segunda-feira, 4 de maio de 2009

Serra da Estrela: Loriga - Torre


Saída de Grijó às 5. 30 da manhã e chegada a Loriga às 8 horas. 160 kilómetros pela EN1, A 25 (saída 18) e estrada Nacional 231 passando em Nelas e Seia.

O Trajecto começa num desvio à esquerda, à saída da vila para a Covilhã (ainda na EN 231) junto ao restaurante “O Vicente”.
O percurso desenvolve-se no Planalto Superior da Serra ao qual foi atribuído o estatuto de Reserva Biogenética pelo Conselho da Europa em Março de 1993. Trata-se de uma paisagem montanhosa, acima dos 1000 metros, com um solo considerado frágil que envolve as nascentes do Mondego, Alva e Zêzere.

São 8500 metros de distância com início à cota dos 770 metros e chegada aos 1993 metros de altitude da Torre. Um declive de 14 %.

A freguesia de Loriga está enquadrada por enormes fragas e socalcos no dorso, transformados pelo homem ao longo dos séculos. A vila foi um importante centro de lanifícios e de extracção de Volfrâmio e Estanho. A riqueza do passado é hoje visível no charme de alguns dos seus edifícios.

O trilho está sinalizado pelas mariolas, colocadas por pastores, e outros andarilhos da serra. O Parque Natural da Serra da Estrela também identificou o percurso com uma linha cor-de-rosa que aparece pintada em muitas rochas.

Um ribeiro escorre pelos granitos. A vegetação é rasteira com muitas giestas e algumas alfazemas.
Lentamente vamos subindo até à primeira etapa do trajecto: a barragem do Covão do Meio. A paisagem muda e maravilha-nos com o imenso vale que percorremos. Observamos alguns pastos bucólicos. Um pastor dá-nos a indicação que ainda falta muito para a Torre e, sem perguntarmos, diz-nos que tem 76 anos e anda nesta vida desde os 16.
Os ribeiros refrescam-nos: água pura da montanha a correr cristalina. Que o diga a amiga V. que aproveita todas as oportunidades para se refrescar.
Não resisto e molho os pés na água translúcida de um ribeiro. É tão límpida que se vê a areia. Caminho uns metros pelo leito, mas está tão frio que parece que os pés racham. Não aguento mais e saio.
Paramos num pasto de turfa para o primeiro lanche da caminhada. Um local convidativo percorrido pela água de um riacho e com uma pequena lagoa em que se vê o fundo.
No fim, descansamos deitados no chão mole e arenoso a ouvir a queda de água próxima.

Ao reiniciar a caminhada, uns metros mais à frente, começa-se a ver o muro da barragem e tem-se uma das partes mais íngremes do trajecto sendo necessário agarrarmo-nos às rochas para subir.
A barragem do Covão do Meio é um imenso reservatório de água para fins hidroeléctricos.
A neve que ainda não derreteu começa a ser cada vez mais nítida nas encostas do vale e mais adiante começamos a caminhar nela.
O dia de sol radioso e a neve transmitem uma luminosidade invulgar. Os musgos do granito, os regatos de água e as novas lagoas que encontramos no caminho são uma paisagem soberba. Apetece escorregar pela neve a fazer “sku” até à água.
Há alguma perigosidade ao caminhar na neve, debaixo pode não haver nada. Foi assim que coloquei um pé em falso e enfiei a perna quase até à anca. Ao chegar a casa descobri que tinha uma pisadura na coxa.
Grita-se de alegria e alivio no meio desta paisagem que nos devolve o eco e depois o silêncio.
Que alegria caminhar na neve com sol e em manga curta. Tiram-se mais umas fotografias e brinca-se com a situação: pode ser que dê para enganar alguém e depois dizer que tivemos umas férias de neve algures num sítio exótico.
Começam-se a ver as Torres cilindricas do observatório astronómico. Depois de um percurso tão bonito a chegada à Torre é uma desilusão: um local feio, arquitectonicamente desarmonioso, com uns barracões de artesanato, muitos carros de turistas e o teleférico.
Então isto é que é a Torre, um dos pontos mais turístico de Portugal? Um sítio estragado e desmazelado de turismo de massas onde se vendem muitas recordações da serra e onde o forasteiro é explorado: uma cerveja Tagus de 33 cl a 1, 6 € !?
Quem vem de carro não vê a serra: é como estar em casa a vê-la na televisão, digo eu. Não capta a sua essência, diz o amigo P.
Quem percorre os trilhos ancestrais de pastores e cabras sente-a, cheira-a, imbui-se nela, tem a oportunidade de mexer na neve e na água, bebê-la límpida e fresca, caminhar e cansar-se, sentir os seus mistérios e limites individuais. Estamos dependentes de nós próprios e da entreajuda do grupo.
Ao fim de sete horas terminámos o caminho - o tempo suficiente de algumas paragens para comer e simplesmente observar e fruir a paisagem.


1 comentário:

asx disse...
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