Palmilheiro: Cinque Terre

Vernazza

É agradável viajar de comboio. Dormita-se, lê-se, escreve-se, vê-se a paisagem desfilar pela janela e as pessoas absorvidas nas suas vidas.

O comboio Regionale La Spezia - Sestri Levante para em todas as Cinque Terre.

A costa é montanhosa, recortada por penínsulas, promontórios, rochedos, aldeias centenárias de vielas que desembocam no mar e em pequenos portos de pesca.

Cultivam-se pomares, produz-se vinho e azeite. Criam-se cabras. O Val Di vara tem certificação biológica. No entanto, a principal fonte de riqueza é o turismo.

Um dos destinos mais procurados do mundo. A estação de La Spezia está apinhada de turistas que comutam com as Cinque Terre. Os passageiros apinham-se no túnel de acesso às plataformas, entopem escadarias e escadas rolantes, não se consegue avançar mais rápido. É necessário ir com paciência, ao ritmo lento do magote da multidão.

O comboio é confortável, moderno, limpo. Carruagens de dois pisos desnivelados. Atravessa túneis. Subitamente, o mar azul, casas coloridas penduradas nas falésias, água translúcida, veleiros ao largo, miúdos a mergulhar das rochas.

Estação de Riomaggiore, a primeira das Cinque Terre. Ingleses, Alemães, Japoneses, turistas de várias proveniências. Mulheres bonitas de toad bag com toalha de praia, vestidos leves de verão, de algodão transparente, notando - se o bikini, de sandálias de tacão alto. Informalmente elegantes.

Nota-se quem percorre a linha pela primeira vez: "Anda ver, anda ver!" - o passageiro muda de lugar para fotografar a paisagem.

Outro túnel. Escuridão. Outra vez o sol e a luz. Estação de Manarola, numa falésia junto ao mar. Mais passageiros a entrar e a sair.

Seguem-se Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare. Continuam a surgir casinhas coloridas em cima dos promontórios. As plataformas das estações sempre apinhadas de turistas a entrar e a sair.

O Cinque Terre Card de um dia custa 20 €. Permite viajar de comboio entre as cinco localidades, nos autocarros locais, visitar museus, percorrer dois trilhos pagos - todos os outros são gratuitos - utilizar casas de banho públicas (a entrada no WC custa 1 €).

Uma turista americana, algo incrédula com a fila para a casa de banho, perguntou: "É preciso um cartão para mijar de graça?".

O sentiero verde-azurro tem a extensão de 12 km, atravessa as cinco aldeias. O troço Monterosso - Vernazza - Corniglia é pago (7,5€). Os checkpoints vendem o bilhete e asseguram as medidas de segurança básica, verificando que os caminhantes usam calçado adequado - um fulano foi barrado por calçar chinelos de fivela - esclarecem dúvidas. O calor tórrido, a falta de sombras e os declives acentuados são obstáculos a ter em conta. A Via dell' Amore (Riomaggiore - Manarola) está interrompida, em obras devido a um desabamento que causou feridos.

Se me perguntarem qual das aldeias das Cinque Terre é a mais bonita, não sei.

Não gostei da praia em Corniglia, isolada, com um acesso manhoso por um túnel malcheiroso. A aldeia é charmosa, alcandorada sobre as rochas.

Monterosso tem uma longa esplanada com praias pagas, exceto nas extremidades com duas gratuitas. Todas elas apinhadas de turistas.

Vernazza tem uma rua central que parece o São João no Porto. Elegante e com muitas lojinhas de artigos tradicionais.

Achei Riomaggiore algo claustrofóbico, junto ao porto. A parte alta é bem arejada e aberta. Tem o túnel mais lindo de todos.

Em Manarola dão-se mergulhos das rochas.

Não ficaria aqui mais tempo. É caro e torna-se cansativo devido à multidão permanente de turistas.

O que mais gostei foram os momentos em que me afastei da confusão e senti a natureza em todo o seu esplendor. Fiz o sentiero azurro, entre vernazza e Corniglia. Foram três quilómetros intensos debaixo de sol, com subidas acentuadas. Transpirei bastante, bebi muita água. O esforço foi recompensado com vistas soberbas e a surpresa de, antes de começar a descer para Corniglia, encontrar um bar que tinha a janela com a melhor vista do mundo. Parei, sentei-me e bebi um granizado de limão que me soube pela vida.

Visitei todas as Cinque Terre, fiz uma curta praia em Monterosso. Não andei de barco, não fiz snorkeling, não visitei museus, não fiz compras - é tudo muito caro. Mas vibrei com a caminhada que fiz.