sábado, 31 de agosto de 2024

Sobre o Combate Contra a Mudança Climática (António Cândido Franco)

 


As situações de exceção, como foi o caso da pandemia de COVID,  tornar-se-ão mais  comuns  face ao agravamento dos problemas ambientais e sociais causados pelas alterações climáticas. A liberdade individual desaparecerá em nome da manutenção da segurança e da ordem social,  desígnio definido pelos Estados - nação autoritários, deixando intocável o sistema económico responsável pelo caos ambiental - o capitalismo tecno industrial. 

De forma a minimizar os danos sem alterar o sistema responsável pela escassez crescente de recursos e  o consequente colapso social,  prolongando ao máximo  a sua sobrevivência e os privilégios da minoria que dele beneficia,  os estados tenderão a garantir a gestão centralizada e autoritária da nova escassez – o ecofascismo. Apoiados por meios de controlo e vigilância massiva sobre as populações, cada vez mais sofisticados e subtis, criados pela inteligência artificial e a nanotecnologia: 

 Nunca a invisibilidade do poder foi tão absoluta como na era da informática – vigiar tudo sem sequer ser pressentido – mas também a vigilância nunca foi tão longe, atingindo os mais recônditos recantos da nossa privacidade e interioridade” (P. 61).

Antônio Cândido Franco defende que o controlo do estado sobre os cidadãos se processa por duas vias, ambas  em ação:  uma por meio  de uma coletivização dos meios de produção  e concentração de poderes num estado autoritário, a via Leninista, ou Chinesa, radicalizando o princípio da “obediência ao estado”; a outra,  pelo crescimento da extrema-direita, a qual,  por meios jurídicos, criará formas artificiosas dos países ricos garantirem o acesso privilegiado à  escassez crescente de recursos às suas populações autóctones.

Em ambos os casos assiste-se ao empoderamento da Megamáquina, conceito de Lewis Munford, segundo o qual o estado moderno controla todos os domínios da vida económica, social e privada. Uma roda dentada imparável num processo gigantesco de produção e extração planetária de recursos.

A alternativa é a democratização dos meios de produção, o  controlo pelos trabalhadores. A valorização das artes e dos ofícios é o modo mais adequado de preservar a vida no planeta, partilhando conhecimentos,   discutidos e acedidos por  todos – a convivialidade, de Ivan Illich. Ao contrário dos atuais  modelos de engenharia económica e social dispostos por uma minoria  de especialistas e  políticos profissionais ao serviço da elite privilegiada, tomando decisões insufragadas pelas populações. 

O ensaio está disponível na livraria Utopia.

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