tenho muito respeito pelo seu trabalho, mas sempre que alguém que não lida diariamente com crianças/ alunos vem dar sugestões de como deve ser o ensino, dá-me um arrepio. Infelizmente é o que mais tem sido feito nos últimos anos, desde Maria de Lurdes Rodrigues a Educação tem sido um descalabro sem fim. Os professores nunca foram tidos nem achados nestas “reformas” que começaram em 2008. E estão-se a ver os resultados: exaustão, pedidos de reforma antecipada, baixas médicas e muita desmotivação profissional, como referiu justamente.
O último arrepio que tive foi
ouvir o secretário de estado dizer que a seleção de professores para as escolas
TEIP deverá ser reformulada, como se mudando os professores, os problemas
acabassem.
Peço-lhe alguma complacência com
esta classe à deriva e com muitos comentários feitos por muitos dos meus colegas,
porque de facto está muitíssimo escaldada por muitos comentadores de bancada.
João Miguel Tavares, no artigo de
Sábado no Público, refere um paradoxo que eu desconhecia, mas que faz todo o
sentido “entre 2011 e 2015, governo PSD/CDS, o número de escolas públicas no
top 50 subiu de dez para 12. Entre 2015 e 2020, governo PS, o número de escolas
públicas no top 50 desceu de 12 para três... O Socialismo está para a escola
pública como um pai demasiado protetor está para o seu filho muito amado –
gosta tanto, tanto dele que todos os dias o sufoca mais um bocadinho”.
Sou pela escola pública porque só
uma escola pública de qualidade pode reduzir as desigualdades sociais e tornar
um país mais democrático. Infelizmente as boas intenções e os discursos bonitos
não passam disso. As disparidades
crescentes entre escola pública e privada são preocupantes. Temos o exemplo do Brasil,
onde quem tem a sorte de nascer privilegiado dificilmente se cruza no seu percurso
académico com os desfavorecidos, criando
uma clivagem social e preconceitos de classe com implicações políticas muito
profundas, como se está a assistir.
Concordo com a Raquel em quase
tudo, mas tenho muitas reservas quanto ao número de alunos por turma e duvido muito
que uma aula magistral a crianças seja o mesmo que dar a adultos. Experimente fazê-lo.
Venha a uma escola pública e fale para 50 ou mais crianças, durante uma hora.
Os professores são vítimas e responsáveis
também, a principal responsabilidade é serem uma classe demasiado desunida, não
terem união e força para lutar contra muitas medidas absurdas que foram sendo legisladas
na educação.
“Para ver a ilha é preciso sair da Ilha” (José
Saramago). Eu e muitos milhares, como
estamos dentro da “ilha”, não a conseguimos ver na totalidade, por isso aceito
que diga que funcionamos “corporativamente”.
Os centros de explicações pululam
pelo país fora. Infelizmente os pais não têm onde pôr os filhos e essa acaba
por ser a solução menos má. Está-se a instituir a ideia de que as crianças aprenderão
mais passando mais tempo na escola. É um
erro que o estado ajuda a replicar com a “recuperação das aprendizagens” e o alargamento
dos dias de aulas. Falta bom senso. A
escola é uma parte da vida e há muito mais para além da escola, ou pelo menos
devia haver. Existem as chamadas “Racionalidades Leigas” (Fátima Alves) e os
conhecimentos informais, não académicos, adquiridos nos mais variados contextos,
imprescindíveis para o desenvolvimento individual. Será que os encarregados de
educação acreditam verdadeiramente que os filhos aprendem mais enfiados em
centros de explicação? Ou será por não terem alternativa, quem fique com eles
em casa e estes não têm onde brincar, a não ser ficar a ver TV e a jogar
PlaySation.
É muito complexa a Educação e
infelizmente tem sido um campo de experimentação ideológica e demagógica, com
um preço que se pagará muito caro. E a
mim dá vontade de ir para a Finlândia.
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