terça-feira, 31 de outubro de 2017

Jardim Botânico do Faial


“O reencontro com a flora nativa” é o subtítulo da revista de bordo da SATA, a propósito do jardim botânico.  Um local a 2, 6 km do centro de horta, trajeto que fiz a pé em cerca de 40 minutos.  
A sua missão fundamental é a “conservação, propagação e preservação das espécies e habitats nativos dos Açores”, motivo de sobra para o visitar, encontrar as espécies nativas e imaginar o ambiente pristino e   impoluto das ilhas,  anterior ao povoamento.
Algumas das espécies enumeradas na revista, com fotos retiradas de sites devidamente identificados:

Louro-das-ilhas (Laurus azorica).Imagem: SIARAM 
Faia-da-terra (Morella fayaImagem: ISSG
Gingeira-do-mato (Prunus azoricaImagem:SIARAM
Pau-branco (Piconia azorica)Imagem:SIARAM
O Jardim preserva as espécies mais raras, à temperatura de quinze graus negativos no banco das sementes, criado em 2003.
Está a ser construído um orquidário onde se pretende expor mais de setenta espécies de orquídeas de todo o mundo, parte significativa do espólio foi doado por um casal Finlandês.
Na freguesia de Pedro Miguel está-se a proceder a um programa de recuperação da flora nativa, criando zonas exclusivamente revestidas com plantas endémicas.

O meu guia foi o Sr. Paulo Morrison que me falou das espécies endémicas e acima de tudo das utilidades que as pessoas lhes davam. Um imenso conhecimento que se foi perdendo gradualmente,  desde o fabrico de vassouras, até à medicina natural e aos temperos.

O cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) foi utilizado intensamente na construção e como combustível. Imagem: SIARAM
 Ao contrário do azevinho continental (Ilex aquifolium) o açoriano (Ilex perado)  não tem espinhos.   Não fazem falta devido à ausência de predadores naturais.


Azevinho continental (Ilex aquifolium) Imagem: NCSU

Azevinho-dos-Açores (Ilex perado) Imagem: SIARAM

 
A urzela (Rocella tinctoria), líquene marinho,  foi intensamente explorada no séc. XVI para produzir corantes, quase se extinguindo.Imagem: WKISPECIES
 
Esta planta, a labaça (Rumex azoricus), era usada como palmilha
Com os cubres (Solidago sempervirens) não sei o que se fazia, mas devido à abundância da planta na ilha das Flores e à sua cor amarela, esta  adquiriu o cognome de ilha amarela.
Cada ilha  tem uma cor associada a si:

 
 Cubres (Solidago sempervirens) IMAGEM: SIARAM

·         Graciosa, a ilha branca
·         São Miguel, a ilha verde
·         Pico, a ilha negra
·         Flores, a ilha amarela
·         Faial, a ilha azul
·         Terceira, a ilha lilás

Faltam três.


As plantas exóticas também tiveram a sua utilidade na história dos açores:
Com o pastel (Isatis tinctoria) fabricava-se tinta azul, cujo monopólio era detido pelos povoadores flamengos, que se instalaram no Faial. 

Pastel (Isatis tintoria) Imagem: Wikimedia

As famosas hortênsias (Hydrangea macrophylla) são orginárias do japão, apesar disso foram adotadas pelos açorianos e representam uma imagem de marca das ilhas. Em junho é incrível observar os tufos densos que ocupam  as faixas das estradas e separam os prados.
Hortênsia (Hydrangea macrophylla) Imagem: SIARAM 

A conteira ou roca-da-velha (Hedychium gardnerianum), o nome varia com a ilha, sinal do isolamento a que estiveram votados os ilhéus, é uma planta com muitos benefícios que estão a ser estudados pela universidade dos Açores.


Conteira (Hedychium gardnerianum). Imagem: Wikimedia
O clima açoriano é propício ao desenvolvimento das mais diversas plantas que adquirem uma exuberância fora do comum e deixa maravilhado quem visita o arquipélago.

Terminamos a beber uma infusão de erva-príncipe, recolhida na hora num dos canteiros do jardim e conversamos um pouco mais sobre o Faial. O Sr. Paulo Morrison é ele próprio um exemplo da diversidade de pessoas que se cruzaram e fizeram a história da ilha. Neto de uma francesa e de um escocês que veio trabalhar no telégrafo.  As maiores empresas mundiais tinham aqui escritório. 
Porto de paragem de iatistas e dos primeiros hidroaviões transatlânticos.  Consoante as condições do mar os passageiros podiam ficar vários dias antes de seguir viagem. Desenvolveu-se uma sociedade cosmopolita e aberta, com hotéis chiques e animação permanente.  Bandas de música atuavam a animavam serões dançantes, fizeram-se equipas de futebol para jogar contra os passageiros em trânsito.  Os mais antigos clubes de futebol e de ténis dos açores nasceram aqui.


O que sucedeu então para que a ilha subitamente estagnasse?

Uma razão foi a erupção do vulcão dos Capelinhos em 1957, esteve ativo durante 13 meses. Nesse período milhares de pessoas abandonaram a ilha.

De tarde encontro-me no Peter`s com o Marco Viegas.    Está prestes a concluir a tese de mestrado sobre o museu de scrimshaw da Horta, pretende criar uma base de dados com todas as peças do museu.


Para mais informações sobre a natureza dos Açores, onde se incluí o jardim botânico do Faial e outros locais e jardins do arquipélago, desenvolvido pela da Direção Regional do Ambiente dos Açores – SIARAM, de onde foram retiradas a maioria das fotos nesta entrada. Clicar aqui. 
Interior do Jardim Botânico

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