Como já referi numa outra
entrada, não é fácil conciliar os barcos com os autocarros. Ambos são pouco
frequentes e torna-se complicado combinar os horários de modo a nos deslocarmos satisfatoriamente dentro da ilha, visitar o que queremos e
regressar a horas decentes à base. Neste caso ao Faial.
A melhor solução foi apanhar o barco das 7.30, Horta – Madalena,
e regressar no das 22.00h, de forma a levarmos o carro e neste as bicicletas.
Tínhamos dois percursos pedestres
em mente para realizar na ilha do Pico, ambos lineares. Os mistérios do sul do Pico e as
Vinhas da Criação velha, assim faríamos os trilhos pedalando e não precisaríamos
de apoio logístico no fim do trajeto para nos trazer de volta à viatura. Faríamos
tudo por conta própria, em autonomia e conhecendo num só dia, duas pequenas
rotas picoenses.
O Gilberto Mariano é o navio que
liga as ilhas do Faial, Pico e São Jorge, as ilhas do triângulo. Da Horta à
Madalena são 30 minutos. O barco é moderno, confortável e com algumas comodidades
de um pequeno cruzeiro que incluem bar e televisão.
À entrada da Madalena cruzamos os
ilhéus com os nomes curiosos de "em pé" e "deitado". Este último, devido à erosão provocada pelo mar,
apresenta uma grande fenda que, dependendo da imaginação de quem o olha, se parece
com um golfinho ou com a virgem Maria.
Após o desembarque no novo terminal
da Madalena, um edifício que escondeu a anterior vista desafogada para o Faial,
e do pequeno almoço num snack-bar local, deslocamo-nos para a zona da Criação Velha,
logo a seguir à Madalena, para dar início ao nosso trilho e aventura picoense. Uma
das bicicletas estava com um furo, problema rapidamente resolvido numa oficina
local.
O trilho linear desenvolve-se entre
a Areia Larga, ainda dentro da vila da Madalena e o Porto do Calhau, já depois da
Criação Velha. As
informações detalhadas estão aqui, no maravilhoso site, não me canso de o
repetir, da Azores Trails. Nível fácil, 7 km de extensão.
Iniciámo-lo um pouco depois da
Areia Larga, na casa solarenga que se vê na foto.
Seguimos pela costa sul do pico
em direção ao Porto do Calhau, atravessando as vinhas da Criação Velha. Os pequenos currais construídos com basalto, se
colocados em linha reta teriam um total de muitos milhares de quilómetros. Um
trabalho laborioso de muitos séculos, artístico e cultural, que valeu a
atribuição de património da humanidade às vinhas do Pico. A terra é dura,
vermelha e quase sempre plana. É uma maravilha pedalar entre as vinhas e por
vezes observar as nuvens a destapar o cume da montanha, magnânima e imponente.
Sua Majestade, o Pico.
Entre os currais as adegas
recuperadas, hoje maioritariamente locais de residência temporária e de veraneio,
alugadas a turistas e transformadas em Alojamento Local. De bicicleta nem sempre é
possível seguir os trilhos à risca, é comum o caminho de pé-posto, muito
estreito e irregular entre os muros das vinhas. A alternativa é continuar pelos estradões
de terra larga.
Do nosso lado direito o mar e pequenas
zonas balneares entre os rochedos. No Pocinho um casal delicia-se na piscina
natural. Existem vários vestígios arquitetónicos relacionados não só com a
vinha, os currais, mas também com todo o trabalho vinícola associado:
Relheiras – trilhos que os carros
de bois sulcavam no basalto quando levavam as pipas para os portos.
Rola- pipas – rampas talhadas no
basalto para descarregar as pipas nos barcos.
Poços-de-maré – de onde se retirava
a água do mar para uso doméstico e na vitivinicultura.
E os tradicionais moinhos de
vento e as adegas.
Uma série de elementos conjugados
que fazem deste trilho uma maravilha arquitetónica, paisagística, cultural e
natural.
Por último, o silêncio que se usufrui.
A segunda maior ilha dos Açores em
área, mas apenas com 15 000 habitantes, tendo uma densidade populacional
muito baixa. Mar, montanha, currais negros, tufos verdes densos a despontar de
alguns currais abandonados e dos morros. Ouve-se o som do
mar e dos pássaros. Uma experiência quase que religiosa.
Afastamos-nos do mar apenas para
contornar o monte, entre a zona balnear da Laja das Rosas e o Pocinho. Uma
subida com alguma inclinação. Para voltar a ficar novamente junto da costa.
Regressamos fazendo o caminho
inverso até ao carro, desmontamos as bicicletas e fomos almoçar à Madalena, ao
restaurante/tasca o Petisca. Regalamos-nos com
um prato de Iscas de Atum divinais. Bem precisamos de repor energias, de tarde teríamos
um trilho mais duro: Os Mistérios do Sul do Pico.
Eis as fotos.
Acesso ao barco Gilberto Mariano |
Adega na Criação Velha |
Moinho tradicional |
Os currais |
Uma das extremidades do trilho. Porto do Calhau |
Há umas relheiras por aqui |
As iscas de atum, tasca o Petisca, Madalena. |
Sem comentários:
Enviar um comentário