É uma tradição peregrinar à N. Sra. da
Saúde. O santuário fica num monte com
vista para o mar e largos quilómetros em redor, sítio apelativo para a prática de rituais desde a antiguidade. Acredito que tenha sido altar pagão,
posteriormente reconvertido em local de culto cristão, dedicado a N. Sra. da
Saúde.
No tempo dos meus avós, enfeitavam-se os
carros de bois e ia-se de carroça. Hoje, continuam-se a fazer picnics entre famílias
e amigos, que celebram o dia nas encostas do Monte, com missas,
promessas e orações no santuário, juntando o sagrado e o profano.
Milhares de pessoas, das freguesias e
concelhos vizinhos, deslocam-se a pé pela estrada nacional. Era tradição, na minha família, reunirmos e convivermos em
picnic numa mata próxima, porém nunca fiz a peregrinação, até hoje.
Saí de casa antes da meia noite com o colete refletor no
corpo. As bermas da estrada iam cheias de peregrinos, que paravam nas roulottes
para beber bejecas e comer bifanas com batatas fritas, deliciando-se sofregamente, lambuzando-se – caminhar abre o apetite; de noite,
com temperatura amena, mais ainda -, o cheiro da comida no ar convence mais pessoas a fazer um intervalito na caminhada e a abastecer a barriga - a N. Sra. da Saúde pode esperar mais alguns minutos, é preciso recarregar energias e
há prioridades mundanas que também fazem bem à alma!!
Ao redor do santuário, juntam-se mais pessoas nas
esplanadas dos restaurantes e em picnics nas mesas de cimento, apesar de já passar
da meia-noite. Contudo, não se trata apenas de diversão, para muita gente é o momento
de fazer a promessa há muito tempo desejada para que alguém estimado
recupere a saúde, intercedendo diretamente a Nossa Senhora, no seu dia e
santuário, rezando-lhe, fazendo-lhe o pedido. A casa da cera vende réplicas em
tamanho real de órgãos do corpo humano: os pulmões custam 5€, o pé direito e o
intestino grosso 3€ - de quase todos os órgãos e membros, a preços
diferentes consoante o tamanho, que serão queimados. Faz-se fila para ver o
altar; cá fora uma senhora de joelhos, visivelmente em esforço, dá a volta
ao santuário.
O sagrado e o profano juntos.
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