- Já dá para saltar, Rodrigo? –
pergunta um dos colegas na ponte.
- Ainda não.
Continuam a gritar, a chamar turistas.
- Está a ficar cheio de gente, carago! Mexe-me essas trombas, enche-me o chapéu, pá! Aproveita que está cheio
de turistas– ordenam. Os mirones, a maior parte sem perceber uma palavra, vai-se rindo dos modos deles.
- Um turista deu 5 €!! - grita o Rodrigo.
- A sério?! Então vou mergulhar, que
ça lixe! – Um dos colegas no tabuleiro atira-se de pés para o rio. Um salto de 20 metros, que deve ser a
altura do tabuleiro inferior da ponte.
Os turistas aplaudem.
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Na descida ingreme para a ponte D.
Luís, um indivíduo assa sardinhas na rua à entrada da sede do Clube Desportivo
do Torrão. Tenta convencer os turistas:
- Very wonderful Sardines!! Sardinas
muy buenas!! Quieres entrar para comer?
Quando percebe que sou português,
desculpa-se. Respondo: “eu também como sardinhas como os outros!”. Rimos os dois.
- Dê uma volta e depois regresse.
São muito fresquinhas, garanto-lhe! – convenceu-me. Regressei e comi sardinhas
com batatas a murro. O Sr. José faz parte do corpo social do clube e serve no restaurante,
“só para ajudar”. O homem que está no assador
não é sócio do clube mas também gosta de ajudar. É ele, o Sr. José e mais outra
pessoa na cozinha.
A casa vai-se compondo com mais
clientes, quase todos estrangeiros. Uma tasca que contrasta com os restaurantes elegantes e caros da
ribeira, que têm a vista desafogada para o Porto. Fica mais
escondida, mas em contrapartida tem uma localização muito original: debaixo do
tabuleiro da ponte. Mais castiça e antiga do que a maioria dos restaurantes, fundada em
1958.
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Já se pode ir a pé do areinho de
Avintes até à Afurada, ao longo do rio. Fiz a parte entre o Areinho de Oliveira do
Douro e o Cais de Gaia. O trajeto ficou completo com a inauguração em Maio de alguns
troços de passadiço que faltavam. Percurso incrível com vistas fabulosas, apanhando
enquadramentos pouco habituais dos tabuleiros de ferro das pontes D. Luís e D.
Maria, e de cimento das pontes do Infante e de S. João, pela encosta granítica e
austera de Quebrantões.
Ao chegar à ribeira de Gaia, a vista do Porto, embora não seja uma surpresa, surpreende sempre. É um misto de orgulho sempre que observo esta panorâmica única e, ao mesmo tempo, de frustração, porque o Porto tem beleza, história e carisma, não é inferior a muitas cidades europeias, que no entanto são mais visitadas e famosas. Falta-lhe mais vida, população, estar menos abandonada – como diz a letra do Carlos Tê:
“Ver-te assim abandonada
Nesse timbre pardacento
Nesse teu jeito fechado
De quem mói um sentimento”
Por isso, também dói observar o
Porto. Há a nostalgia de uma alegria e vida que nunca existiu na cidade, mas que
sabemos que podia existir. Seguramente
podia ser melhor quando comparada com outras cidades europeias que, com menos, são mais sobranceiras, opulentas e dinâmicas.
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