Levam-se 10 minutos a pé do jardim do Rossio à praia fluvial da Noeirinha. Uma das 5 marinhas de sal ainda em
funcionamento na ria de Aveiro, já foram mais de 300.
Fim de tarde. A miúda que nos atende, perante a nossa hesitação em pagar 5 euros por pessoa, para usufruir apenas de duas horas de estadia – a praia encerra às 19h00 - liga a alguém a perguntar se pode fazer desconto. Não pode. Pagamos o preço da tarde inteira. Achei simpática a atitude. Noutros locais, essencialmente fora de Portugal, seriam implacáveis, não ponderariam, sequer, fazer desconto. Valeu a tentativa. O preço do dia inteiro, 09h00-19h00, é de 7€.
Dois casais sentados na água quente da piscina insuflável bebem champagne pelos flutes de cristal. Um pequeno grupo de crianças diverte-se dentro da lagoa.
Vestimos à pressa a roupa de banho, puxamos dois cadeirões para a sombrinha - pagamos mais 5 €. Entramos na água, sentimos imediatamente a temperatura amena de 27.ºC. Descontraímos mergulhados pelos ombros, movendo braços e pernas tranquilamente.
A argila do fundo lodoso cola-se na pele. O aviso diz para limpar o corpo no duche antes de entrar no SPA.
Um casal português acaba de sair do tratamento de esfoliação na marinha de sal. Diz o homem: É uma maravilha, tenho a pele macia.
Seguimos para o centro. Os turistas esticam as pernas nos muros do canal de São Roque, petiscam nas esplanadas. Parece que estamos em Espanha, tal é a quantidade de nuestros hermanos a hablar su lengua. Os moliceiros sulcam os canais em visitas guiadas. Clientes fazem fila nos restaurantes da praça do Peixe. Vamos diretos ao "Augusto", no Rossio. Mantem o aspeto tradicional. Continua a praticar preços acessíveis, a confecionar refeições e especialidades que fazem da casa uma das mais conhecidas e frequentadas de Aveiro, com mais de 50 anos. Ambiente de cervejaria, descontraído, com o balcão no meio da sala lateral para refeições rápidas, pregos no prato, jaquinzinhos e carapaus com arroz de feijão, bem servidos e saborosos. As figuras típicas da varina e do marnoto nos azulejos de parede coloridos.
É por momentos assim que Aveiro se torna uma cidade familiar e aconchegante. No Verão pode-se fazer praia no areal da marinha, caminhar agradavelmente até aos pontos mais tradicionais e animados, deambular por ruas e bairros planos.
Visitamos a exposição no parque de estacionamento subterrâneo do Rossio. A construção deu muita celeuma, não só por trazer mais carros para o centro da cidade, mas também por ser numa praça edificada sobre estacas, sujeita à pressão das águas da ria. Já são visíveis paredes a descascar com a humidade, apesar de recente, inaugurado em 2023. Vimos no painel interativo fotografias das transformações da praça, desde finais do século XIX. Surpreendeu a qualidade e a nitidez do preto-e-branco. Homens de chapéu-de-coco, mulheres de xaile pelas costas e lenço na cabeça, carros-de-bois, festas populares, procissões religiosas, touradas. Portugal antigo, de outros tempos. A igreja de São João foi demolida em 1912. Restam na cobertura as ruínas dos alicerces, postos a descoberto nas escavações.
Algumas fotografias do painel:
Canal Central, Rossio e Capela de São João (s.d.) |
Realização de uma feira no Rossio (s.d.) |
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