quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Do Cais de São Roque ao Esteiro de Salreu (a pé, claro!)

 


Os cartazes no cais de São Roque informam das grandes rotas da Ria de Aveiro, sinalizadas por diferentes cores. Três rotas de centenas de quilómetros, temáticas, para serem percorridas essencialmente em bicicleta. Sítios que contam a história industrial, agrícola, religiosa, ambiental e social destas terras rodeadas de água, ligadas por canais que exerciam um papel fundamental nas atividades económicas da região, unindo pessoas, transportando os produtos retirados da água e dos campos: bateiras, moliceiros, mercantéis, barcos artesanais especializados no transporte de sal, moliço e outros bens.   

Sem fazer por isso e sem planos prévios, fui caminhando: 22 km do cais de São Roque ao esteiro de Salreu, pela rota azul, atravessando ecovias e passadiços da ria.

Por que não? Tinha tempo, umas tangerinas, água e uvas passas que sobraram do Natal, na pequena mochila. Roupa não muito adequada, mas sapatilhas confortáveis, usadas no dia-a-dia. O dia de sol estava esplêndido, não choveria, de certeza. Tinha boina e protetor solar.

Por que não? Ir em frente  e depois apanhar o comboio em Estarreja em  vez de deambular por Aveiro, que já conheço e onde posso voltar sempre.

Os trilhos de grande rota podem ser seguidos em vários sentidos, sul, norte, interior, coincidir com outros trilhos: a grande rota do Atlântico, os caminhos de Santiago e pequenas rotas locais, num emaranhado de trajetos para todos os gostos, à disposição de serem explorados. Sem motores.  

Seguindo para norte, ao longo do canal de São Roque, logo após a  cabine de madeira (desconheço a sua função) vira-se à esquerda, atravessando a A25 pelo viaduto – a parte menos interessante do percurso. Segue-se a sinalização, caminhando mais 30 minutos, até ao cais de Esgueira. Local com estacionamento, bar e placas informativas onde começam os passadiços de madeira sobre a ria. Caminha-se até  Vilarinho por trechos de terra e matos, essencialmente de eucaliptais, passando por belas vivendas ajardinadas com vistas soberbas para a ria. 

Painéis interpretativos informam da flora e fauna mais comum. Várias pessoas percorrem o passadiço.

Mais à frente, a partir do cais do Príncipe do Rio Novo, raramente me cruzarei com pessoas. Serão os trechos mais interessantes,  a paisagem torna-se mais variada. Atravesso o rio Vouga, sigo por uma estrada bucólica no concelho de Albergaria-a-Velha, partilhada por outros trajetos de pequena rota locais. Entro nos trilhos do Bioria, pertencentes a Estarreja.

A sinalização da grande rota azul vai surgindo em marcos de madeira indicando a distância para o centro de Estarreja. 

Encontro uma encruzilhada de trilhos interessantes para serem percorridos de bicicleta e a pé.

Deve ser  fascinante fazer em bicicleta os labirintos de terra transformados  pelo homem em campos agrícolas: o Bocage -  mosaico de culturas e pastagens  variadas,  onde se encontram cavalos e vacas de raça marinhoa.  

Percorro caminhos debaixo de silêncio, interrompido  pelo grito das ocasionais cegonhas e garças que levantam voo assustadas,  por detrás dos caniços.

Termino no Centro de Interpretação Ambiental de Salreu. Famílias passeiam nas bicicletas alugadas.  Sigo mais 20 minutos a pé,  até ao apeadeiro.  Ninguém na linha, silêncio. A voz feminina, gravada, debita do altifalante: “Senhores passageiros peço a vossa atenção para a passagem de um comboio sem paragem na linha número 1. Mantenham-se atrás da linha de  segurança.” O Alfa pendular passa veloz três metros à minha frente - massa gigantesca num movimento louco que estilhaçaria qualquer objeto à sua frente. Parece que vou ser arrastado pela sucção do vento. Seguro-me bem ao cadeirão metálico. Volta o silêncio e o vazio ao apeadeiro solitário.  Aguardo a paragem do próximo suburbano.

Outros Links:

Bioria

Percursos de Albergaria-a-Velha

Grandes Rotas de Aveiro

Suburbanos Porto - Aveiro

Batel na ria de Aveiro

Mural de azulejos junto à capela de São Gonçalinho, Aveiro

Pormenor do percurso que eu iria iniciar entre o cais de São Roque e o esteiro de Salreu

Placa informativa no início do passadiço,  cais de Esgueira

local de observação


A distância que eu tinha pela frente


Clube de Canoagem de Cacia

Ponte do rio Novo do Príncipe

Rio Vouga

"sigo por uma estrada bucólica no concelho de Albergaria-a-Velha"


A aproximar-me dos trilhos do Bioria



Torre instável junto às comportas de Canelas

Comportas de Canelas

Centro de Interpretação Ambiental, Bioria

Um dos vários painéis do percurso

A ria e o céu azul


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