domingo, 15 de agosto de 2021

N. Sra. da Saúde



É uma tradição peregrinar à N. Sra. da Saúde. O santuário fica num monte com vista para o mar e largos quilómetros em redor, sítio apelativo para a prática de rituais  desde a antiguidade. Acredito que tenha sido altar pagão, posteriormente reconvertido em local de culto cristão, dedicado a N. Sra. da Saúde. 

No tempo dos meus avós, enfeitavam-se os carros de bois e ia-se de carroça. Hoje, continuam-se a fazer picnics entre famílias e amigos, que celebram o dia nas encostas do Monte, com missas, promessas e orações no santuário, juntando o sagrado e o profano.

Milhares de pessoas, das freguesias e concelhos vizinhos, deslocam-se a pé pela estrada nacional. Era tradição, na minha família, reunirmos e convivermos em picnic numa mata próxima, porém nunca fiz a peregrinação, até hoje.

Saí de casa antes  da meia noite com o colete refletor no corpo. As bermas da estrada iam cheias de peregrinos, que paravam nas roulottes para beber bejecas e comer bifanas com batatas fritas, deliciando-se sofregamente, lambuzando-se – caminhar abre o apetite; de noite, com temperatura amena, mais ainda -, o cheiro da comida no ar convence mais pessoas a fazer um intervalito na caminhada e a abastecer a barriga -    a N. Sra. da Saúde pode esperar mais alguns minutos, é preciso recarregar energias e há prioridades  mundanas que também fazem bem à alma!! 

Ao redor do santuário, juntam-se mais pessoas nas esplanadas dos restaurantes e em  picnics nas mesas de cimento, apesar de já passar da meia-noite. Contudo, não se trata apenas de diversão, para muita gente é o momento de fazer a promessa há muito tempo desejada para que alguém estimado recupere a saúde, intercedendo diretamente a Nossa Senhora, no seu dia e santuário, rezando-lhe, fazendo-lhe o pedido. A casa da cera vende réplicas em tamanho real de órgãos do corpo humano: os pulmões custam 5€, o pé direito e o intestino grosso 3€ - de quase todos os órgãos e membros, a preços diferentes consoante o tamanho,  que serão queimados. Faz-se fila para ver o altar; cá fora uma senhora de joelhos, visivelmente em esforço, dá a volta ao santuário.

O sagrado e o profano juntos.





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