sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Ilha de Cies

Somos 25 passageiros no catamaran “Mar de Ons”, que nos leva de Baiona à ilha de Cies. Poucos para a  lotação. Julgo que por ser uma zona protegida – o Parque Nacional das lhas Atlânticas da Galiza – será um passeio com pouca gente e que não verei quase ninguém.  Engano-me redundamente. Mal desembarcamos, tomámos uma bebida quente numa cafeteria ao pé do porto - o ar frio que apanhamos no convés durante a travessia enregelou-nos - e logo a seguir começam a chegar outros barcos de empresas privadas que levam mais pessoas a visitar a ilha. Forma-se uma fila na caixa.

A ilha divide-se em duas metades unidas por um comprido areal e por uma ponte de cimento, construída sobre uma linha de rochas, que na maré cheia fica cortada pelo mar. Um aviso na chegada indica que hoje a ponte estará interrompida entre as 14.45 e as 16.45.

Fomos para o lado sul. Subimos ao Alto do Príncipe. O céu começa a abrir, o sol a bater no mar e nas falésias. Vê-se a costa recortada, penínsulas, ilhotas, rochedos, precipícios. Algumas pessoas contemplam a paisagem estrategicamente sentadas nos rochedos mais altos. O silêncio é eloquente. Não há palavras para traduzir o momento - só mesmo estando ali, observando e sentindo algo transcendente.

O lado norte da ilha está virado para outros   arquipélagos e cidades da Galiza, as ilhas de Ons e de   Sálvora, as cidades de Vigo e de Cambados, o panorama é mais diversificado. Há uma subida em caracol até ao farol, a lembrar um pouco a senhora da Graça, em Mondim de Basto, só que rodeada de mar.

A ilha já foi habitada por monges e teve um pequeno povoado. Ao contrário do que hoje sugere à maioria das pessoas que a visitam, como sendo um local idílico e onde facilmente se passam uns dias – tem parque de campismo, supermercado, restaurante, cafetaria ao pé do porto – viveu, na idade média, debaixo de um regime feudal.  Foi atacada por vikings e corsários ingleses, teve desavenças e começou a ser gradualmente abandonada. Devem ter existido períodos de muito medo e devia parecer-se mais com o inferno do que com o paraíso.  Tem um cemitério, “o mais bonito do mundo”, diz o cartaz, para onde foram trasladados 22 cadáveres, entre os 20 e os 45 anos, o dobro dos homens das mulheres e a altura média de 1,65m. Enterrados nas dunas, que, ao moverem-se, deixaram-nos a descoberto.

Ao fim da tarde, enquanto aguardamos o último barco para regressar a Baiona, descansamos na areia branca e fina da praia de Rodas. O mar é verde-azulado, a ondulação suave, dá mesmo vontade de mergulhar.  Há muita gente a espreguiçar-se no areal, mas ninguém dentro de água. Que estranho, por que será? Sim, já sei, a água é gelada. 











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