Muitas famílias possuiam os seus lagares artesanais e produziam azeite. Era sempre um momento de muita festa, celebrado nas adegas e lagares, com bacalhau e batatas a murro no forno, a broa regada com o azeite acabadinho de fazer, ainda quente, a cheirar à terra e às azeitonas frescas dos campos. Depois,  ia-se em romaria à Senhora da Candosa, no cimo de um penhasco de xisto, lá prós lados de Góis, quebrado a meio pelo rio Ceira, no lugar do Cabril. 
Em 2010, o governo Socrático, resolveu encerrar o ramal da Lousã, que trazia os comboios do centro de Coimbra e com eles a miúdagem de pouco dinheiro que vinha acampar no parque de campismo e fruir a praia Fluvial da Senhora da Graça, mesmo ao lado.
Praia da Senhora da Graça. Inaugurada no dia 14 de Agosto de 1996

Parque de campismo de Serpins 
A linha foi encerrada  com a promessa de ser substituída por uma mais moderna, um metro de superfície de Coimbra a Serpins!! Até hoje. As viagens são feitas em autocarro, que não substitui o romantismo e o conforto do combóio.
A serra da Lousã estende-se à frente dos olhos,  com as antenas eólicas, de uma à outra ponta, as  aldeias de xisto perdidas, onde vivem alguns Portugueses e   estrangeiros, que fugiram da agitação de muitas cidades europeias. "Aqui consigo ver as estrelas", disse-me uma vez um Alemão. Pormenores que a muitos passam despercebidos, mas importantes para quem  viveu rodeado de luzes e ruído no dia-a-dia e aqui encontrou tempo, paz e silêncio. Condições naturais privilegiadas que desaparecem com os incêndios, os estradões de acesso às eólicas e o abandono rural. 
Falta habitar o território, recuperar atividades e reconstruir  as bonitas casas tradicionais, dispersas pelas freguesias. Memórias  de tempos auto-suficientes e de uma economia comunitária, mais solidária. 

Casa da Ponte 1865-1943

A tendência habitual é comprar no hipermercado mais próximo, mas como faço questão de não dar o milho todo à mesma galinha, tomo o pequeno almoço no café do Manuel João e compro pão e água na mercearia mais abaixo, a "Feira Franca". Felizmente ainda  existem uma mercearia e pelo menos três cafés em Serpins. Sigo em direção à praia fluvial da Senhora da Graça, passo no apeadeiro abandonado, ao lado da galeria Hanna Art Gallery - propriedade de uma holandesa de Amsterdão, que realiza exposições temporárias de fotografia e pintura - e, quase a chegar ao rio, no  pelourinho - que atesta a antiguidade da vila e a importância que já teve como concelho -, e no parque de campismo. 
Finalmente dou um mergulho no rio ceira. 

Monumento ao rei D. Manuel II. Outorgou a carta de foral a Serpins 

Ermida da Nossa Senhora do Socorro

Pelourinho 

Levada paralela ao rio Ceira

Rio Ceira 


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