quarta-feira, 1 de maio de 2024

Torreira, Entre a Ria e o Mar

 

Bateira da ria

O título lembra um folheto turístico.  É a realidade e fica-lhe bem:  A Torreira, entre a Ria e o Mar.

A exposição de miniaturas de barcos tradicionais da ria de Aveiro e de outros locais do país construídas pelo artista Murtoseiro António Guerra decorre no Estaleiro Museu do Monte Branco. No salão, pequenos descritores relatam a importância económica e social dos diferentes tipos de barcos que percorriam os canais numa azáfama que hoje dificilmente se imagina. Cada estaleiro tinha o seu mestre,  respetivos carpinteiros, pintores e calafates. Cada tipo de barco  o seu propósito: os mercantéis transportavam mercadorias diversas; os bateis,  sal, e os moliceiros, os mais emblemáticos, dedicavam-se à recolha do moliço, fertilizante abundante nas águas da ria. De Mira a Águeda, de Vagos a Ovar, da Murtosa a Ílhavo, os barcos percorriam os canais, quais autoestradas do passado, ligando populações interdependentes dos produtos que vinham dos  vizinhos, entreajudadas entre si, numa economia de subsistência. Considerada primitiva, de acordo com os padrões atuais,  durou séculos. Modelo cíclico e inesgotável,  graças às técnicas artesanais,  agrícolas e piscatórias sustentáveis. Não era necessário importar energia de locais distantes. A ria e as suas populações bastavam-se a si próprias.  A raça marinhoa, o vento, o movimento das marés e das correntes, a abundância de água doce e salgada, permitiam uma economia diversificada, renovando-se constantemente.  Terra pródiga e bela. Única no país.

Atualmente, um único artesão ocupa-se de todas as etapas do fabrico do barco, cuja finalidade é essencialmente turística.

Lá fora, o céu entrecortado por momentos de chuva e de sol confere ao meio da tarde tonalidades difusas de luz. Tiram-se fotografias incríveis de uma nitidez pouco comum, mesmo com a  câmara de um vulgar telemóvel.

Do outro lado do cordão dunar a uns meros 300 metros estende-se o longo areal que vai de São Jacinto a Espinho. Não é por acaso que lhe chamam “Costa Nova”, uma jovem criança na história geológica do planeta. O que são 1000 anos em 4500 milhões de anos? Um segundo apenas. Por este motivo, uma costa tão frágil e instável, ameaçada pelas marés e a subida do nível do mar, cujo ponto mais alto fica poucos metros acima.  Linha reta de dunas e praia a perder de vista.

As montanhas de Arouca ao longe recortam o horizonte, vigilantes. Dos sedimentos transportados pelos diversos rios que delas correm em direção ao Atlântico  nasceu este intrincado mosaico de água e terra.




Cada mestre artesão tinha o seu símbolo identificativo




Moliceiro










Sem comentários: