segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Caminho Português da Costa: Esposende - Viana do Castelo



Esposende – Viana do Castelo (cerca de 27 Km)


Manhã tranquila, sem chuva. Esposende é uma vila pacata e bonita, ruas pedonais asseadas, estátuas a homenagear as pessoas e profissões da terra; placas na entrada dos monumentos que informam a sua origem e  história.  Do outro lado do rio ficam as dunas de Fão e a restinga da foz do Cávado

Esposende
Igreja Matriz de Esposende

Monumento ao Homem do Mar (Séc. XX)

Restinga do Cávado

                                      

Forte de São João Baptista (Séc. XVII/XVIII)
O trajeto segue até à Praia Suave Mar -  pessoas de várias idades fazem jogging bem agasalhadas ao longo da ecovia, outras caminham no areal, um  cão esgaravata a areia -, afasta-se do mar e segue paralelo a ele por estradas calcetadas de granito, quintas, vivendas, quintais, cameleiras em flor, oliveiras, árvores carregadas de limões e tangerinas.
No átrio do albergue de Marinhas uma seta indica 26 Km para Viana do Castelo. Um placard anuncia o núcleo museológico da Abelheira.
Estou rendido ao caminho. A sinalização é impecável, as localidades estão vocacionadas para receber peregrinos: várias mercearias e cafés anunciam o Menu do Peregrino e Carimbos na Credencial, algumas em Inglês: “Stamps Here”. Percebo que é muito antigo pelos cruzeiros e pequenas ermidas ao longo dele. 
Lerei mais à frente, em Castelo do Neiva, que a igreja local  é “o mais antigo templo  consagrado  a Santiago, fora do território Espanhol”, sagrada em 862, coeva das descobertas das relíquias do santo.  No entanto, vou ouvindo os passarinhos, passo por ruas quase sem ninguém, um ou outro idoso no quintal ou à janela a espreitar, entre o azul do mar e a encosta da serra com ermidas lá no alto. Tudo tranquilo.   
 As margens do rio Neiva são muito arborizadas e algo abruptas, com musgo nas pedras escorregadias e lama, é necessário cuidado. O som da água a correr sobre pequenos açudes e cascatas é relaxante.

Albergue das Marinhas. 




                                               


Nesta anta foram colocados seixos pintados à mão, com frases de boa sorte, desejos, fotografias e fitas deixados por peregrinos de várias partes do mundo.


O rio Neiva entre a vegetação

Travessia do rio Neiva e entrada no concelho de Viana do Castelo


 Já no concelho de Viana do Castelo, depois de atravessar o rio, apanho uma tangerina caída no chão que me sabe maravilhosamente.
Encontro o Sr. Fernando a plantar eucaliptos no meio do bosque, meto-me com ele:
- Isso é muito mau para os incêndios.
- Não vou tirar proveito deles, já estou velho, são para o meu filho.
- Por que não planta sobreiros?
- Trabalhei no Alentejo, há lá um ditado que diz:” O sobreiro dá o avô ao neto”, cresce muito devagar. O eucalipto cresce mais depressa.
- Mas a madeira do eucalipto arde muito rápido, a do sobreiro é mais lenta e mais cara.
- Não se pode cortar sobreiros – conclui o Sr. Fernando. Eu calo-me. Um desconhecido que surge de repente no meio do nada, é melhor não fazer mais perguntas.
Mas o sr. Fernando continua a falar, sento-me no meco de granito a ouvi-lo e a beber chá da garrafa térmica:  os terrenos em volta foram todos comprados por um tio avô que ganhou a lotaria no Brasil; as burocracias paroquias que envolvem a comissão fabriqueira e a construção de um albergue de peregrinos; o filho que está no Canadá.
Sigo pelo meio do bosque que nem um Capuchinho Vermelho, de repente surge a fachada barroca de um mosteiro entre as copas dos pinheiros. Á frente do antigo mosteiro Beneditino, uma escadaria ingreme até à ermida da Sra. do Crasto. Deixo a mochila cá em baixo e subo os degraus até lá acima, dos dois lados vários painéis de azulejo representam o calvário de Jesus Cristo. Subir a escadaria também é um pequeno calvário depois de todos os quilómetros percorridos a pé desde ontem.
Atravesso as freguesias de Castelo do Neiva, São Romão do Neiva e Vila Nova da Anha, onde, num cruzamento rodeado de arvoredo, um memorial relembra o assassinato do Sr. João Pereira de Saraiva, da freguesia da Apúlia, às mãos dos ladrões, no ano de 1836:  imaginei um senhor montado no seu cavalo a ser surpreendido neste sítio isolado por bandidos. O ambiente de um conto de Camilo Castelo Branco, que tão bem retratou esta região de Portugal no século XIX.
O trajeto de hoje é mais ingreme, irregular e fisicamente mais exigente. Chego a Darque por uma estrada que atravessa o mato. Num local mais escondido, um carro estacionado com uma fulana a ler uma revista.
 E, agora, o Capuchinho Vermelho pergunta: Por que razão está esta senhora neste sítio isolado a ler a revista dentro do carro? E é simpática, está a sorrir para mim.
Sigo pela N13: trânsito, barulho. Estou menos à vontade. Os carros não param na passadeira antes da ponte de ferro sobre o rio Lima. As vias laterais pedonais são muito estreitas, é desagradável caminhar nos acessos e na ponte.
Um dos critérios para medir a qualidade de vida de uma cidade deve ser o conforto e a segurança dos peões. Neste aspeto, o acesso a Viana, para quem vem por Darque, está muito aquém.

Fico na Pousada da Juventude de Viana do Castelo. O site das pousadas da juventude de Portugal está aqui. Não sou sócio, além dos 13€ pela dormida numa camarata com quatro camas, pago mais 2,5€ pela aquisição do cartão das pousadas da juventude, sem o qual não posso pernoitar. Exceção feita a quem possui a Credencial do Peregrino. O pequeno almoço está incluído no preço.
Estou com sorte, a receção colocou-me numa camarata sem mais ninguém, com vista para o rio Lima.  Um grupo de crianças e adolescentes de Guimarães está na pousada.
Vou jantar ao snack-bar restaurante Viana Remo por sugestão da rececionista.  Caminho ao longo da margem do  Lima. É noite, não se vê ninguém. Tudo silencioso. As luzes fosforescentes dos candeeiros do jardim e do outro lado do rio. O snack está quase vazio. Na TVI passa um concurso qualquer com a Cristina Ferreira, ouço os seus risinhos estridentes enquanto tento anotar as impressões da caminhada.
Igreja de Santiago (Castelo do Neiva) "O mais antigo templo consagrado a Santiago, fora do território Espanhol". 

Obra muito interessante. O recorte das letras no metal deixa passar a luz e lê-se o texto na sombra.

                                     

Estrada Romana entre Castelo e São Romão do Neiva. O painel informativo do caminho de Santiago, logo após a travessia do rio Neiva refere que "no concelho de Viana do Castelo, o Caminho percorre o traçado de uma antiga estrada Romana e da estrada Real ao longo de 30 Km e de sete freguesias"

                                     

Painel de azulejo na subida para a Sra. do Crasto

Caminho da Rebadeira (Vila Nova de Anha)

Vila Nova de Anha

A ponte de ferro para Viana. No tabuleiro inferior passa a linha férrea, no superior a nacional 13.

Rio Lima


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