segunda-feira, 24 de maio de 2021

Cara Raquel Varela

tenho muito respeito  pelo seu trabalho, mas sempre que alguém que não lida diariamente com crianças/ alunos vem dar sugestões de como deve ser o ensino, dá-me um arrepio. Infelizmente é o que mais tem sido feito nos últimos anos, desde Maria de Lurdes Rodrigues a Educação tem sido um descalabro sem fim. Os professores nunca  foram tidos nem achados nestas “reformas” que começaram em 2008.  E estão-se a ver os resultados: exaustão, pedidos de reforma antecipada, baixas médicas e muita  desmotivação profissional,  como referiu justamente.

O último arrepio que tive foi ouvir o secretário de estado dizer que a seleção de professores para as escolas TEIP deverá ser reformulada, como se mudando os professores, os problemas acabassem.

Peço-lhe alguma complacência com esta classe à deriva e com muitos comentários feitos por muitos dos meus colegas, porque de facto está muitíssimo escaldada por muitos comentadores de bancada.  

João Miguel Tavares, no artigo de Sábado no Público, refere um paradoxo que eu desconhecia, mas que faz todo o sentido “entre 2011 e 2015, governo PSD/CDS, o número de escolas públicas no top 50 subiu de dez para 12. Entre 2015 e 2020, governo PS, o número de escolas públicas no top 50 desceu de 12 para três... O Socialismo está para a escola pública como um pai demasiado protetor está para o seu filho muito amado – gosta tanto, tanto dele que todos os dias o sufoca mais um bocadinho”.  

Sou pela escola pública porque só uma escola pública de qualidade pode reduzir as desigualdades sociais e tornar um país mais democrático. Infelizmente as boas intenções e os discursos bonitos não passam disso.  As disparidades crescentes entre escola pública e privada são preocupantes. Temos o exemplo do Brasil, onde quem tem a sorte de nascer privilegiado dificilmente se cruza no seu percurso académico com os desfavorecidos,  criando uma clivagem social e preconceitos de classe com implicações políticas muito profundas, como se está a assistir.   

Concordo com a Raquel em quase tudo, mas tenho muitas reservas quanto ao número de alunos por turma e duvido muito que uma aula magistral a crianças seja o mesmo que dar a adultos. Experimente fazê-lo. Venha a uma escola pública e fale para 50 ou mais crianças, durante uma hora.

Os professores são vítimas e responsáveis também, a principal responsabilidade é serem uma classe demasiado desunida, não terem união e força para lutar contra muitas medidas absurdas que foram sendo legisladas na educação.

 “Para ver a ilha é preciso sair da Ilha” (José Saramago).  Eu e muitos milhares, como estamos dentro da “ilha”, não a conseguimos ver na totalidade, por isso aceito que diga que funcionamos “corporativamente”.  

Os centros de explicações pululam pelo país fora. Infelizmente os pais não têm onde pôr os filhos e essa acaba por ser a solução menos má. Está-se a instituir a ideia de que as crianças aprenderão mais passando mais tempo na escola.  É um erro que o estado ajuda a replicar com a “recuperação das aprendizagens” e o alargamento dos dias de aulas. Falta bom senso.  A escola é uma parte da vida e há muito mais para além da escola, ou pelo menos devia haver. Existem as chamadas “Racionalidades Leigas” (Fátima Alves) e os conhecimentos informais, não académicos, adquiridos nos mais variados contextos, imprescindíveis para o desenvolvimento individual. Será que os encarregados de educação acreditam verdadeiramente que os filhos aprendem mais enfiados em centros de explicação? Ou será por não terem alternativa, quem fique com eles em casa e estes não têm onde brincar, a não ser ficar a ver TV e a jogar PlaySation.  

É muito complexa a Educação e infelizmente tem sido um campo de experimentação ideológica e demagógica, com um preço que se pagará muito caro.  E a mim dá vontade de ir para a Finlândia.

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