sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ir a Banhos em Espinho
















Este texto é baseado no livro “Os Banhos de Mar em Espinho no início do século XX”, editado pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Espinho. As fotografias também foram copiadas do mesmo livro.

 
O hábito de frequentar as praias para os banhos de mar começa na Inglaterra, com o rei George III, na praia de weymouth, decorria o ano de 1789. A partir dessa data, as elites sociais acorrem a outras estâncias, tornando-se as mais conhecidas Brighton, na Inglaterra, e Dieppe em França.

Na primeira metade do século XIX essa prática já se havia instalado em algumas praias Portuguesas, Espinho era uma delas. Inicialmente, eram os estratos sociais mais elevados que frequentavam a praia, cuja prática foi-se estendendo gradualmente às classes mais baixas.



Espinho era uma aldeola de pescadores, constituída por palheiros, pertencente ao Concelho de Santa Maia da Feira. Nos anos trinta do século dezoito começam a surgir os primeiros palheiros em madeira, onde se alojam as famílias da alta burguesia oriundas das redondezas, e nas décadas seguintes dá-se uma acelerada expansão urbanística para receber a crescente procura de veraneantes.



Espanhóis, principalmente das províncias de Cáceres, Salamanca e Badajoz, que graças à ligação directa Madrid-Lisboa, inaugurada em 1863, começam a ocorrer em grande número à Praia de Espinho, assim como burgueses Portugueses, intelectuais e lavradores abastados. Muitos titulares de comendas nobiliárquicas, vindos de outros pontos do país, deslocam-se para aqui anos a fio. A sua chegada faz-se com grande aparato: chegam à estação em comboios repletos de familiares e convidados, trazem cavalos nos vagões, carruagens, equipamentos e cereais para distribuir pelos indigentes que chegam a Espinho à procura da esmola e da generosidade dos veraneantes.

 

É curiosa a comparação feita há mais de cem anos entre as mulheres Espanholas e Portuguesas. As Espanholas são mais esfuziantes e expansivas, relacionando-se facilmente com os outros, não são de cerimónias e, sem perder a dignidade, aproveitam como ninguém os dias que passam em Espinho, dançando e passeando. A mulher Portuguesa é mais tímida e preconceituosa.



O Banho de mar era tomado nos primeiros tempos com fins exclusivamente terapêuticos. A sua divulgação estava em rápida expansão na Europa em artigos científicos e de medicina publicados com frequência na época.

Gradualmente, a ida à praia começa a adquirir também um carácter lúdico. De manhã toma-se o banho terapêutico, habitualmente entre as 8 e as 10 (a gente “chique” prolonga-o até às 11).

As mudas de roupa realizam-se em barracas. Homens e mulheres vestem fatos de flanela, elas de vestido de cauda, touca e sapatinhos de pano, eles de camisola e calças. As classes mais baixas não mudam de roupa, vão ao mar antes das 8 da manhã e fazem-no nos lugares mais recônditos. Como não se despem, geralmente molham apenas os pés.



A tarde está reservada para os convívios sociais. Espinho passa a ter cafés com actuações ao vivo de sextetos espanhóis. O café Chinez torna-se o mais famoso de todos e, num desses sextetos, actua o violoncelista Pablo Casals ainda muito jovem: Terá sido num destes serões que encontrou Guilhermina Suggia pela primeira vez?

Surgem salas de jogo, salões que organizam soirées, o cinematógrafo e o teatro onde actuam algumas das melhores companhias Portuguesas.



Espinho ganha um novo tipo social, o Banheiro. Numa época em que poucos sabem nadar, este profissional acompanha as famílias nos banhos de mar. É estabelecido um contrato entre ambos no número de banhos a dar. Além disso, colabora muitas vezes na procura de casas para arrendar, no transporte de malas desde a estação até ao posto da alfândega e no aluguer de barracas. Muitos destes banheiros servem as mesmas famílias anos a fio, estabelecendo-se uma relação de muita confiança entre eles. Há famílias Espinhenses de pescadores que mantêm o negócio dezenas de anos, funcionando como uma espécie de empresa mantida pelos descendentes e sempre com o nome do primeiro banheiro.

Aurélio Paz dos Reis,  Batalha das Flores. Esplanada do Café Chinez, 1907

Aurélio Paz dos Reis, Grupo de Espanholas no jardim high-life, 1907


Aurélio Paz dos Reis, Interior do Café Chinez, sexteto musical ,1907


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