O quintal tinha a porta aberta. Vi o cão lá dentro, continuei pelo caminho de terra batida. Subitamente, ele vem atrás de mim, ameaça morder-me. Persegue-me, sempre a ladrar, a encostar o focinho e os dentes às minhas pernas. Mantenho o ritmo de marcha, ignorando-o. Vai - se tornando menos agressivo à medida que me afasto da casa. Por fim, fica para trás e a dona vem buscá-lo.
Está mais assustada do que eu. Falamos em Inglês. É estrangeira, Alemã talvez. Veio viver no meio da serra, isolada do mundo, numa casa tradicional recuperada. Está preocupada comigo. Pergunta se fui mordido e pede desculpa. Digo-lhe que voltarei a passar ali.
No regresso do Cabril, o cão ladra dentro do quintal, já não consegue sair. A caminhada decorre sem sobressaltos.
O rio Ceira foi escavando, ao longo de 480 milhões de anos, o vale por onde atualmente corre. A Epigenia é a fissura formada nas rochas pela erosão da água. O Cabril do Ceira, o nome local, é a garganta de penhascos íngremes e verticais nas duas margens.
O trajeto é linear, plano, simples de fazer, bem sinalizado. Fiz ida e volta em três horas, com mergulho no cabril incluído.
Comecei na capela da senhora da Graça, em Serpins. Ao lado fica a entrada no parque municipal de campismo, a praia fluvial vigiada, com bar, parque de merendas e balneários. Condições adequadas a uma vilegiatura agradável.
A freguesia pertence ao concelho da Lousã. Terminava aqui o ramal da linha de comboio, fazia ligação a Coimbra. Desativada em 2011, no governo de um tal José Sócrates.
A inauguração e manutenção de novos percursos pedestres, a divulgação da arquitetura e das belezas locais com a colocação de janelas, miradouros, "Serpins, Janela aberta para o mundo", são medidas benéficas. Falta população. O comércio foi estiolando. Os cafés e o restaurante no largo da estação, fecharam. Há regressão. A mercearia, a caixa multibanco, a bomba de gasolina, a grande fábrica de interruptores (EFAPEL), a estação de correios, dão alguma vida. Prevalece, no entanto, uma inércia difícil de mudar.
A temperatura esteve amena, algumas nuvens escuras, com ligeira precipitação. A partir de amanhã, as máximas subirão 10 graus, para os 37º. Não me atreverei a caminhar nessas condições. Chega um calorzinho acima da média e o país começa logo a arder. Tenho muita pena.
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| Pelourinho de Serpins |
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| Praia Fluvial da Senhora da Graça |
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| Depois de sair do povoamento disperso de Serpins, segue-se por caminhos de terra. |
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| O troço mais bonito, na zona da cascalheira e do sobreiral |
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| Quinta da Maria Mendes |
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| Exatamente a meio do percurso, na Maria Mendes. Aqui, indicada a ligação ao PR 9 - Mata do Sobral |
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| A outra extremidade do trilho - O Cabril do Ceira. |
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| O túnel ferroviário que nunca foi usado. O painel do percurso e uma tenda. |
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| O regresso a Serpins, paralelo ao rio Ceira |
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| Serpins |
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