domingo, 19 de maio de 2024

Sobre a arte, os artesãos e os monumentos (numa perspetiva marxista)

 

Sé do Porto

O artesão pré-capitalista é um mestre na sua arte, conhece as técnicas e todas as etapas do processo de fabrico do objeto. É reconhecido profissionalmente. O trabalho dá-lhe sentido de pertença a uma coletividade,  realiza-o socialmente.

O operário pós-capitalista é um “apêndice da máquina” (Raquel Varela, Breve História de Portugal, pág. 103), realiza um trabalho parcelado, desconhece o processo global de fabrico. É mais uma peça de uma engrenagem sobre a qual não exerce qualquer controlo. O trabalho é alienante.

A máquina torna-o mais ignorante do que ao artesão,  substituiu-o na realização do trabalho. O operário é um “ativo” controlado por ela, propriedade do patrão,  mais facilmente chantageado com o despedimento e os baixos salários.

A invenção da máquina desempenhou uma função idêntica à invenção do computador e da Inteligência Artificial. Ambos são meios sofisticados de substituir o Homem na sua capacidade de realizar tarefas e de pensar. Primeiro, deu-se a alienação do trabalho e, agora, corre-se o risco de se alienar o pensamento.

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As catedrais medievais da Europa Ocidental são o resultado do trabalho coletivo de grémios de artesãos, significativo e socialmente reconhecido, que  contribuiu para a construção de obras arquitetónicas magnificentes.

Sé do Porto

A economia de mercado teve os seus primórdios nas cidades estado italianas e nelas ocorreram as transformações artísticas e culturais subsequentes que iriam  influenciar a arte ocidental,  colocando o “Homem no centro do mundo”.  O individualismo, o primado do indivíduo sobre a coletividade, fetiche da economia de mercado, teve, no movimento Romântico do século XIX, uma das suas mais importantes manifestações  estéticas e culturais. Surgiu logo após a revolução indústrial como reação à destruição dos ambientes naturais, valorizando a natureza e  o  Homem solitário, apartado dos seus contemporâneos, privilegiando as manifestações da sua personalidade, em detrimento da sociedade.

Na arquitetura das cidades deixaram de ser reconhecidas as obras coletivas, os monumentos passaram a ser identificados pela assinatura dos engenheiros e arquitetos que os conceberam. Gustave Eifell é o caso mais paradigmático em Portugal.

Ponte D. Luís, concebida por Eifell

Rua dos Mercadores
O artesão pré-capitalista é um mestre na sua arte, conhece as técnicas e todas as etapas do processo de fabrico do seu objeto.

Rua dos Caldeireiros, capela de Nossa Senhora da Silva 


Rua dos Guindais


Igreja de São Gonçalo


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