segunda-feira, 9 de junho de 2014

Roteiro Judaico de Amesterdão


Que eu saiba não existe um roteiro que tenha  este nome em Amesterdão. Visitei alguns lugares e  assim criei o meu próprio  roteiro pessoal,  contendo  alguma história e personagens Judaicas da cidade.
A casa de Anne Frank não foi a sua verdadeira residência em Amesterdão. Foi o local onde ela, a família e outros 4 judeus se esconderam durante dois anos. Era um armazém de produtos alimentares que antes pertenceu ao pai e que, devido às perseguições nazis, passou para um sócio Holandês. Nas traseiras do armazém fizeram a sua vida, não podiam abrir as janelas, o autoclismo não podia ser despejado, tinham de fazer o máximo de silêncio. Os empregados não faziam ideia que haviam judeus escondidos em divisões secretas do armazém. Foram denunciados não se sabe por quem. Todos morreram em campos de concentração, excepto o pai. Anne Frank morreu um mês antes da libertação do campo onde estava internada.
As filas são demoradas para entrar na casa. Atrás de mim estava um casal Português que vive nos Açores. Como o mundo é pequeno! Palavra puxa palavra e acabamos por descobrir muitos pequenos lugares e pessoas que conhecemos em comum. Passei uma hora na fila de espera a matar saudades dos Açores.
A visita pode ser uma experiência forte e transtornar os mais susceptíveis. Contem testemunhos audiovisuais de pessoas que conheceram pessoalmente Anne Frank, sendo para mim os testemunhos mais emotivos o do próprio pai, Otto, que só conheceu o diário da filha após a morte desta, e de uma amiga que reencontrou Anne no campo de concentração de Bergen Belsen, que descreve a última vez que a viu, poucas horas (?)/dias(?) antes de morrer.
Dirigi-me depois em bicicleta à sinagoga Portuguesa. Foi construída no século XVII pela comunidade de judeus portugueses que fugiram da inquisição. No outro lado da rua fica o museu histórico judaico que conta a história dos judeus na Holanda. Algumas famílias de origem portuguesa tornaram-se economicamente muito influentes, devido às redes e conhecimentos comerciais  que possuíam.  Ficaram famosas as famílias Lopes Suasso, de Pinto, Teixeira de Mattos e Henriques de Castro.
Apesar da tolerância que os judeus e cristãos novos Portugueses encontraram na Holanda, a  comunidade judaica deu muitas vezes provas de grande intolerância com os seus próprios elementos, fazendo também as suas vítimas. Dois casos conhecidos  foram os de Baruch (ou Bento) Espinosa e Uriel (ou Gabriel) da Costa.
O primeiro é um dos mais influentes filósofos europeus. Filho de judeus portugueses, nasceu em Amesterdão no início do século XVII.O segundo nasceu na cidade do Porto em 1585 e morreu em Amesterdão em 1640. Ambos tinham  pontos de vista e ideias consideradas heréticas  em relação ao Judaísmo, obviamente mal  aceites pelos rabis, sendo  rejeitados e desprezados pela comunidade religiosa, inclusivamente pela própria  família.
Uriel da Costa suicidou-se depois de ter sido vergastado publicamente, obrigado a deitar-se no chão da sinagoga e de ser pisado por toda a congregação.
No museu histórico não há qualquer referência a Gabriel da Costa. Bento Espinosa, pelo contrário, talvez por ser considerado um dos grandes filósofos do ocidente, não é esquecido. Foi expulso da comunidade pelo rabi Isaac da Fonseca (nascido em Lisboa), o grande impulsionador da construção do templo de Amesterdão.
Em contrapartida, o município de Amsterdão não esqueceu o Cristão novo Portuense, perseguido em Portugal e na Holanda, atribuindo o seu nome a uma das praças da cidade, a DA COSTA PLEIN.
Muito próximo destes locais, numa época em que em Amesterdão viveriam milhares de Judeus, viveu e trabalhou Rembrandt. A casa está hoje transformada num museu, o Het RembrandtHuis.

Antes da 2º guerra mundial viviam em Amesterdão 80 000 judeus. Três quartos terão morrido nos campos de concentração.  
Fila para a casa de Anne Frank

Igreja de westerkerk. Fica muito próxima da casa de Anne Frank. No  diário refere que ouve os sinos da igreja. Ouvir os sinos das diferentes igrejas de Amesterdão é comum nos dias dias de hoje. 
Sinagoga Portuguesa. As placas estão escritas em Português, assim como os nomes dos benfeitores. .

Casa de Rembrandt, oficina de gravação. Um dos atrativos do museu é a possibilidade de participar em oficinas artísticas. 

Exterior da Casa de Rembrandt

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