quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Évora

Explorei a minha faceta de pedestrianistas urbano nas ruas de Évora. Caminhar é como um vício, depois de começar torna-se difícil de parar, há sempre uma vontade de chegar à próxima rua, ou praça. De ver sempre mais qualquer lugar. Não se repara nos detalhes, na insistência de caminhar. Não é um caminhar calmo e ponderado, os sítios passam depressa por nós. Fotografam-se e segue-se em frente. 
Em Évora foi um pouco assim. Neste tipo de deambulação, descobri que é uma cidade pequena. Acabei por voltar ao mesmo sitio, mais de uma vez. A cidade tem  ruas labirinticas, mas fáceis de achar porque todas vão dar à muralha ou à praça do Giraldo. As casas, caiadas de branco, de esquinas e molduras amarelas nas janelas, são uma característica forte da cidade - poderia definir Évora  desta forma. Mais as suas ruas estreitas. Deambulando nelas verifico que a cidade é um espelho de Portugal - antiga, velha, decadente, de casas devolutas, a gritar por socorro. Vivendo das memórias de uma grandiosidade passada, de episódios históricos, batalhas e reconquistas cristãs aos mouros. A cidade respira nobreza, eloquência e charme, mas tem fachadas abandonadas e ruas quase vazias. Dói imaginar o que Évora podia ser hoje e não é, o que Portugal podia ser e não é. 
Não reparei nos detalhes, apesar disso alguma coisa ficou em mim  da sua história. Os frades Franciscanos construíram a capela dos ossos, recolhendo,  no século XVII, ossadas nos cemitérios da cidade e das redondezas, colocando-os depois nas suas paredes e colunas. A intenção foi provocar uma reflexão sobre a transitoriedade da vida na Terra - na minha interpretação pessoal, de como tudo é vão, também - que se traduz no epitáfio, escrito no pórtico de entrada: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos." 
Capela dos ossos

São milhares de ossadas e crânios verdadeiros, uma ode à morte e ao destino de todos nós. 
Mas o que eu realmente gostei de ver foi a exposição de presépios de vários países, pertencentes à família Canha da Silva. A tradição de representar o nascimento de Cristo surgiu com são Francisco de Assis e, atualmente, os presépios representam diferentes sensibilidades culturais e espirituais   perante o nascimento do redentor. Num presépio do Brasil, a sagrada família é representada na forma de indígenas; num Japonês, a sagrada família veste quimonos. Presépios belíssimos e muito criativos. A exposição termina em Outubro de 2019. 
Presépio Japonês 

Presépio Português de Estremoz 

Presépio Guatemalteco 

A Sé catedral estava fechada, o museu dos duques de Cadaval, também. Portanto, não vi muito, senão caminhar de uma extremidade à outra da muralha. 
"Em Roma sê Romano". Descubro o restaurante "Os Manuéis" e quero provar o mais tradicional possível. A comida é requintada e aconchegante: como uma sopa de cação divinal, de chorar  por mais. As migas com costeleta de borrego: " há muito tempo que não comia umas assim", diz quem as comeu; vinho branco servido numa jarra de barro, sericaia e bolo de amêndoa rançoso. O que vale é que ninguém lê este blog, e assim, a sopa de cação dos Manuéis, continuará a ser uma iguaria que muito poucos conhecerão. 








Sopa de cação




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