segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Vinhas da Criação Velha (PR5 PICO)


Como já referi numa outra entrada, não é fácil conciliar os barcos com os autocarros. Ambos são pouco frequentes e torna-se complicado combinar os  horários de modo a nos deslocarmos  satisfatoriamente dentro da ilha, visitar o que queremos e regressar a horas decentes à base. Neste caso ao Faial.
A melhor solução  foi apanhar o barco das 7.30, Horta – Madalena, e regressar no das 22.00h, de forma a levarmos o carro e neste as bicicletas.
Tínhamos dois percursos pedestres em mente para realizar na ilha do Pico, ambos lineares. Os mistérios do sul do Pico e as Vinhas da Criação velha, assim faríamos os trilhos pedalando e não precisaríamos de apoio logístico no fim do trajeto para nos trazer de volta à viatura. Faríamos tudo por conta própria, em autonomia e conhecendo num só dia, duas pequenas rotas picoenses.
O Gilberto Mariano é o navio que liga as ilhas do Faial, Pico e São Jorge, as ilhas do triângulo. Da Horta à Madalena são 30 minutos. O barco é moderno, confortável e com algumas comodidades de um pequeno cruzeiro que incluem  bar e televisão.
À entrada da Madalena cruzamos os ilhéus com os nomes curiosos de "em pé" e "deitado". Este último, devido à erosão provocada pelo mar, apresenta uma grande fenda que, dependendo da imaginação de quem o olha, se parece com um golfinho ou com a virgem Maria.
Após o desembarque no novo terminal da Madalena, um edifício que escondeu a anterior vista desafogada para o Faial, e do pequeno almoço num snack-bar local, deslocamo-nos para a zona da Criação Velha, logo a seguir à Madalena, para dar início ao nosso trilho e aventura picoense. Uma das bicicletas estava com um furo, problema rapidamente resolvido numa oficina local.
O trilho linear desenvolve-se entre a Areia Larga, ainda dentro da vila da Madalena e o Porto do Calhau, já depois da Criação Velha. As informações detalhadas estão aqui, no maravilhoso site, não me canso de o repetir, da Azores Trails. Nível fácil, 7 km de extensão.
Iniciámo-lo um pouco depois da Areia Larga, na casa solarenga que se vê na foto.


Seguimos pela costa sul do pico em direção ao Porto do Calhau, atravessando as vinhas da Criação Velha.  Os pequenos currais construídos com basalto, se colocados em linha reta teriam um total de muitos milhares de quilómetros. Um trabalho laborioso de muitos séculos, artístico e cultural, que valeu a atribuição de património da humanidade às vinhas do Pico. A terra é dura, vermelha e quase sempre plana. É uma maravilha pedalar entre as vinhas e por vezes observar as nuvens a destapar o cume da montanha, magnânima e imponente. Sua Majestade, o Pico.
Entre os currais as adegas recuperadas, hoje maioritariamente locais de residência temporária e de veraneio, alugadas a turistas e transformadas em Alojamento Local. De bicicleta nem sempre é possível seguir os trilhos à risca, é comum o caminho de pé-posto, muito estreito e irregular entre os muros das vinhas. A alternativa é continuar pelos estradões de terra larga.
Do nosso lado direito o mar e pequenas zonas balneares entre os rochedos. No Pocinho um casal delicia-se na piscina natural. Existem vários vestígios arquitetónicos relacionados não só com a vinha, os currais, mas também com todo o trabalho vinícola associado:
Relheiras – trilhos que os carros de bois sulcavam no basalto quando levavam as pipas para os portos.
Rola- pipas – rampas talhadas no basalto para descarregar as pipas nos barcos.
Poços-de-maré – de onde se retirava a água do mar para uso doméstico e na vitivinicultura.
E os tradicionais moinhos de vento e as adegas.
Uma série de elementos conjugados que fazem deste trilho uma maravilha arquitetónica, paisagística, cultural e natural.
Por último, o silêncio que se usufrui.   A segunda maior ilha dos Açores em área, mas apenas com 15 000 habitantes, tendo uma densidade populacional muito baixa. Mar, montanha, currais negros, tufos verdes densos a despontar de alguns currais abandonados e dos morros. Ouve-se o som do mar e dos pássaros. Uma experiência quase que religiosa.
Afastamos-nos do mar apenas para contornar o monte, entre a zona balnear da Laja das Rosas e o Pocinho. Uma subida com alguma inclinação. Para voltar a ficar novamente junto da costa.
Regressamos fazendo o caminho inverso até ao carro, desmontamos as bicicletas e fomos almoçar à Madalena, ao restaurante/tasca o Petisca.  Regalamos-nos com um prato de Iscas de Atum divinais. Bem precisamos de repor energias, de tarde teríamos um trilho mais duro: Os Mistérios do Sul do Pico.
Eis as fotos.
Acesso ao barco Gilberto Mariano
Adega na Criação Velha
Moinho tradicional

Os currais





Uma das extremidades do trilho. Porto do Calhau




Há umas relheiras por aqui

As iscas de atum, tasca o Petisca, Madalena.  

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