Seguimos as palavras de um velho
sábio que encontramos no caminho: “Parem onde virem o pássaro rosa cantar para vocês.” Assim fizemos. Enquanto observávamos
o painel informativo no início do percurso, a 300 metros do centro da velha cidade
das freiras, o pássaro rosa cantou. Ao
princípio, não o reconhecemos. Perante a sua insistência, olhamos para trás. Vimo-lo
aos nossos pés, dizendo: “É aqui!” Depois voou, assustado, pousando no ramo
mais seguro que encontrou. Fomos ao
longo do Arda, contando o tempo e os passos, agradados pela tranquilidade do caminho.
Os prados humedecidos pelas chuvas do primeiro mês, as levadas e as flores,
velhas casas senhoriais, acompanharam nosso breve rumo. O sol descia sua luz suave de fim de tarde,
decidimos regressar à cidade, acompanhando o arco-íris sobre a montanha.
Voltaremos mais tarde para
concluir o caminho. Talvez de bicicleta, fruindo no pouco tempo o vale plano do Arda, saindo e voltando por
passadiços e ecovias recentes, debaixo das sombras da folhagem frondosa que não
vimos.
O velho sábio disse-me uma última
vez: “Tu, que voltarás para trabalhos e dias entediantes, leva contigo estas
palavras… ri delas, aguenta. Frui a vida com humor. De um poema que conheces. Vê só a adaptação que fiz, propositadamente para
ti…”
Entregou-me um papel engelhado, previamente amarrotado, como se tivesse decidido deitá-lo fora e arrependido, no último momento, de o fazer, entregando-o ao primeiro transeunte que encontrasse, que, por acaso, fui eu. No qual estava escrito numa letra desorganizada, rasurada e reescrita várias vezes, evidenciando várias tentativas de escrever algo de jeito, o seguinte texto:
Ítaca (de regresso
ao trabalho)
Quando partires de regresso a Ítaca,
Deves orar por uma jornada longa,
Plena de desgaste e más
experiências.
Patrões, colegas, e mais chatices,
Um chefe irado – não os temas,
Pensa naqueles que nada fazem.
Se fores brioso e digno e um
sentir irado
Teu corpo toca e sobe pela
espinha acima.
Patrões, colegas, e mais chatices,
Chefes em fúria – sempre encontrarás
Se é no teu corpo que os levas
Ou a eles ceder perante ti.
Deves orar por uma jornada longa,
Que sejam muitas as manhãs de inverno,
Quando, com que desprazer, com
que esforço,
Entrares em escritórios iguais a
tantos outros!
Em gabinetes claustrofóbicos
evitarás deter-te
Requerendo audiências, pedidos e
autorizações
Que nunca mais chegam ….
(e por aí fora…)
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