sábado, 2 de janeiro de 2010

Caminhar
















Há um livro com este título, pensei que talvez ficasse bem uma citação ou um pensamento do autor, já que o pedestrianismo é um tema muito importante deste Blog, mas não o único, e estamos no início do novo ano. Seria uma homenagem a um dos mais radicais e interessantes personagens da Cultura Ocidental, embora pouco conhecido, Henry David Thoreau.
Os indivíduos excêntricos e “contra-a-corrente” sempre me fascinaram. Não sei como o descobri, o importante é que, como todos os bons autores, este forneceu-me pistas para outras leituras, correntes filosóficas e modos de pensar alternativos, que fazem confrontar o nosso estilo de vida e começar a duvidar de muitas situações, tidas como adquiridas e inquestionáveis.

Em “Caminhar” faz-se uma apologia das caminhadas, da natureza e do ar livre. Outro livro do mesmo autor é “Walden Pond ou a Vida no Bosque”, no qual Thoreau descreve minuciosamente a sua experiência de vida numa cabana que construiu num bosque e onde viveu vários meses, tentando depender o mínimo possível do exterior e sobrevivendo com a que natureza lhe fornecia. No livro “Em Defesa de John Brown” faz um manifesto político contra a condenação à morte de John Brown por ajudar escravos negros a fugir do Sul esclavagista dos Estados Unidos para o Canadá. Thoreu tornou-se num precursor da teoria da Desobediência Civil, que viria a ter muita influência em Tolstoi, Ghandi e que, mais tarde, regressaria aos Estados Unidos com Martin Luther King.

Cheguei a casa, procurei o livro e não o encontrei. Já o li há muitos anos juntamente com os restantes, por serem tão bons e raros devo tê-los guardado com tanto cuidado que agora não sei onde estão. Foram publicados em Portugal pela Antigona.


Há várias razões para caminhar: depois desta época de excessos é um bom motivo para começar a repor a forma e a elegância perdida, fazer algo diferente em vez dos habituais Centros Comerciais e passeios de carro, de que nos tornamos cada vez mais dependentes, conviver, usufruir a natureza, respirar ar puro, etc. Para mim são todas válidas.


Foi com estes pensamentos que fui ao Porto através de Espinho. Entre Grijó e Espinho a estrada em paralelos é uma chatice: não tem passeios, quase não se vê ninguém (apesar das muitas vivendas, algumas devolutas e degradadas que poderiam ser muito interessantes se recuperadas) e muitos carros, como é habitual. Depois, de Espinho ao Porto, pelo passadiço e marginal do rio Douro até à Ponte Dom Luís, o percurso é mais interessante porque se vai junto do mar e do rio. Há, habitualmente, muita gente a caminhar, contudo, pareceram-me poucos os caminhantes hoje.  A ameaça de chuva e vento deve ter dissuadido as pessoas. Agradou-me mais assim.

É visível a erosão causada pelos temporais dos últimos dias, em algumas partes o passadiço foi destruído e noutros locais já teve de se começar a construir um novo, paralelo ao anterior mas mais afastado do mar. Na Afurada, a lancha “Flor do Gás” não tem permissão da capitania para atravessar o rio. "Tem sido assim desde há uma semana",  diz-me o mestre, desgostoso por estar parado todo este tempo. O rio parece-me bastante calmo, o caudal é mais largo do que estou habituado a ver, está mais em cima. A calma pode ser muito enganadora. Se a capitania ordena para que não se atravesse o rio é porque existem razões fortes para isso -  A segurança é o mais importante - respondo.

Vou ter que seguir a pé até à Ribeira e desistir da Foz do Porto.


Uma consequência do mau tempo dos últimos dias...



Afurada


Porto, sempre incrivelmente fotogánico

Rua das Flores

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