quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Algumas inovações artísticas em Florença

 

O Nascimento de Vénus, pormenor

A Itália rompeu com as representações bidimensionais e hieráticas da pintura românica e entrou diretamente no renascimento. O gótico foi discreto, não teve a importância que adquiriu noutros países europeus. O estilo estava associado aos germânicos, os povos bárbaros que arrasaram a península após a queda do império.

Florença foi nos séculos XIV e XV o centro de onde irradiou o dinamismo artístico que quebrou dogmas culturais e introduziu a europa numa nova época, tendo o homem como "o centro do mundo", afastando as representações únicas de cariz religioso. Estas começaram, contudo, a revelar ao nível técnico inovações, a mais relevante de todas, o efeito de profundidade.   A Santa Trinitá Maesta, Cimabue (Galeria del Uffizi), finais do séc. XIII, prenuncia esse novo mundo. Ainda de características bizantinas, a representação de santos em efígie, é pintada com a introdução da perspetiva.

Santa Trinitá Maesta, Cimabue (Galeria dell Uffizi, Florença) 

Giotto é  mais inovador, no quadro   Lamentação  (Capella dei Scrovegni, Pádua)  o circulo de anjos no céu sobre  as figuras que lamentam a morte de Jesus, gera a ilusão de voo. É representada a dor  através das mãos no rosto e  dos braços abertos.
A Lamentação 


Mas, o quadro, segundo António Mega Ferreira (Itália, Práticas de Viagem), que mais rompeu com o dogma românico  foi O Dinheiro dos Tributos, de Masaccio (Igreja de Santa Maria del Carmine): uma verdadeira “revolução” na pintura. Dominando a arte da perspetiva, Masaccio coloca as personagens da história em diferentes níveis de profundidade, contando na mesma tela os três momentos do episódio do evangelho de São Mateus.  

O Dinheiro dos Tributos, Masaccio


A Trindade, Masaccio (Basílica de Santa Maria Novella). Novamente o efeito de perspetiva. 

Outro inovador foi Botticelli. Na sua mais icónica  pintura, O Nascimento de Vénus (Galeria del Uffizi), desenhou Vénus de rosto inexpressivo e desproporcionado, racionalizando um impossível ideal de beleza.  A figura da Deusa é simbólica. Representa o amor de Giuliano de Medici -  assassinado jovem durante a celebração da missa,   na conspiração dos Pazzi (1471) -,  por Simonetta Vespúcci, “a mulher mais bela do Renascimento” e modelo do pintor. A musa viveu em Portovenere, cidadezinha encostada às Cinque Terre na região da Ligúria. 


Retrato de Simonetta Vespúcci, modelo de Botticelli. 

A capela dos Pazzi, na basilica de Santa Crocce. Ao contrário da exuberância demonstrada em muitas capelas florentinas, esta é austera e  destituída de objetos valiosos. A razão deve-se ao facto da família Pazzi, rival dos Medici , ter atentado contra esta. O complô falhou, os Pazzi foram assassinados a mando de Lorenzo de Medici, o magnífico. 

Outros detalhes inovadores são evidentes na estátua de David (Michelangelo). Nesta cópia da Piazza della Signoria (a obra original está na Academia Dell´Arte),   as mãos, os pés e a cabeça estão sobredimensionados. 

Basílica de Santa Crocce


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