quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Baiona


Afinal, já cá estive, lembrei-me, devia ter 19 anos. Fui acampar com os amigos em Sanxenxo. Chegamos a Vigo ao fim da tarde e apanhamos a camioneta, Bus, para Baiona, o sítio mais animado dos arredores, onde os jovens iam ao fim-de-semana divertirem-se. Ao perceberam que eramos Portugueses começaram a meter-se connosco, “Quando é que nos invadem, hombre? Estamos fartos de ser Espanhóis”, e a mostrar orgulhosamente os seus conhecimentos do campeonato Português de futebol dizendo o nome dos clubes.

Bebemos uns copos nos bares das ruelas estreitas do casco histórico e depois fomos para o areal dormir. Senti muito frio. Estava de calções, vestido à verão. Tínhamos que fazer horas para apanhar o primeiro Bus da manhã de regresso a Vigo e depois outro para Sanxenxo.  Dormimos encostados uns aos outros, junto ao muro do passeio. De manhã, regressamos meio ressacados a Vigo e com uma experiência não muito boa de Baiona.

Não pensávamos sequer em fazer caminhadas e conhecer os pontos de interesse histórico e natural, excetuando  querer ir para praia ressacar ou levar umas garrafas de vodka.  A nossa mente não comportava tais pensamentos, isso era para velhotes, queríamos farra. Deitávamo-nos pela alvorada, dormíamos até depois do almoço. Andávamos com os horários desencontrados e baralhados dos  espanhóis,   às três da tarde precisávamos de ir ao supermercado comprar comida e estava fechado, era la siesta. Passávamos momentos um pouco desconfortáveis, logo compensados com a loucura e a alcoolemia da noite.

Agora, venho de férias sem a inconsciência de outros tempos, mais ponderado, calmo, seguro, noutras companhias muito diferentes. Não me interessam os bares, mas os restaurantes, as gelatarias e as lojas de guloseimas. Petiscamos zamburiñas, salpicon de pulpo,  calamares, boquerones e pimentos Padron , como não podia deixar de ser na Galiza,  acompanhando sempre  com copo de  Albariño e nunca faltando, por fim, um postre. Ainda tenho barriga para experimentar mais uma sobremesa numa das lojas de doçarias da animada marginal. Interessam-me as paisagens e caminhar, levar no telemóvel boas fotos. Ter outro tipo de recordações, fruir os sítios de outra forma. O corpo também já não aguenta o mesmo de  quando tinha 19 anos. Prefiro gastar as energias percorrendo o perímetro de três km da  fortaleza do monte Boi, caminhar ao longo do areal e fazer um percurso um pouco mais puxado até à Playa América, em Nigran, contornando as pequenas penínsulas desta costa irregular e rochosa, vendo as ondas embater nos ilhéus  e as ilhas Cies.




Boquerones en vinagre

Zamburiñas



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