O autor do ensaio, o filósofo
Francês Serge Latouche, considera o decrescimento económico o único meio de
garantir a sustentabilidade e a regeneração ambiental do planeta.
A vida moderna está repleta de necessidades criadas artificialmente, insatisfação, problemas psicológicos, depressões, intoxicações, doenças provocadas pelo consumo permanente de alimentos processados, junk food, a comida de plástico. Julga-se que a esperança média de vida iniciou o seu declínio. É apresentado o historial do movimento Slowfood, como parte do decrescimento, por oposição ao conceito do fastfood, reflexo da economia expansionista e extrativista.
O consumismo é como uma toxicodependência. Procura-se a felicidade pelo hiperconsumo, o crescimento económico gera necessidades fictícias. O ser humano está constantemente insatisfeito. O decrescimento implica, em termos individuais, viver frugalmente. Só dessa forma se poderá atingir uma vida mais plena.
Felicidade, Gastronomia e Decrescimento,
o subtítulo do livro, explica de que forma estes conceitos estão interligados.
A gastronomia tradicional representa a proximidade com os produtos da terra, a
sustentabilidade e o respeito pelos ciclos da terra-mãe, o buenVivir, filosofia adaptada dos índigenas da América do Sul.
Serge Latouch evoca em diversos
parágrafos Ivan Illich, o seu “mentor”, recuperando o significado de convivialidade e a utilização de instrumentos de controlo público,
usados na medida da real necessidade da comunidade, como forma de
reduzir a dependência do mercado. As opções políticas devem privilegiar técnicas
e ferramentas que sirvam em primeiro lugar as pessoas.
O autor aborda os 10 princípios
do Pequeno Tratado de Decrescimento Sereno. Que se podem resumir da
seguinte forma:
reduzir a pegada ecológica e o
desperdício energético através da relocalização das atividades económicas, aproximando-as
dos locais onde vivem os trabalhadores; restaurar a agricultura tradicional; reorientar
a investigação científica de forma a que as ferramentas utilizadas na produção
estejam ao alcance de todos, valorizando os bens relacionais; evitar o uso do
dinheiro; introduzir ecotaxas; restringir a publicidade.
As tentativas para reduzir os
desperdícios são anuladas pelo crescimento económico permanente e o aumento
constante da produção. O autor compara as tentativas de redução do lixo com os
mitos gregos de Sísifo e da jarra das Danaides: por muito que se tente reduzir aumenta sempre,
enquanto continuar o mesmo paradigma económico. O modelo baseado no crescimento
do consumo nunca alcançará a redução dos desperdícios. As iniciativas que defendem
a sua redução, mas que não propõem a alteração do modelo económico, não passam de Greenwashing.
Só com o decrescimento será possível começar a reduzir o lixo.
É abordada a “Banalidade da Catástrofe”.
As alterações climáticas são geralmente aceites e consensuais, ao contrário do
que acontecia no início deste século. Hoje, perante as evidências, a comunicação
social tornou-as “inevitáveis”, banalizando as tragédias decorrentes das
mesmas. As notícias fantásticas contabilizadas pelo número de mortos, pela destruição
de cidades e habitats são transmitidas com o intuito de ganhar as audiências
televisivas. A banalização da catástrofe tornou-se no maior obstáculo para a
evitar e definir “uma prudência adaptada aos tempos atuais”.
Os três ingredientes necessários
para que a sociedade de consumo continue a sua senda destrutiva são: a
publicidade, o crédito ao consumo e a obsolescência programada.
A publicidade cria
incessantemente a necessidade de consumir; o crédito permite a compra permanente
de bens; a obsolescência programada manipula artificialmente o tempo de vida
dos produtos para que os consumidores tenham de procurar constantemente novos substitutos.
A invenção do relógio na idade
média significou o começo da modernidade, com a contagem do tempo por meios mecânicos,
com a sua uniformização em territórios cada vez mais vastos. Perdeu-se o
sentido do sagrado, a relação com os ciclos da terra-mãe. O tempo tornou-se
escasso, passou a ser cronometrado ao segundo. Compra-se “tempo”, férias pagas, lazer. É
necessário trabalhar para ganhar dinheiro, contabiliza-se ao minuto o tempo que
se ganha e se perde. Ele próprio é um
bem de consumo e o tempo livre tornou-se insuportável. O Homem não sabe o que
fazer no tempo livre, sente-se perdido. É necessário valorizar a lentidão, recuperar
outros saberes, a convivialidade, os objetos relacionais. Fruir o momento.
O decrescimento significa
igualmente uma descolonização mental, a libertação deste ciclo insano, alterando o paradigma filosófico utilitarista e antropocêntrico para o ecocêntrico. Um telemóvel
é composto por minerais raros, extraídos da terra. Se, por exemplo, o ser
humano começar a pensar que esses minerais fazem parte da terra-mãe, do ciclo
das rochas, a conhecer a matéria numa perspetiva mais holística, então
estará no início da transformação mental que o levará a reduzir o consumo.
Deve-se privilegiar o Índice de Felicidade
Bruta em detrimento do PIB. Uma economia baseada no lucro e no crescimento económico
infinito é um absurdo num planeta de recursos finitos.