Somos 25 passageiros no catamaran
“Mar de Ons”, que nos leva de Baiona à ilha de Cies. Poucos para a lotação. Julgo que por ser uma zona protegida
– o Parque Nacional das lhas Atlânticas da Galiza – será um passeio com pouca
gente e que não verei quase ninguém.
Engano-me redundamente. Mal desembarcamos, tomámos uma bebida quente
numa cafeteria ao pé do porto - o ar frio que apanhamos no convés durante a
travessia enregelou-nos - e logo a seguir começam a chegar outros barcos de
empresas privadas que levam mais pessoas a visitar a ilha. Forma-se uma fila na
caixa.
A ilha divide-se em duas metades
unidas por um comprido areal e por uma ponte de cimento, construída sobre uma
linha de rochas, que na maré cheia fica cortada pelo mar. Um aviso na chegada
indica que hoje a ponte estará interrompida entre as 14.45 e as 16.45.
Fomos para o lado sul. Subimos ao
Alto do Príncipe. O céu começa a abrir, o sol a bater no mar e nas falésias.
Vê-se a costa recortada, penínsulas, ilhotas, rochedos, precipícios. Algumas
pessoas contemplam a paisagem estrategicamente sentadas nos rochedos mais
altos. O silêncio é eloquente. Não há palavras para traduzir o momento - só
mesmo estando ali, observando e sentindo algo transcendente.
O lado norte da ilha está virado
para outros arquipélagos e cidades da
Galiza, as ilhas de Ons e de Sálvora, as
cidades de Vigo e de Cambados, o panorama é mais diversificado. Há uma subida
em caracol até ao farol, a lembrar um pouco a senhora da Graça, em Mondim de
Basto, só que rodeada de mar.
A ilha já foi habitada por monges
e teve um pequeno povoado. Ao contrário do que hoje sugere à maioria das
pessoas que a visitam, como sendo um local idílico e onde facilmente se passam
uns dias – tem parque de campismo, supermercado, restaurante, cafetaria ao pé do
porto – viveu, na idade média, debaixo de um regime feudal. Foi atacada por vikings e corsários ingleses,
teve desavenças e começou a ser gradualmente abandonada. Devem ter existido
períodos de muito medo e devia parecer-se mais com o inferno do que com o
paraíso. Tem um cemitério, “o mais
bonito do mundo”, diz o cartaz, para onde foram trasladados 22 cadáveres, entre
os 20 e os 45 anos, o dobro dos homens das mulheres e a altura média de 1,65m. Enterrados
nas dunas, que, ao moverem-se, deixaram-nos a descoberto.
Ao fim da tarde, enquanto
aguardamos o último barco para regressar a Baiona, descansamos na areia branca
e fina da praia de Rodas. O mar é verde-azulado, a ondulação suave, dá mesmo
vontade de mergulhar. Há muita gente a
espreguiçar-se no areal, mas ninguém dentro de água. Que estranho, por que
será? Sim, já sei, a água é gelada.
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