As situações de exceção, como foi o caso da pandemia de COVID, tornar-se-ão mais comuns face ao agravamento dos problemas ambientais e sociais causados pelas alterações climáticas. A liberdade individual desaparecerá em nome da manutenção da segurança e da ordem social, desígnio definido pelos Estados - nação autoritários, deixando intocável o sistema económico responsável pelo caos ambiental - o capitalismo tecno industrial.
De forma a minimizar os danos sem alterar o sistema responsável pela escassez crescente de recursos e o consequente colapso social, prolongando ao máximo a sua sobrevivência e os privilégios da minoria que dele beneficia, os estados tenderão a garantir a gestão centralizada e autoritária da nova escassez – o ecofascismo. Apoiados por meios de controlo e vigilância massiva sobre as populações, cada vez mais sofisticados e subtis, criados pela inteligência artificial e a nanotecnologia:
“Nunca a invisibilidade do poder foi tão
absoluta como na era da informática – vigiar tudo sem sequer ser pressentido –
mas também a vigilância nunca foi tão longe, atingindo os mais recônditos recantos
da nossa privacidade e interioridade” (P. 61).
Antônio Cândido Franco defende que
o controlo do estado sobre os cidadãos se processa por duas vias, ambas em ação: uma por meio de uma coletivização dos meios de produção e concentração de poderes num estado
autoritário, a via Leninista, ou Chinesa, radicalizando o princípio da “obediência
ao estado”; a outra, pelo crescimento da
extrema-direita, a qual, por meios jurídicos,
criará formas artificiosas dos países ricos garantirem o acesso privilegiado à escassez crescente de recursos às suas populações
autóctones.
Em ambos os casos assiste-se ao empoderamento
da Megamáquina, conceito de Lewis Munford, segundo o qual o estado moderno controla todos os
domínios da vida económica, social e privada. Uma roda dentada imparável num
processo gigantesco de produção e extração planetária de recursos.
A alternativa é a democratização dos meios de produção, o controlo pelos trabalhadores. A valorização das artes e dos ofícios é o modo mais adequado de preservar a vida no planeta, partilhando conhecimentos, discutidos e acedidos por todos – a convivialidade, de Ivan Illich. Ao contrário dos atuais modelos de engenharia económica e social dispostos por uma minoria de especialistas e políticos profissionais ao serviço da elite privilegiada, tomando decisões insufragadas pelas populações.
O ensaio está disponível na livraria Utopia.
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