sábado, 18 de julho de 2009

Vislumbres de Espinho


O Museu Municipal de Espinho foi inaugurado há poucas semanas na antiga fábrica de conservas Brandão Gomes,  recuperada para receber o espólio histórico da cidade e da fábrica.
É um espaço com um interior amplo,  de  dois pisos e corredores largos. No primeiro piso está exposta a história da antiga fábrica desde a  fundação, no fim do século XIX, até à falência e encerramento em 1985; a secção dedicada à Arte da Xávega e um espaço para as exposições temporárias, virado a poente, com uma soberba vista para o mar e para a chaminé que resta da fábrica.  Neste momento alberga  uma exposição de escultura.
No piso superior está a decorrer uma exposição temporária de fotografia – Litorais, até 31 de Agosto.

Este foi o final de um caminho iniciado em Grijó. Duas horas depois encontrava-me em Espinho a fotografar os barcos de pesca artesanal.
Esclareci algumas dúvidas no museu. Não fazia ideia que no seu interior encontraria a História da arte da Xávega e dos pescadores de Espinho. Foi uma surpresa agradável, documentada com muitos textos e fotografias fantásticas.

A Arte da Xávega é um sistema de pesca artesanal de arrasto. O barco era rebocado do mar pelos bois, prática que ainda vigorava nos anos setenta do século passado, sendo os animais gradualmente substituídos pelos tractores.


Os barcos têm uma origem muito antiga que remonta ao Médio Oriente e foram possivelmente introduzidos pelos Fenícios.

Outra secção do museu retrata a vida das famílias vareiras, documentada em textos, fotografia e filmes.


O multimédia é uma constante. Há vários monitores a partir dos quais podemos, interactivamente, aceder à diversa informação dispersa pelo museu.

Quanto às conservas, é apresentada de forma  muito detalhada a evolução da fábrica e das condições sociais dos  trabalhadores.  São mostrados vários objectos e documentos relacionados com a história das conservas em Portugal. O mais curioso para mim foram os cartazes e o design das embalagens.

O museu ainda não funciona a 100 porcento, falta a loja de merchandising que abrirá brevemente e os espaços pedagógicos do piso superior, que pareceram encerrados ainda.

No fim da visita foi-me indicada a Biblioteca Municipal de Espinho que possui as fotografias originais expostas no Museu. Não existem à venda em postal, mas podem ser acedidas através do site http://www.cm-espinho.pt/, uma delas é a que se vê no início desta mensagem.

A caminho de Espinho passei pelas freguesias de Guetim e Anta. O costume: povoamento disperso, densamente habitado, e os vestígios de um passado rural que quase já não existe.
Espigueiros, quintas e bancos de pedra na entrada das casas mais antigas para os momentos de descanso e tagarelice com os vizinhos, que hoje já não têm utilidade porque perdeu-se o hábito de tagarelar tranquilamente ao fim do dia, sem pressas, sem televisão, talvez com um copinho de tinto na mão nas noites quentes de verão, as mulheres a coscuvilhar com a vizinha enquanto os homens trabalhavam nos campos... Misturadas com estes vestígios do passado  há as urbanizações e algumas  vivendas aparatosas que foram surgindo no meio desta paisagem rural, por vezes desenquadradas e feias,   sem qualquer ordenamento e previsões de habitabilidade. Resultado: muitas casas e apartamentos novos por vender, enquanto que as habitações tradicionais,  mais bonitas e elegantes, muitas delas obviamente a necessitar de restauração, estão devolutas e aos poucos vão desaparecendo e com elas a memória do nosso passado.  

Contudo, houve algumas surpresas. Em Grijó passei numa rua com o nome de Quinta Amarela. Sabia que existe uma Rua da Quinta Amarela no Porto, não em Grijó. Nesta rua há uma casa senhorial muito bonita, a Quinta de Nossa Senhora da Conceição, propriedade privada que possui no interior uma capelinha, visível da rua.


Em Espinho vejo do outro lado da rua uma colega de Conselho de turma, chamo-a e ficamos ali a palrar no passeio. Pensamos em fazer um almoço na próxima semana com os outros elementos da equipa pedagógica, em jeito de despedida das reuniões e das inúmeras dores de cabeça causadas pela nossa turma de alunos.

No número 277 da rua 19 fica a casa onde viveu o escritor Manuel Laranjeira. Uma figura que conviveu com Miguel de Unamuno, o escritor e filósofo Espanhol que escreveu um livro intitulado Viagem a Portugal, no qual  considerou o povo Português depressivo e dado a suicídios, exemplificando com os casos abundantes na história recente da época: finais do século dezanove, princípios do século vinte: Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Soares dos Reis,...
Manuel Laranjeira explicou  a Miguel de Unamuno a razões desse estado de alma colectivo e do seu próprio espírito depressivo.
Numa outra correspondência com Amadeu de Souza-Cardoso, Manuel Laranjeira mostrou-se muito céptico da vida e descrente das possibilidades de sentir alegria verdadeira, mesmo perante a possibilidade de visitar o amigo em Paris. Ele próprio também se suicidou, aos  34 anos.

No mar, sempre o vento. É raro o dia de Verão em que não há vento junto ao mar,  a famosa Nortada, comum nos dias quentes e que torna a presença na praia desagradável. O mar: frio e bravo, característico desta costa Atlântica, que continua a sustentar muitas famílias de pescadores e abundante de sardinhas, vendidas antigamente  nas latas de Conserva Brandão e Gomes.
Grijó: casa rural

Detalhe do batente

Espinho em dia de nortada

O mar bravo 
Os barcos da Xávega. Este formato existe há centenas de anos. A única modificação foi a introdução de motor
Pormenor das proas
Uma da tarde: Bairro dos pescadores
Azulejos numa casa de Espinho
Museu Municipal de Espinho (antiga fábrica de conservas Brandão Gomes)



Produtos comercializados pela fábrica


1 comentário:

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado