sábado, 13 de novembro de 2021

Moinhos de Jancido



O GPS levou-nos para o parque de merendas de Covelo, no rio Sousa, Gondomar. Não vimos ninguém do grupo. Telefonamos à Isabel Fernandes que confirmou não ser ali o ponto de encontro. 

Os velhotes na tasca disseram-nos haver outro parque de merendas junto ao centro de saúde de Foz do Sousa, um dos senhores estava de  saída e ofereceu-se para  seguirmos atrás do seu carro. 

O melhor GPS, por vezes, é entrar nas tascas, meter conversa, e logo adquirem-se informações preciosas do lugar e, como foi o caso, mais ajuda ainda levando - nos ao próprio lugar. 

Ao chegar vimos a Isabel ao telemóvel a dar orientações a outros colegas que estavam ainda mais perdidos do que nós. 

Começamos o percurso junto à Ponte de Travassos, onde o rio Ferreira desagua no Sousa. É evidente a eutrofização da água. Vastas camadas de jacintos cobrem a superfície, há um cheiro esquisito, garrafas de plástico e lixo indiferenciado estão parados no açude da velha ponte que antigamente ligava as localidades Gondomarenses de Gens e Foz do Sousa. Apesar do aspeto estagnado e sujo da água, um homem sentado no tabuleiro  vai pescando com a cana de pesca pequenos peixinhos. Diz que num bom dia chega a apanhar 50. 

Seguimos junto ao rio até à estação elevatória, construída no século XIX pelos franceses da companie national des eaux. É um magnífico exemplar da arquitectura industrial que se encontra abandonado, mantem, no entanto, a fachada em bom estado. Foi inaugurado em 1882 e serviu para abastecer de água a cidade do Porto, substituindo e complementando os processos habituais, nomeadamente as nascentes da Arca D' Água. Depois de captada neste local era elevada até Jovim, de onde seguia em condutas até ao Porto. Era proibido construir sobre as condutas, a atual avenida Mário Soares foi construída sobre uma rua chamada da Conduta. Do outro lado da margem caminhamos alguns minutos  por uma via de terra batida sem declive e sempre com a mesma largura, foi a antiga  linha  de caminho de ferro que serviu para transportar carvão de Midões até ao rio Douro, de onde seguia por barco para todo o mundo. Foi  explorada por uma  firma inglesa, a "Hastings & Tait". 

O Sr. António Gonçalves decidiu em 2016, com mais quatro amigos, começar a recuperação dos moinhos de Jancido. Estava tudo coberto de silvas e degradado. Tem sido um trabalho árduo  de voluntariado e muita disponibilidade pessoal. Aos sábados à tarde vêm recuperar os moinhos, limpar a terra, abrir trilhos, replantar plantas autóctones (bordos, choupos, medronheiros, loureiros,...) - já plantaram 1400 árvores. Sem fins lucrativos, sem se constituírem como coletividade para evitar burocracias, recorrem diretamente à ajuda dos particulares que quiserem contribuir. Todos os moinhos e terrenos são propriedade particular. Por insistência do António Gonçalves e do seu grupo a câmara municipal de Gondomar introduziu o primeiro percurso de pequena rota homologado no concelho - o PR1 GDM Linha de Midões - que segue junto ao rio Sousa e passa nos moinhos.

Depois da ponte de Longras, o grupo do António acompanhado das esposas e de outros amigos, confraternizava à volta de uma mesa, depois de mais um sábado de trabalho a desbastar o mato e a recuperar mais um moinho, o nono, desta linha de água que segue até ao Sousa. Um dos amigos, o Paulo Ferreira, realizou o documentário "O silêncio dos moinhos" que brevemente passará na SIC. 





















 

sábado, 6 de novembro de 2021

Parque das Serras do Porto


A ideia surgiu em 1973 por intermédio de dois arquitectos que planearam um modelo urbanístico envolvendo e integrando os concelhos da zona metropolitana do Porto, como ocorreu na  véspera do 25 de Abril, o projeto perdeu-se com a mudança política. 

Em 2016 os concelhos de Valongo, Gondomar e Paredes decidiram criar um gabinete conjunto e discutir de que forma poderiam valorizar o  património natural comum, nomeadamente as serras  que partilham entre si. 

Houve discussões e assembleias municipais participativas que reuniram grupos e interesses antagónicos. O resultado foi a criação do Parque das Serras do Porto, um nome que mais facilmente projeta para o exterior a nova  associação com sede no centro de Valongo. Poderia ser o nome de um dos três concelhos, contudo os outros não aceitariam a designação e assim ficou o nome da mais importante  cidade da região. 

É um caso raro de sucesso na coordenação intermunicipal. Estão a ser traçados percursos pedestres, replantadas árvores autóctones, substituindo os eucaliptos que ocupam as encostas, investindo na divulgação do rico património local. 

O interior da Serra de Valongo está repleto de túneis escavados pelos romanos para extrair o ouro dos filões  de quartzo. Há muita história e património para descobrir. 

O professor José Fernandes foi-nos mostrando mapas antigos e recentes da região, contando histórias e curiosidades sobre a geografia e o povo. As terras xistosas  são mais pobres e inférteis do que as graníticas, por este motivo estas serras, que se estendem até Arouca, sempre foram pouco povoadas, em contraste com o Minho.

 A aldeia de Couce é um exemplo de abandono e esquecimento: próxima  de São Pedro da Cova, dentro do concelho de Gondomar, perdida na serra e com maus acessos, no entanto geograficamente mais próxima de Valongo. Os seus 16 habitantes consideram-se valonguenses. Foi um povoado oficina romano, construído para alojar os artífices que trabalhavam nas atividades associadas à exploração mineira, provavelmente uma lavaria - onde se lavavam os resíduos retirados da mina. 

Nos séculos XVIII e XIX explorou-se volfrâmio e antimónio. As pedreiras de Valongo são famosas pelas suas lajes únicas de xisto com as quais se fabricaram as melhores mesas de bilhar do mundo. Debaixo do tecido verde era colocada uma laje que permitia melhor suavidade  no contacto com a bola e  deslocamento sobre a mesa.

As águas rumorosas e velozes  do rio  Ferreira são enganadoras, a espuma que se vê deve-se ao mau funcionamento da ETAR de Campo, incapaz de limpar devidamente as águas residuais, devolvendo-as  poluídas e mal cheirosas.