quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Malaposta


Calisto Elói Benevides Barbuda é a personagem central do romance "A queda de um Anjo", de Camilo Castelo Branco. Torna-se deputado por Miranda do Douro e segue para a capital, embarcando no Porto, no barco a vapor. O livro foi publicado em 1866.  CCB retrata um período recuado mais alguns anos,  porque o nosso herói ainda não tinha comboio para fazer a viagem: a linha  Porto - Lisboa ficou concluída em 1864. 

Em Lisboa, Calisto Benevides corrompe-se. O título do livro é uma  metáfora do seu declínio moral. 


A viagem   demorava muitas horas, acarretava perigos - já referi numa entrada deste blog  o naufrágio do vapor "Porto", em 1852.   Era, no entanto, a forma mais rápida de ligar as duas cidades. 

Em terra, havia  o serviço da malaposta, demorava 34 horas, incluía pernoita e duas ceias. Nas paragens cuidavam-se dos cavalos, do bem-estar do cocheiro e do seu auxiliar, procediam-se a reparações, trocavam-se as bestas e os homens, em género de estafeta, para chegar mais rápido ao destino, com conforto. O preço da passagem era 45 Reis por quilómetro, em 1ª classe, e 30, em 2ª. Os painéis de azulejo que revestem as salas do restaurante Pompeu, na EN1, em Anadia, homenageiam o transporte e as funções primordiais do edifício. As salas amplas, as madeiras polidas, os tetos altos e os candelabros em estilo clássico, conferem alguma imponência e solenidade ao restaurante. Além disso, come-se bem. É um ponto de paragem, diria que: "obrigatório". No passado para apanhar a malaposta, no presente para fruir a boa gastronomia nacional e viajar mentalmente a outra época, num sítio com "classe".








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