A vida é feita de encontros casuais nos quais podem acontecer momentos de intensa comunhão, como que mística, entre pessoas que se vêem uma única vez. É o caso do Cognac partilhado ao fim da tarde com a família de Canadianos Franceses na carrinha Rocinante, batizada por John Steinbeck, em homenagem ao cavalo de Dom Quixote.
O livro foi escrito em 1960,
tinha o escritor 58 anos. Fez a viagem para “conhecer a América” numa carrinha
adaptada por si, equipada com tudo o que
necessitava para o seu conforto, tendo como companheiro o caniche azul acinzentado,
Charley. Descrito com humor e ironia, como um ser inteligente, revelador
de sentimentos e opiniões, demonstradas nas expressões do olhar, movimento das orelhas,
posturas corporais e ruídos.
No início do périplo por alguns estados observa
viaturas idênticas que encontra estacionadas nos parques e a circular nas autoestradas.
Em Portugal não havia nada parecido. Quem viajava da mesma forma vinha de fora. Um Francês que alguém conheceu aventurou-se nesses anos
numa roulotte - vi as fotografias a cores de vinhedos e pessoas do Douro
tiradas por ele. Por outro lado, partia-se
de carro de outros países europeus em direção ao Afeganistão e Índia. Estavam na
moda, eram mecas hippies. Países exóticos
onde ainda se encontravam homens de sabre, a cavalo. Tudo muito distante.
“As raízes estavam na
propriedade da terra, nos bens tangíveis e imóveis”, reflete o autor sobre a ambição dos colonos americanos e o
seu avanço para oeste.
E se o homem nunca tivesse tomado
posse de qualquer terra, quais seriam as suas raízes? Seriam, porventura, o
planeta. Não existiriam países, lugares fixos. O planeta seria o seu lugar.
Todos os homens teriam a mesma casa e a mesma raiz – a Terra. Não haveria o
sentimento de posse, não existiriam guerras e os problemas ambientais seriam sentidos por todos da mesma forma, em qualquer lugar.
A viagem é um pretexto para falar
da história do país, refletir, divagar e filosofar ao sabor dos quilómetros,
das paisagens e das pessoas que encontra.
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