sexta-feira, 6 de junho de 2014

Chegada a Amesterdão


Leio no avião J. Rentes de Carvalho. Surpreende-me a violência com que descreve os Holandeses. Cito:
Não Presta”. É a sua exclamação perante o que vem de fora. Mas o resto? Uma bosta. Pretalhada, gentalhada, “pardos, homenzitos”são palavras que no original holandês designam tanto uma diferença de cor como de nacionalidade ou origem, e da boca de muitos saem lambuzadas de desdém e superioridade mal contida.
Nos anos 60 os manuais de geografia das escolas ainda se referiam aos habitantes da orla do Mediterrâneo, incluindo Portugal, como pertencendo à vuil witte ras (raça branca suja), e esse pequenino detalhe de identidade poderia ser ponto de partida para um volume de comentários.
Os espíritos liberais não precisam de se doer e explicar-me que há outros holandeses, diferentes, abertos, ecuménicos, capazes de comungar com o mundo inteiro sem distinção de cor de pele, tipo, língua ou religião. Pois há. Mas não são a maioria.
Ao meu lado viaja um casal Holandês de meia idade. Será que são racistas? Quando termina a viagem, despedem-se de mim: “Bye, bye”. Contudo, não trocamos uma única palavra no avião.
Estas impressões de Rentes de Carvalho foram escritas há mais de 50 anos. Muito deve ter mudado desde então, julgo eu.
Amesterdão é uma cidade multicultural, pluriétnica e dinâmica. Um estrangeiro acabado de chegar vê pessoas de diferentes origens culturais a falar Neerlandês, a viver e a trabalhar na Holanda.
Há medida que o autocarro se aproxima do centro, começam a aparecer cada vez mais ciclistas. É uma imagem de marca de Amesterdão. Raparigas bonitas a pedalar, bem vestidas e elegantes. Outras mais informais. Pessoal com headphones a fumar, a falar ao telemóvel, com a garrafa de cerveja numa mão, a transportar mercadoria que mal cabe na bicicleta. Os Holandeses usam a bicicleta descomplexadamente. Esta é mais do que um meio de transporte, é também um objeto estético que reflete a personalidade do proprietário.
Um país que possibilita aos seus cidadãos o uso da bicicleta nas atividades quotidianas é muito mais sustentável, tem habitantes mais saudáveis e autónomos. Lamento que em Portugal a economia não tenha sido projetada da forma a viabilizar o uso mais frequente da bicicleta e dos transportes públicos. Dizer que a Holanda é um país plano e mais fácil de pedalar não basta, existem razões mais complexas do que esta.
No hotel tive um exemplo da obsessão que os holandeses têm em cumprir a lei. A minha reserva já estava paga através do sistema de Mbnet, por este motivo o número no cartão de crédito não coincidia com o que usei para efetuar o pagamento. Cancelaram a reserva.

“-Mas já paguei, o dinheiro já me foi levantado da conta. Porquê esta complicação agora?
- O número não coincide com este cartão. Tenho que cumprir o regulamento.”
Foi inútil insistir. Fizeram-me a devolução do dinheiro e voltei a pagar o mesmo valor, desta vez com o número real do cartão.
Do aeroporto à Museumplein são 35 minutos, no autocarro nº 197 (connexxion). Preço 5
€. Saí da gare 12 junto à saída principal do aeroporto.





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